Professores de Pernambuco, em greve, avaliam impasse nas negociações

Os últimos oito anos afundaram a educação pública do Estado, qualificada como a pior do Brasil no índice de Educação Básica (IDEB), além do salário base que tem o menor valor de todo território nacional

Entre os dias 16 de março até 31 de maio, a direção do movimento se reuniu com o Governo do Estado de Pernambuco, mas os encontros não obtiveram sucesso. A resposta chegou depois, sem o reajuste desejado, e com outros pontos parcialmente atendidos. Agora, as diferentes forças políticas do movimento vivem um impasse: retornar ou não às atividades.


 


Antonieta Trindade é vice-presidente do Sintepe, membro da Corrente Sindical Classista e da comissão de negociação da greve. Em entrevista ao VERMELHO ela faz um balanço da paralização, fala das dificuldades do movimento e revela os bastidores das negociações.


 


1- Que momento culminou na greve?


 


R – Olha, a categoria já vinha desgastada há tempos. A insatisfação dos professores com o tratamento recebido pelos governos estaduais anteriores é muito grande. Com a recente eleição de um novo governo do campo da esquerda foi gerada uma expectativa de melhorias por parte da categoria. Em maio o governo do Estado desmarcou uma reunião de negociação provocando, então, a deflagração da greve.


 


2 – O reajuste exigido é de 16%, qual a proposta apresentada pelo Governo do Estado?


 


R – Nas primeiras conversas o Governo revelou que seria impossível trabalhar com qualquer proposta que ultrapassasse o valor de 26 milhões anuais. A partir disso a comissão de negociação procurou construiu um consenso entre as partes. A proposta foi criada mas, mesmo com o governo tendo passado a ceder boa parte dos demais itens da pauta, uma parcela do movimento não acatou,. Quando a comissão de negociação apresentou o documento, a assembléia desaprovou e definiu permanecer com a paralisação. Nessa proposta continha suspensão da greve, cumprimento do início do período de recesso e, em seguida, retomada das negociações.


 


3 – A partir de qual momento a greve evoluiu para o impasse?


 


R – Quando uma parcela do movimento sindical começou a acreditar que a continuidade da greve daria avanços nas negociações. Isso não vai acontecer! O Governo do Estado deixou claro que nenhum ponto a mais irá ser atendido devido ao limite dos 26 milhões anuais disponíveis para folha de pagamento. Tanto que desde o dia que a comissão de negociação levou a proposta de consenso e a assembléia desaprovou que as negociações estão paralisadas.


 


4 – O que a Corrente Sindical Classista (CSC) sugere para dar fim ao impasse?


 


R – O ambiente de assembléia é difícil. Infelizmente o esquerdismo de alguns tem falado mais alto. O discurso é fácil de colar. E agora temos até forças retrógradas ligadas aos governos anteriores atuando e tentando influenciar. É necessário que as forças políticas mais avançadas da categoria tenham determinação nesse momento que exige compreensão do quadro. Além de disposição e maturidade das demais forças. Agora, lógico que se por um lado estamos tentando combater propostas de radicalização do movimento, por outro, é necessário uma sinalização por parte do Governo do Estado para tentarmos construir uma saída política coletiva.


 


5 – O movimento grevista acusa o Governo do Estado de intransigência e de impor o término da greve através de ameaças, intimidações e decreto governamental. Qual a opinião da CSC?


 


Houve, de fato, um mal estar das partes desde a reunião desmarcada e, agora, com algumas posições tomadas por parte do governo. O ponto já havia sido cortado e hoje a greve foi considerada ilegal pela justiça. Recebemos uma notificação que, caso a categoria não retorne ao trabalho nesta segunda-feira (23) o sindicato terá que pagar R$10 mil de multa diária. Esta semana será como um termômetro da greve para nós. O recesso dos professores termina e as medidas punitivas do estado já estarão em vigor. Vamos continuar na greve, mas com a tarefa de nos posicionarmos contra a parcela inconseqüente do movimento e contra as dificuldades impostas pelo Governo do Estado. É possível conseguir um ponto de equilíbrio.


 


Do Recife,
Manuella Bezerra de Melo