Serra: implacável contra os trabalhadores, leniente com acidentes no Metrô

Após sete meses da tragédia que vitimou sete pessoas nas obras da linha 4 – amarela do Metrô, um novo acidente despertou medo e revolta entre os paulistanos. Um segundo buraco, de menor porte, fez o asfalto erodir na altura da estação Fradique Coutinho, n

É de se notar que enquanto o descuido campeia e os acidentes se sucedem nas obras da linha privatizada, o governador José Serra está mais preocupado em tomar medidas arbitrárias de retaliação aos trabalhadores do Metrô, que fizeram uso de seu legítimo direito de greve. Serra, de uma canetada, demitiu 61 metroviários, dando a nota de seu pouco apreço pela democracia, pelas entidades representativas e suas formas de luta.


 


Também não é demais lembrar que, em sete meses, governo e concessionária da linha 4 não conseguiram produzir alguma explicação plausível para a primeira cratera. De maneira que o desempenho abaixo dos “padrões desejados” – motivo alegado oficialmente para as demissões arbitrárias –  parece ser do governo e não dos trabalhadores.


 


Mais do que isso, o governo age como a desviar o foco dos reais problemas do Metrô, colocando os trabalhadores no papel de bode expiatório e na berlinda os consagrados direitos de greve e de liberdade sindical.


 


Acompanhe a entrevista com Manuel Xavier Lemos Filho, diretor do Sindicato dos Metroviários de SP, sobre o tema:


 


Vermelho-SP: Acaba de surgir um novo buraco nas obras da Linha 4. Metrô e concessionária negam riscos. O sindicato acha que a obra pode estar comprometida?


 


Manuel Xavier: A opinião do sindicato é que sim. Quando ocorreu a primera cratera, toda a obra deveria ser auditada por órgãos científicos da socieddae civil – como sindicatos de engenheiros, universidades, associações profissionais ligadas à engenharia civil – que têm idoneidade e isenção para produzir um laudo que traga a tranquilidade à populaçao ou que apresente soluções para os problemas detectados, garantido os padrões de normalidade e segurança.


 


Vermelho-SP: O governo e a concessionária ainda não deram respostas satisfatórias para a primeira cratera….


 


Manuel Xavier: O que se ouviu na imprensa foi uma série de tentaivas de justificar o injustificável. O diretor de obras do Metro disse que o acidente é uma fatalidade que pode acontecer em obras desse porte. Não é verdade. Não se trabalha numa obra desse porte com a lógica de que vai acontecer acidente, mas sim na lógica de prevenir, de impedir que aconteça qualquer acidente. Nao é razoável tentar amainar a gravidade da situação. Isso não resolve o problema.


 


Vermelho-SP: O governo foi muito rigoroso com os trabalhadores que entraram em greve, mas parece leniente com a concessionária. O governo pode estar usando a greve para desviar o foco desses problemas da linha 4?


 


Manuel Xavier: Na visão dos metroviários há o componente de desviar a atenção do povo dos graves problemas da gestão do estado. Mas também tem o objetivo de, ao atacar os metroviários, tentar combater a organização do funcionalismo público como um todo. O funcionalismo está abandonado, sem investimento, sem contratação, com péssimo atendimento à populaçao. Ao atacar os metroviários, o governo quer colocar uma espada no pescoço de todo o funcionalismo. A truculência e a intolerância serviram para mostrar que o governo não está disposto a negociar e que, em caso de levante das organizações de trabalhadores, a resposta será implacável.


 


Vermelho-SP: Os metroviários vão tomar inciativas quanto a esse novo buraco?


 


Manuel Xavier: Vamos fazer uma série de inciativas, juntamente com outras categorias, com o objetivo de denunciar para a população as condições em que se encontram tanto os metroviários como o funcionalismo do estado em geral e, com certeza, a questão das condições de segurança para a continuidade das obras da linha 4 estará inserida nesse movimento. No próximo dia 11, a população que foi atingida pela tragédia do dia 12 de janeiro, a cratera da linha 4, vai fazer um ato cobrando medidas das autoridades, porque no domingo completam sete meses e ainda existem desabrigados. Além disso, não foi apresentado sequer algum indício de culpabilidade e as obras continuam de vento em popa, causando novos sustos e riscos à população. Nós, metroviários, vamos engrossar essas manifestações também.


 


Fernando Borgonovi, pelo Vermelho-SP