O lado político da crise aérea
Este artigo foi proposto com a característica da linguagem de fresta. Aquela pela qual se pretende fugir do que é aparentemente real, aquela pela qual se busca enxergar em pequenas coisas as partes de um todo. E nesse espaço de reflexão, cabe pergunt
Publicado 02/08/2007 13:11 | Editado 04/03/2020 16:43
Por Ilauro Oliveira*
Quando há uma tragédia, como os acidentes aéreos ocorridos no Brasil, é comum que todos os veículos brasileiros tragam o tema como manchete e sigam numa mesma direção. Mas quando os mesmos veículos, coincidentemente os maiores, começam a fazer comentários quase que iguais, editoriais apontando para a mesma direção, para os mesmos culpados, sem que sejam consideradas outras hipóteses, teses e conceitos que possam fazer um caminho inverso, aí é de se estranhar.
O caminho do caos aéreo brasileiro é ponto único trilhado pelos grandes jornais para se chegar ao Governo Lula. O Governo é culpado por tudo. É como se de repente todos os veículos passassem a tratar os acidentes rodoviários que acontecessem no país como culpa exclusiva de um Governo que não cuida das estradas, sem no entanto considerar a imperícia dos motoristas, o excesso de velocidade, a embriaguez, o excesso de veículos circulando pelas estradas brasileiras….Enfim, os demais elementos que podem compor um quadro de tragicidade. No caso dos nossos acidentes aéreos, muitos estão deixando de considerar outros fatores e direcionando apenas os infortúnios a uma incompetência governamental.
O que pode haver na atmosfera de um país quando os pilotos dos grandes veículos de comunicação começam a arremeter para uma única direção? Será que a responsabilidade das empresas aéreas não é do mesmo tamanho da responsabilidade governamental diante do nosso apagão aéreo? Essa e apenas uma pergunta.
– Presidente, há uma sanha para atingi-lo. Novamente se movem para atingir o senhor e seu governo, é a mesma sanha de sempre, e desta vez me usam para este fim, diz Waldir Pires, em entrevista ao Terra Magazine.
Será isso possível ou será apenas mais um arroubo da esquerda delirante brasileira?
O ex-ministro da Defesa diz que há uma eleição que não querem terminar nunca. Diz que há uma sanha que retorna a cada episódio, ainda que sob o disfarce de crítica a isso ou àquilo, ainda que sob o disfarce das boas intenções. Pires falou ainda que anda preocupado com “essa insânia que não aceita a decisão do povo, que não respeita de verdade as instituições democráticas”.
Na mesma direção do depoimento do ex-ministro, apresenta-se o do diretor-adjunto da revista Carta Capital, Mauricio Dias. Ele disse em entrevista ao site Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, nesta quarta-feira (25) que Lula é intragável para a direita. “E terminada essa crise nos aeroportos, essa tragédia lamentável com o avião da TAM, vão procurar outra. Vão cavar asfalto para encontrar minhoca”, disse Dias.
O jornalista traz argumento palpável. “Querem que Lula não seja um eleitor importante em 2010 e não influencie a eleição de 2010. O jogo é esse”, disse Dias.
As palavras de Dias vão de encontro àquilo que propôs o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao presidente Lula recentemente. No auge da crise do mensalão, FHC sinalizou com uma trégua do PSDB, desde que o presidente abrisse mão da sua candidatura pela reeleição mostrando com clareza que o que estava em jogo não eram a ética, a honestidade e etc… Mas sim o jogo escancarado do poder. Esqueceriam tudo que estava ou estivesse acontecendo de ruim, de desonesto ou de antiético no país, desde que pudessem tirar o virtual vencedor do processo eleitoral de 2006.
Então, o que se conclui daquilo que propôs FHC e daquilo que diz o jornalista da Carta Capital é o óbvio: as crises são ótimos momentos para que os vorazes adversários se lancem sobre o poder, aproveitando um momento de aparente fragilidade para impor suas vontades ainda que desonestas, antiéticas e cínicas.
O jornalista nos remete ainda a um fato curioso. Diz que a mídia ataca o Lula de maneira unida e que ela só agiu unida assim em 1964. Só foi assim em 64, exatamente quando a mídia toda apoiou o golpe militar.
