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Metalúrgicos do RS se mobilizam e patrões acionam a Justiça

A exemplo do que ocorreu na Randon no início da semana, a empresa Metalcorte também apelou ao judiciário para impedir os trabalhadores de se mobilizarem no dissídio. Apesar da tentativa, a empresa não conseguiu evitar a paralisação do serão convocado p

Desde a madrugada do sábado o sindicato iniciou mobilização em frente a empresa Metalcorte, do bairro São Ciro. O objetivo era paralisar o serão convocado pela empresa. Segundo as informações que chegaram na entidade desde a quinta-feira (26), os trabalhadores estavam sendo pressionados para participarem do serão. A Metalcorte convocou 100% dos funcionários, para trabalharem durante todo o final de semana.


 


Por volta das 4h30 um grupo de sindicalistas reuniu-se com os trabalhadores na porta da empresa e após assembléia os cerca de 400 funcionários decidiram não entrar para trabalhar e retornaram às suas casas. Os sindicalistas continuaram mobilizados para a troca de turno que ocorreria na parte da tarde. Neste intervalo, por volta das 13h30, a justiça concedeu Interdito Proibitório, determinando que o sindicato não poderia permanecer a uma distância inferior a cem metros da empresa, sob pena de multa diária de R$ 20 mil. O despacho foi assinado pelo Juíz de plantão da 4ª região do Trabalho, Adair João Magnaguagno.


 


Como o sindicato ainda não havia sido oficialmente notificado, os sindicalistas foram novamente na empresa para assembléia com os trabalhadores que iriam iniciar trabalho às 16h. Novamente os funcionários (cerca de 50) decidiram não entrar e foram embora. Somente após isso que chegou o oficial de justiça tentando fazer cumprir a decisão judicial. Surpreendeu os sindicalistas a quantidade de soldados da Brigada Militar que o acompanha. Eram cerca de 50 homens. Segundo relatos dos dirigentes do sindicato, a atitude dos policiais era de intimidação e ameaça de prisão caso os trabalhadores permanecessem no local. O comandante da BM, que dirigia ação, chegou a dar voz de prisão aos sindicalistas. A situação só foi normalizada com a presença a advogada do Sindicato, Maísa Aran.


 


Patrões em desespero


 


''Achamos esta atitude da empresa totalmente condenável. É uma atitude autoritária, que não combina com a democracia. Quer dizer que agora o trabalhador não pode nem mais lutar pelo seu salário?'', sentenciou o presidente do sindicato, Assis Melo.


 


Na avaliação do sindicato esta medida que tenta privar os trabalhadores de se mobilizarem reflete a mesma atitude que os patrões estão tendo na mesa de negociação há mais de 60 dias: postura de instransigência. Até agora foram mais de 10 reuniões sem avanços significativos.


 


Segundo o presidente do sindicato, Assis Melo, desde o início da campanha salarial deste ano, a entidade procurou trabalhar intensamente os argumentos que sustentam as principais reivindicações da categoria, informando a sociedade e debatendo com os trabalhadores. Ainda, segundo ele, os trabalhadores sempre deixaram claro que querem o acordo, desde que ele reflita valorização do trabalho e ampliação de direitos. ''De lá pra cá estamos conseguindo amplo apoio da sociedade e ampliação da mobilização da categoria metalúrgica, pois as nossas bandeiras são justas, e importantes para a comunidade. Os patrões estão tratando a campanha salarial como uma questão política. Não querem dar nada para tentar desmobilizar a campanha e o sindicato''. O presidente complementou dizendo que esta postura dos empresários é ganaciosa, já que o setor apresenta resultados excelentes, que justificam as demandas apresentadas pelos trabalhadores.


 


Estado de greve


 


A campanha salarial dos metalúrgicos atingiu marco no dia 23, quando foi realizada assembléia na frente da sede do sindicato, com a presença de mais de 5 mil trabalhadores. Na oportunidade foi rejeitada a proposta patronal(5,2% de reajuste e não atendimento às demais reivindicações), considerada rebaixada pelos trabalhadores e aprovado o ''estado de greve''.


 


A convocação do serão na Metalcorte comprova o momento de alta produção vivido pelas indústrias metalúrgicas locais. Segundo análise economica realizada pelo sindicato o momento é de grande demanda, com volume alto de encomendas que as industrias precisam produzir. ''Este cenário de muita produção está ampliando a super exploração da categoria por parte dos patrões. Nos últimos dias as empresas estão exigindo que os trabalhadores façam serão até a madrugada, muitos deles chegam a permanecer por mais de 14 horas no local de trabalho'', é o que diz o vice-presidente do sindicato, Leandro Velho.


 


Ainda, segundo ele, a situação está revoltando os trabalhadores, já que o debate da campanha salarial está ocorrendo neste momento, e os empresários não demonstram nenhuma vontade de atender às reivindicações dos trabalhadores. ''O que há dentro das empresas é muita pressão para aumentar a produção, mas na hora de valorizar o trabalho a resposta é não e não'', complementou Velho.


 


A perspectiva é de que a mobilização vai aumentar na próxima semana. Para os sindicalistas, a postura antidemocrática dos patrões só tende a indignar ainda mais os trabalhadores, bem como ampliar o apoio da população à campanha dos metalúrgicos. ''Os empresários optaram pelo isolamento e pela truculência. Achamos que não é assim que vamos chegar a um acordo. Isso só prejudica o processo de negociação'', avalia Melo.



Na segunda-feira (23), data da assembléia geral, a empresa Randon também apelou para o Interdito. Além disso contratou dezenas de ''jagunços'' para impedir a participação dos trabalhadores na assembléia, obrigando-os a entrar na empresa. Mesmo assim a representação de trabalhadores da Randon na assembléia foi significativa.


 


O sindicato ingressou com recurso para anular os interditos impetrados pelas empresas.


 



De Caxias do Sul
Clomar Porto e Diva Rodrigues