Publicado 23/07/2007 20:36 | Editado 04/03/2020 17:19
O presidente dos Democratas (DEM), deputado federal Rodrigo Maia (RJ), ao ser perguntado no começo deste ano sobre a possibilidade do partido lançar o atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, à reeleição, disse que o correligionário deveria se viabilizar para a disputa, caso contrário a composição com o PSDB seria inevitável. Talvez tenha sido esse mesmo raciocínio do atual governador José Serra sobre o seu primeiro aliado na disputa paulistana.
A partir das pesquisas de opinião em que Kassab era pouco conhecido e a rejeição pessoal e de seu mandato estava acima das condições de se impor candidato, foram realizados intensos trabalhos de marketing político para alavancar a gestão cheia de dificuldades estruturais. Dois grandes movimentos foram lançados para a reversão do quadro negativo: a necessidade da administração ter uma marca de realização e exposição pública tanto do bom administrador, realizador de fatos positivos, quanto o chefe de governo, empenhado em dar resposta às adversidades políticas e administrativas.
O movimento de construir uma marca para o mandato tem como carro-chefe a lei da Cidade Limpa, que pode causar a médio e longo prazos, uma melhoria real na condição urbana da cidade. É um projeto de impacto que demonstra a capacidade de setores conservadores da sociedade em apresentar idéias realmente inovadoras, mesmo quando as propostas são carregadas de truculência ou ausência de transições compatíveis com o tempo de adaptações sociais.
Ações de impacto como a Cidade Limpa tendem a diminuir a visão mais crítica aos serviços que encontram sérias dificuldades sociais, como a educação, o transporte público e a saúde. No caso da saúde, o governo implantou as AMA’s, que até podem gerar novo resultado positivo imediato e a sensação de alívio ao atendimento público, contudo está muito longe de resolver a crônica situação de desamparo e dificuldades da imensa maioria da população de periferia.
Porém, está no segundo movimento estratégico a mudança do perfil político de Gilberto Kassab, absolutamente necessário para se impor como alternativa política para 2008. Na primeira tentativa de se colocar como sujeito enérgico, Kassab cometeu grave erro político ao se desentender com um trabalhador desempregado na periferia de São Paulo. O tempo ajudou o prefeito, com novos acontecimentos políticos e situação de embaraço de seus adversários diretos e indiretos (Alckmin com o caso do Metrô e Marta com o caos aéreo). Reorganizou sua agenda e refez sua relação com a imprensa, principalmente os programas paulistanos de TV. Os Democratas fizeram sua parte ao colocar a atual administração como vitrine de seu programa e propagandas partidárias. A Prefeitura lançou grande ofensiva em propagandas oficiais e o próprio prefeito atua em propagandas oficiosas sob o apoio complacente de apresentadores e programas de TV, principalmente nas apresentações do final da tarde e início da noite.
E parece que os dois movimentos, embora débeis na essência política, surtiram efeito para o atual estágio da disputa municipal, colocando o prefeito em condições de construir sua candidatura para reeleição. O resultado da pesquisa Datafolha coloca o atual prefeito no páreo e embaralha as composições futuras do campo conservador.
Quem ganha com o crescimento de Kassab, além do próprio pré-candidato, são os Democratas, o atual governador José Serra e outras candidaturas de oposição, em especial o PT. Tanto que há um acordo tácito entre a bancada petista e o governo municipal em que o primeiro não faz oposição acirrada a ponto de inviabilizar o atual prefeito e a administração busca tratar a bancada de oposição de forma mais ampla e complacente.
Quem perde com o crescimento do atual prefeito é o também pretendente Geraldo Alckmin (PSDB), que terá maior dificuldade em demover Kassab da disputa e, de quebra, pode inviabilizar uma aliança estratégica com o DEM e outros aliados. Pode ainda dividir o campo conservador na sucessão paulistana. Outros personagens políticos que perdem com a viabilidade de Kassab, são possíveis aliados de primeira hora de Alckmin, como o secretário estadual do Trabalho, Guilherme Afif Domingues, que pode figurar como possível vice e pretenso prefeito num futuro próximo.
Os movimentos estão sendo realizados por todas as forças políticas e a definição da consolidação ou desistências de candidaturas somente serão determinadas em meados do primeiro semestre de 2008. Até lá, os possíveis candidatos precisam se consolidar e/ou não tropeçarem nesta corrida de obstáculos que é a sucessão paulistana.
Rodrigo de Carvalho é secretário de Comunicação do PCdoB/SP