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Cesar Maia, vaias, a ''teoria das pedras'' e o seu erro

O ''ex-blog'' de Cesar Maia merece ser lido. É repetitivo, estridente, e não tem escrúpulos em adaptar os fatos aos desejos e interesses do prefeito carioca, mas às vezes põe por escrito aquilo que outros porta-vozes da oposição pensam e fazem mas não

A ''teoria das pedras no lago'' é de um robusto elitismo. Parte do princípio de que ''a opinião pública se forma por contaminação'', dos mais ricos e escolarizados para os mais pobres e incultos. ''Um fato forte funciona no Brasil como uma pedra que se joga na água de um lago onde os círculos concêntricos vão se abrindo, vão chegando às margens, ou seja, aos segmentos com menos informação'', assevera.



Por que o orgulho com a vaia no Pan?



''Nesta conjuntura -o efeito -o Rei Está Nu- foi precipitado pelas vaias do Maracanã no dia 13 de julho. Estas funcionaram como uma pedra jogada na água, no meio de um lago'', diz o prefeito. Não se sabe se a ponta de orgulho por esse pioneirismo se deve ao fato do episódio ter acontecido na Cidade Maravilhosa. Ou, talvez, a um possível envolvimento de Cesar Maia com o ensaio da vaia, gravado em vídeo na noite do dia 11 e disponível no Youtube (Clique aqui para ver Vídeo mostra ''ensaio'' de vaia a Lula às vésperas do Pan).



O ex-presidenciável do PFL, porém, acha – e aqui o texto do blog começa a ficar interessante – que uma pedra não basta. ''Se novas pedras não forem jogadas no lago os círculos vão se tornando mais tênues, com menor poder de contaminação da opinião pública de menor renda e menor escolaridade'', adverte o blog. Chega a afirmar que ''esse processo no Brasil leva uns 90 dias''.



Um semestre para ''contaminar a opinião''



A conclusão do inventor dos ''factóides'' é quase uma conclamação: ''Cabe à oposição -em todos os pontos cardeais- jogar novas pedras e garantir a intensidade do movimento dos círculos concêntricos. Será um semestre de ação continuada, que contaminará a opinião e reverterá o quadro de opinião pública'', acredita Cesar Maia.



E ele começa por fazer a sua parte. O mesmo blog, no mesmo dia, assevera que ''Lula só pensa… Naquilo! Freud explica! Tem até acordado à noite ouvindo vaias!''; e ''Vaias por todos os lados! Lula entra na clandestinidade!'' – assim mesmo, com cinco pontos de exclamação, no duvidoso estilo de certos blogueiros.



Onde está o furo da teoria do prefeito



Ocorre que a ''teoria das pedras no lago'' peca pelo seu ponto de partida. Cesar Maia, que foi de esquerda em sua já distante juventude, poderia percebê-lo caso se dispusesse a ir mais fundo que a superfície do lago da sociedade brasileira. Nesse caso, descobriria que os segmentos sociais apenas secundariamente se movimentam a partir do que lhes servem nos meios de comunicação. Basicamente, fundamentalmente, eles se posicionam a partir dos seus interesses reais. Para usar uma frase célebre, ''o ser social determina a consciência social'': os homens vão vivem como pensam, mas pensam como vivem.



A trajetória política recente do Brasil oferece um exemplo quase clássico desta verdade. Não foram 90 nem 180 dias, mas 17 longos meses de apedrejamento do lago, entre o início da crise do ''mensalão'' e a reeleição consagradora de Lula, justamente pelas camadas sociais dos trabalhadores assalariados para baixo.



Estes votaram em Lula não pelo que viram na TV mas essencialmente a partir de um cálculo realista e pragmático, onde pesaram fatores como acordos salariais, postos de trabalho, preço do feijão com arroz e do cimento. Votaram como seres sociais, nas profundezas do grande e conflitivo lago da sociedade brasileira. Na superfície, choviam pedras; mas só produziram marolas, ainda que se deva responder a cada uma delas. E por isso Cesar Maia se morde de raiva, apesar de todos os pontos de exclamação do seu blog.



Para o internauta mais interessado na tribuna virtual cesarmaiana (que não exibe seu conteúdo na rede, apenas o envia por e-mail), transcrevo a íntegra do texto de hoje:




''As pedras no lado e os círculos concêntricos''



''1. Este Ex-Blog já comentou algumas vezes que a opinião pública se forma por contaminação e na base da sociedade. Esse processo é mais rápido quando toda a sociedade tem acesso a uma mesma informação publicada pela imprensa. No Brasil, em função dos níveis de renda e escolaridade o processo é mais lento.



2. Sempre que há uma notícia de grande destaque, quando os institutos de pesquisa perguntam na semana seguinte se o eleitor havia tomado conhecimento do fato, uma proporção, sempre maior do que 25% diz que não sabia.



3. Um fato forte funciona no Brasil como uma pedra que se joga na água de um lago onde os círculos concêntricos vão se abrindo, vão chegando às margens, ou seja, aos segmentos com menos informação.



4. Nesta conjuntura -o efeito -o Rei Está Nu- foi precipitado pelas vaias do Maracanã no dia 13 de julho. Estas funcionaram como uma pedra jogada na água, no meio de um lago. O tamanho da pedra aumenta o diâmetro que se atinge. Mas sempre que se lança outras pedras na direção das margens -nos quatro pontos cardeais que envolvem a canoa de onde foi lançada a primeira pedra- os círculos concêntricos são sustentáveis, recobram intensidade e garantidamente chegam às margens, ou seja, aos que tem menos informação.



5. Esse processo no Brasil leva uns 90 dias. Mas se novas pedras não forem jogadas no lago os círculos vão se tornando mais tênues, com menor poder de contaminação da opinião pública de menor renda e menor escolaridade, que é exatamente o público alvo do governo.



6. Quando um boxeador acerta um golpe, imediatamente ele dispara novos golpes para fragilizar seu adversário. Em 2005 a oposição teve isso em suas mão. Mas parou com as pedras e baixou a guarda. Isso que em 90 dias a informação havia chegado a todos e a popularidade de Lula naufragava.



7. Cabe à oposição -em todos os pontos cardeais- jogar novas pedras e garantir a intensidade do movimento dos círculos concêntricos. Será um semestre de ação continuada, que contaminará a opinião e reverterá o quadro de opinião pública.