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Gil diz que ser ministro é 'sacrifício', mas aprova gestão

Ao aceitar o convite feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser ministro da Cultura, Gilberto Gil temeu que não conseguiria atingir seus objetivos nem ''acordar cedo''. Quatro anos e nove meses depois, o cantor baiano também confessou que se

As declarações constam em entrevista publicada na edição desta segunda-feira (13) do jornal francês Liberation e reproduzida em outros diários de língua francesa na Europa. Segundo o jornal, Gil reduziu de 200 para 50 o número de shows por ano. Além disso, desde o início de seu mandato, em 2003, só teve tempo para compor duas músicas.


 


''O sacrifício não é apenas financeiro'', afirma o ministro, em relação à diferença entre seu salário como chefe da pasta e como músico internacionalmente reconhecido. ''Toca também no meu desejo de expressão e de comunicação, além da demanda do meu público.''


 


Em contrapartida, Gil garante que se surpreendeu com sua performance como ministro. ''Estou me saindo melhor que eu mesmo pensava. Eu tinha medo de não conseguir acordar cedo.'' Mais que acordar cedo, ele conseguiu triplicar o orçamento da pasta e segue firme em sua meta de democratizar a cultura no Brasil.


 


Menos visibilidade


 


Na semana passada, recém-chegado de uma maratona por palcos europeus, Gil admitiu uma menor exposição como ministro – mas esclareceu que ''tem muito trabalho pela frente'' neste seu segundo mandato. Para ele, o Ministério da Cultura (MinC) pode ter deixado de ter tanta exposição na mídia porque o ''artista-ministro'' deixou de ser novidade.


 


Outro motivo, segundo Gil, é que as principais bases da pasta já foram lançadas no primeiro mandato e não há mais tanta ansiedade em se apresentar à sociedade. ''Quem sabe tudo isso e mais o imponderável tenham diminuído a nossa exposição'', esclareceu, a respeito do trabalho de toda sua equipe no MinC.


 


O cantor e compositor, de 65 anos, começou uma turnê no início de julho em Portugal, que terminou na noite de 7 de agosto. O show passou por cerca de 15 cidades, incluindo países como Marrocos, Suíça e Itália. Neste mês, estão marcados quatro shows em São Paulo e Rio.


 


Gil vai equilibrar esse final de turnê no país com a volta ao trabalho em Brasília – do qual nem o cansaço o fez desistir. ''Apesar de cansado, aceitei as ponderações do presidente, de setores do mundo cultural e de muitos dos colaboradores diretos no ministério, que acharam que eu deveria continuar.''


 


Planos à vista


 


Como desafios, Gil cita a inclusão do MinC no Plano de Aceleração do Crescimento Social do governo – o que o levará a compartilhar muitos programas com outros ministérios. Um deles é o aguardado Tíquete Cultura, que vem sendo trabalhado com o Ministério da Fazenda e Receita Federal.


 


O tíquete é uma espécie de vale-alimentação, mas voltado para atividades como ir ao cinema ou compra de livros, do qual empresas teriam benefício fiscal ao repassá-lo a funcionários. ''Ainda é preciso negociar e tentar vencer resistências ao projeto mais abrangente e mais generoso que o MinC está propondo.''


 


Como músico, Gil guarda o sonho de continuar casado com sua viola – e ''em regime de comunhão de bens e de males.'' Apesar do apreço a um instrumento tão clássico, ele se aliou à alta tecnologia para montar sua nova turnê. No novo show, cujo nome (Banda Larga) remete à internet, o público é convidado a gravar e fotografar com seus celulares e câmeras digitais.


 


O resultado pode ser enviado ao site oficial da turnê (www.gilbertogil.com.br), repleto de vídeos e fotos de bastidores e dos shows. Há também um blog no qual integrantes da equipe contam a movimentação e o clima das viagens. Gil se mostrou animado com a interação entre o público munido de câmeras e os músicos no palco.


 


Aeroportos


 


Durante sua turnê de um mês no exterior, o cantor pôde confirmar que a crise aérea não se restringe ao Brasil. ''A aviação vai ficando cada vez mais uma fonte de desconfortos, sacrifícios, sofrimentos'', disse, comentando que até sua equipe de turnê não via a hora de trocar o avião pelo ônibus na Europa.


 


''Enfim, a aviação vem se tornando um problema, uma espécie de efeito colateral do progresso.'' Afirmação parecida foi dita em junho pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que causou polêmica ao dizer que os atrasos nos aeroportos brasileiros eram pelo ''aumento de fluxo de tráfego por causa da prosperidade do país''. Para Gil, Mantega foi mal interpretado.


 


Gil afirmou, no entanto, que gosta ''muito da sensação de estar nos aviões a jato mais modernos'' – e que já teve muito mais medo de voar do que hoje. ''Em viagens com pouca ou nenhuma turbulência, os vôos de cruzeiro me dão a sensação de estar pousado no movimento.''