CPI divulgará caixa-preta após vazamento sobre falha humana
A CPI da Crise Aérea aprovou na manhã desta quarta-feira (1º) a divulgação dos dados da caixa-preta do Airbus da TAM acidentado no dia 17. Os dados, mantidos lacrados e em sigilo, vazaram para a imprensa e levaram a Folha de S.Paulo a publicar ho
Publicado 01/08/2007 13:20
A CPI decidiu que cópias da transcrição da conversa, obtida após a análise das caixas-pretas da aeronave, devem ser passadas simultaneamente para os parlamentares e para a imprensa. A análise dos dados completos das caixas-pretas, porém, será feita em sessão reservada.
Deputado quer inquérito militar
Desde terça-feira (31) a CPI está com os dados das caixas-pretas enviados pelo pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Mas eles foram lacrados e mantidos em um cofre da Câmara até o início da sessão desta quarta-feira.
O presidente da CPI, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que vai pedir à Aeronáutica a instauração de um inquérito militar para apurar o vazamento das informações. Estes começaram já nos Estados Unidos, onde as caixas-pretas foram peritadas, levando a revista Veja a esposar em sua capa deste fim de semana a hipótese de falha humana.
''Se houve vazamento não foi aqui'', disse Cunha em sessão na Câmara. O brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Cenipa, também descartou um vazamento de dados via Congresso porque seria necessário um software específico para decodificar os dados.
Hipótese contraria torcida da mídia
A Folha de S.Paulo publicou nesta quarta-feira trechos da transcrição do diálogo na cabine dos pilotos e afirmou ter tido acesso aos dados das caixas-pretas. O texto reforça a versão de que o computador do avião teria registrado falha na operação do manete, a alavanca de aceleração das turbinas, que estaria em posição incorreta no momento do pouso. Segundo a reportagem, os dados ''indicam provável erro humano, que remete a acidentes parecidos com o mesmo modelo, mas não é possível descartar uma eventual pane no computador''.
A hipótese contraria o desejo editorial expresso da grande mídia. Este desde os primeiros minutos de cobertura do acidente responsabilizou o governo federal – chamado de ''assassino'' com ''as mãos sujas de sangue'' –, pois, supostamente, o acidente que custou 199 vidas teria se devido a más condições da pista do Aeroporto de Congonhas.
TAM impõe até 6 horas-extras num dia
Conforme avança o debate sobre as causas do acidente, a opinião pública fica sabendo de outros fatores de risco na aviação brasileira, e particularmente na TAM. Dirigentes do Sindicato Nacional dos Aeronautas e do Sindicato Nacional dos Aeroviários denunciaram nesta terça-feira (31) as políticas trabalhista e de manutenção de aeronaves da empresa.
A presidente do Sindicato dos Aeronautas (formado por comissários e pilotos), Graziella Baggio, disse que determinadas tripulações chegam a extrapolar em até seis horas a carga horária, o que significa dobrar a jornada. “Isso é extremamente preocupante, porque a regulamentação é exatamente o que garante a segurança de vôo. Nós temos inúmeras denúncias em relação à empresa [TAM], já encaminhadas ao Ministério Público do Trabalho. Tentamos com a empresa a regularização de várias situações, mas não foram colocadas em prática. Agora cabe a nós aguardar que a Justiça trabalhista tome as iniciativas necessárias”, disse.
A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) determina que a jornada dos trabalhadores do setor aéreo é de apenas seis horas, pelo nível de estresse a que são submetidos. Por isso, a extensão de horas de trabalho para essa categoria é proibida. A determinação estaria sendo desrespeitada pela TAM.
Ritmo de trabalho desumano e estressante
O tempo curto para que os mecânicos façam trabalho de manutenção também é criticada pelo presidente do Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre (formado pelo pessoal de terra, incluindo atendentes e mecânicos), Celso Klafke. Segundo ele, a TAM dá apenas 15 minutos para fazer a inspeção em quase 100 itens das aeronaves, quando elas pousam. “Qualquer um sabe que isso é pouco tempo. Alguma coisa eles [os mecânicos] não vão fazer nesses 15 minutos”.
Klafke ressaltou que os mecânicos são capacitados, mas que o tempo ideal para a manutenção em solo é de 30 a 45 minutos: “O ritmo a que eles são submetidos é desumano – muita pressão, muita responsabilidade, e isso ocasiona problemas''.
Graziella afirma que há uma indefinição na escala de vôo dos tripulantes, que têm suas vidas prejudicadas, pois não conseguem programar compromissos, o que gera grande carga de tensão: “Esse é um dos maiores fatores de estresse, pois [o trabalhador] não pode garantir o que se vai fazer durante a folga. Isso interfere na saúde e na qualidade do trabalho”. A sindicalista também defendeu a criação de uma agência independente de investigação de acidentes, conforme projeto enviado ao Ministério da Defesa, em 2003.]
Da redação, com agências