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Para Lembo, “Cansei” é “termo de dondocas enfadadas”

Domingo, 11 da manhã. Com duas mil pessoas, a passeata convocada pelos movimentos “Cansei” e “Cria” (Cidadão, Responsável, Informado e Atuante) chega à avenida 23 de Maio. O coro “Fora Lula” já deu o tom à caminhada. A alguns quilômetros dali, abraçado e

O ex-governador, transformado em consciência crítica de sua classe depois de acusar a “elite branca e perversa de São Paulo”, reconhece um “clima de colapso nos serviços públicos”. Mas culpa “a reestruturação dos serviços públicos brasileiros”, que a seu ver “partiu de uma cópia servil do modelo norte-americano”, o que aprofundou a depauperização.



A colunista Mônica Bergamo informa na sua coluna de hoje na Folha de S.Paulo: por entenderem que o “Cansei” tem slogans que podem levar a uma leitura política e partidária, as redes de televisão Globo e Bandeirantes não cederão espaço publicitário gratuito ao movimento. Por enquanto, a revista IstoÉ cedeu espaço.



Lembo situa o “Cansei” geográfica, social e nominalmente: “É um movimento nascido em Campos do Jordão. O empresário João Doria Jr., ao que li e acompanhei nas últimas semanas, há pouco dedicava-se a um desfile de cãezinhos de madames em Campos do Jordão.”



Leia a entrevista:


Terra Magazine – Na noite da última sexta-feira, durante o casamento de Sophia – filha do ex-governador Geraldo Alckmin de quem o sr. foi vice -, o sr. disse ao repórter José Alberto Bombig, da Folha, que o movimento conhecido como “Cansei”, nascido em protesto contra a crise no setor aéreo, a violência e a corrupção, é um movimento de “um pequeno segmento da elite branca” e nascido em Campos do Jordão. O que o sr. quer dizer com isso e o que o leva a ter essa convicção?


Cláudio Lembo – O próprio ato de nascimento do movimento. O “Cansei” nasce conduzido por figuras conhecidas que sempre possuíram e possuem uma visão elitista do país e da sociedade.


P – A quem ou ao quê o sr. se refere?


R – Por exemplo, ao sr. João Doria Jr., que só trata com os grandes empresários do Brasil, e que, até onde sei, só se relaciona com o topo da sociedade. Suas ações e relações estão sempre nesse nível, que representa uma parcela ínfima do Brasil.


P – Mas, a sua convicção se forma apenas através das suas informações, do seu feeling?


R – Meu ou de qualquer um. Basta ver a forma, a expressão, o verbo utilizado para dar sentido ao movimento. “Cansei” tem um sentido muito próprio.


P – Que “sentido próprio” é este?


R – “Cansei” é um termo muito usado por dondocas enfadadas em algum momento das vidas enfadonhas que vivem.


P – O sr. tem, certamente, a consciência de que nesses movimentos, o “Cansei” ou o “Cria”, há a participação de familiares de vítimas dos acidentes aéreos?


R – Tenho consciência e isso me deixa mais triste ainda.


P – Por quê?


R – Porque é a utilização de um movimento natural e de motivos nobres por movimentos e atividades com claro objetivo político ainda que tentem escondê-lo ou apesar de o negarem, e isso não é bom.


P – Não é bom por quê?


R – Não é bom porque as vítimas, os familiares, os acidentes comoveram o Brasil e produziram, inclusive na sociedade, uma dor imensa, enquanto o movimento de Campos do Jordão o que quer é ter espaço na mídia etc.


P – Por que Campos do Jordão?


R – Pela figura de um dos organizadores centrais, senão o principal, ao menos no início.


P – O que exatamente o sr. está querendo dizer?


R – O empresário João Doria Jr., ao que li e acompanhei nas últimas semanas, há pouco dedicava-se a um desfile de cãezinhos de madames em Campos do Jordão (N.R.: Foi o 6º Passeio de Cães de Campos do Jordão).
P – Mas o sr. não ignora que há motivos claros e justos para que pessoas protestem, se manifestem…


R – Claro que não. Mas, antes de qualquer coisa, é preciso deixar claros quais são os motivos, qual é a justeza deles, e não sair propositadamente atacando sem dizer exatamente o que se quer e a favor ou contra quem. Há motivos muito grandes, justos, e creio que há um clima, em várias camadas da sociedade, de colapso dos serviços públicos.


P – E por que esse clima de colapso? Culpa do governo?


R – É difícil dizer, assim de passagem. Falo de um clima, mas é claro que o motivo não é só esse. Isso vem de há muito.


P – Como e por quê?


R – A reestruturação dos serviços públicos brasileiros partiu de uma cópia servil do modelo norte-americano, ou por eles imposto, e não encontrou raízes no Brasil. Isso nos últimos 20 anos e se agravou nos últimos 10 anos muito profundamente.



P – Me dê exemplos do que o sr. está dizendo.



R – Pois não: as agências como a Anac, Anatel, ANP, e ONGs. Nos Estados Unidos as agências tinham e têm uma cultura ambiente favorável e as ONGs, em grande parte, nasceram para fiscalizar o governo. No Brasil as agências apenas servem para abrigar os interesses de empresas privadas, e ONGs, em sua maior parte, são apêndices de governos.



Com informações do Terra Magazine