Outro jornalista, o Marco Aurélio Weissheimer de agência Carta Maior, também analisa o movimento dos grandes jornais brasileiros diante da crise aérea. Ele diz que o tom das críticas ao governo Lula vem subindo crescentemente na mídia. “Os principais jornalões do país atacam frontalmente o presidente da República e sua equipe de governo usando termos como “incompetência”, “inexperiente”, “corriola”… O tom das palavras sobe também em alguns setores da sociedade. Além da desqualificação do governo federal, com o uso de adjetivos cada vez mais pesados, o Weissheimer diz que começam a aparecer também discursos de caráter golpista.
“O que podemos dizer a esses ilustres jovens militares. Não desistam. Os certos não devem mudar e sim os errados. Podem ter certeza de que milhares de pessoas estão do lado de vocês. Um dia, não se sabe quando, mas com certeza esse dia já esteve mais longe, as pessoas de bem desse País vão se pronunciar, vão se apresentar, como já fizeram em um passado não muito longe, e aí sim, as coisas vão mudar, o sol da democracia e da Justiça brasileira vai voltar a brilhar”.
A declaração foi feita pelo ministro do Superior Tribunal Militar, Olympio Pereira da Silva Junior, durante a entrega de espadins a alunos que ingressaram nas academias militares do Exercito, Marinha e Aeronáutica, em julho deste ano. Ao saudar os novos alunos, Olympio Junior critica a situação política do país, faz uma apologia da honra, da moral e do patriotismo, lamentando que os jovens cadetes não poderão manusear os instrumentos militar que conhecerão no treinamento. Ele diz: “Aqueles jovens, ainda puros, não sabem que vão estudar (e como vão estudar, durante toda a carreira) tudo sobre a arte da guerra e do combate e vão conhecer e aprender tudo sobre equipamentos e instrumentos militares, os mais modernos do mundo, mas que na realidade nunca irão manusear porque, no nosso País, não se acredita ser necessário a compra de armamento/equipamento militar para ficarmos em igualdade bélica a outras nações”.
E critica a condição dos militares em relação aos demais funcionários públicos: “Preparam-se, por toda a carreira, para dedicarem-se e ser fiel à Pátria, cuja honra, integridade e instituições deverão ser defendidas mesmo com o sacrifício da própria vida e têm, mesmo assim, seus vencimentos tão diferenciados de outros funcionários públicos que nunca deram nem vão dar nada ao País, pois dele só querem benesses, vantagens e lucros e o que é pior, porque ninguém faz nada a respeito e calam-se diante dessa imoralidade”.
Nesse conjunto de idéias, caberia lembrar um momento interessante da recente história da América Latina. O Chile de Salvador Allende foi derrubado por ações desencadeadas pelos opositores nacionais e internacionais com o apoio da mídia, dos grevistas e do Governo Norte-Americano.
O dinheiro do governo americano, por intermédio da Central de Inteligência Americana – CIA, e das transnacionais norte-americanas fincariam todo tipo de ação social desestabilizadora, com a finalidade de criar o ambiente propício a uma intervenção de força. Uma greve de caminhoneiros que parou o país provocou o desabastecimento. Eles foram pagos, com meses de adiantamento para ficarem em suas casa. Os meios de comunicação também foram favoráveis às manobras contrárias ao governo. Neles a direita chilena exerceu seu predomínio, tendo recebido constantes injeções financeiras aplicadas pela CIA.
Como disse são só lembranças de um outro tempo e de uma outra realidade, mas servem para ilustrar que nos momentos de crises, ou mesmo quando não há crises, mas quando tentam fabricar uma, muitos grupos podem estar juntos prontos a atacar governos adversários e notadamente os que têm grandes vínculos com os movimentos sociais do país.
O Waldir Pires é um homem de 80 anos com responsabilidades históricas neste país. Não sairia por aí dizendo bobagens. Quando diz que há uma eleição que não querem terminar nunca, deve saber do que fala. E não custa a todos nós, descompromissados com a dita grande mídia, dar ouvido a ele e eco a suas palavras.
Uma coisa é o caos aéreo, outra é quando escolhem antecipadamente como culpado um piloto nordestino sem que ao menos se esforcem para abrir a caixa preta dos aeroportos e das empresas brasileiras deste setor.
*Ilauro Oliveira é graduado em História.