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CPI divulgará caixa-preta após vazamento sobre falha humana

A CPI da Crise Aérea aprovou na manhã desta quarta-feira (1º) a divulgação dos dados da caixa-preta do Airbus da TAM acidentado no dia 17. Os dados, mantidos lacrados e em sigilo, vazaram para a imprensa e levaram a Folha de S.Paulo a publicar ho

A CPI decidiu que cópias da transcrição da conversa, obtida após a análise das caixas-pretas da aeronave, devem ser passadas simultaneamente para os parlamentares e para a imprensa. A análise dos dados completos das caixas-pretas, porém, será feita em sessão reservada.



Deputado quer inquérito militar



Desde terça-feira (31) a CPI está com os dados das caixas-pretas enviados pelo pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Mas eles foram lacrados e mantidos em um cofre da Câmara até o início da sessão desta quarta-feira.



O presidente da CPI, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que vai pedir à Aeronáutica a instauração de um inquérito militar para apurar o vazamento das informações. Estes começaram já nos Estados Unidos, onde as caixas-pretas foram peritadas, levando a revista Veja a esposar em sua capa deste fim de semana a hipótese de falha humana.



''Se houve vazamento não foi aqui'', disse Cunha em sessão na Câmara. O brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Cenipa, também descartou um vazamento de dados via Congresso porque seria necessário um software específico para decodificar os dados.



Hipótese contraria torcida da mídia



Folha de S.Paulo publicou nesta quarta-feira trechos da transcrição do diálogo na cabine dos pilotos e afirmou ter tido acesso aos dados das caixas-pretas. O texto reforça a versão de que o computador do avião teria registrado falha na operação do manete, a alavanca de aceleração das turbinas, que estaria em posição incorreta no momento do pouso. Segundo a reportagem, os dados ''indicam provável erro humano, que remete a acidentes parecidos com o mesmo modelo, mas não é possível descartar uma eventual pane no computador''.



A hipótese contraria o desejo editorial expresso da grande mídia. Este desde os primeiros minutos de cobertura do acidente responsabilizou o governo federal – chamado de ''assassino'' com ''as mãos sujas de sangue'' –, pois, supostamente, o acidente que custou 199 vidas teria se devido a más condições da pista do Aeroporto de Congonhas.



TAM impõe até 6 horas-extras num dia



Conforme avança o debate sobre as causas do acidente, a opinião pública fica sabendo de outros fatores de risco na aviação brasileira, e particularmente na TAM. Dirigentes do Sindicato Nacional dos Aeronautas e do Sindicato Nacional dos Aeroviários denunciaram nesta terça-feira (31) as políticas trabalhista e de manutenção de aeronaves da empresa.



A presidente do Sindicato dos Aeronautas (formado por comissários e pilotos), Graziella Baggio, disse que determinadas tripulações chegam a extrapolar em até seis horas a carga horária, o que significa dobrar a jornada. “Isso é extremamente preocupante, porque a regulamentação é exatamente o que garante a segurança de vôo. Nós temos inúmeras denúncias em relação à empresa [TAM], já encaminhadas ao Ministério Público do Trabalho. Tentamos com a empresa a regularização de várias situações, mas não foram colocadas em prática. Agora cabe a nós aguardar que a Justiça trabalhista tome as iniciativas necessárias”, disse.



A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) determina que a jornada dos trabalhadores do setor aéreo é de apenas seis horas, pelo nível de estresse a que são submetidos. Por isso, a extensão de horas de trabalho para essa categoria é proibida. A determinação estaria sendo desrespeitada pela TAM.



Ritmo de trabalho desumano e estressante



O tempo curto para que os mecânicos façam trabalho de manutenção também é criticada pelo presidente do Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre (formado pelo pessoal de terra, incluindo atendentes e mecânicos), Celso Klafke. Segundo ele, a TAM dá apenas 15 minutos para fazer a inspeção em quase 100 itens das aeronaves, quando elas pousam. “Qualquer um sabe que isso é pouco tempo. Alguma coisa eles [os mecânicos] não vão fazer nesses 15 minutos”.



Klafke ressaltou que os mecânicos são capacitados, mas que o tempo ideal para a manutenção em solo é de 30 a 45 minutos: “O ritmo a que eles são submetidos é desumano – muita pressão, muita responsabilidade, e isso ocasiona problemas''.



Graziella afirma que há uma indefinição na escala de vôo dos tripulantes, que têm suas vidas prejudicadas, pois não conseguem programar compromissos, o que gera grande carga de tensão: “Esse é um dos maiores fatores de estresse, pois [o trabalhador] não pode garantir o que se vai fazer durante a folga. Isso interfere na saúde e na qualidade do trabalho”. A sindicalista também defendeu a criação de uma agência independente de investigação de acidentes, conforme projeto enviado ao Ministério da Defesa, em 2003.]



Da redação, com agências