Para Renan, denúncia de Lyra prova disputa política
Em conversa com assessores e amigos, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), avaliou que as declarações do ex-deputado e usineiro João Lyra à revista “Veja”, confirmando a suposta sociedade entre os dois na compra de uma rádio e um jornal, inte
Publicado 13/08/2007 21:13
O empresário João Lyra deverá responder nesta terça-feira se aceita ou não o convite formulado pelo corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), para depor. Na semana passada, Tuma iniciou uma investigação para apurar a denúncia publicada pela revista “Veja” de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e Lyra seriam sócios ocultos da JR Rádio Difusora de Alagoas. Embora o presidente do Senado tenha negado, Lyra confirmou a informação no último fim de semana em entrevista à mesma revista.
Para o senador Renan Claheiros, a afirmação de Lyra só referenda sua defesa de que está sendo “alvo de disputa política regional”. Na semana passada, em discurso na tribuna, Renan afirmou que é vítima de adversários políticos derrotados em Alagoas.
No sábado, quando a revista chegou às bancas, Renan disparou telefonemas antes de embarcar para São Paulo, onde passou o final de semana com a mulher em compromissos pessoais. “Ele não será o meu Eriberto”, disse Renan, segundo relato de amigos. Foi uma referência a Eriberto França, motorista da secretária particular de Fernando Collor de Mello, Ana Acioli, e que apresentou recibo de pagamento com cheque de “laranjas” do ex-tesoureiro de Collor, Paulo César Farias.
Renan tem insistido que não pretende deixar o comando do Senado, apesar do aumento da pressão para que se afaste do cargo até a conclusão das investigações.
A Mesa Diretora do Senado deverá se reunir na quinta para decidir se encaminha ou não para o Conselho de Ética a terceira representação apresentada contra Renan. Assinada pelos presidentes do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), e do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), essa nova representação solicita justamente a investigação da denúncia de que Renan seria sócio oculto da JR Rádio Difusora.
A reunião da Mesa estava previsto inicialmente para acontecer nesta terça, mas acabou adiada porque Renan teria de ser notificado com pelo menos 24 horas de antecedência e o presidente do Senado só chegou a Brasília nesta segunda à tarde, depois de passar o fim de semana em São Paulo.
“A lógica regimental indica que essa representação será encaminhada ao Conselho de Ética, tendo em vista que a resolução que trata do assunto. Não resta outra alternativa à Mesa”, antecipou Álvaro Dias (PSDB-PR), segundo-vice-presidente do Senado, que deverá comandar a reunião, já que o primeiro-vice, Tião Viana (PT-AC), estará fora de Brasília.
O presidente do Conselho de Ética, senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), deve receber ainda nesta terça um resposta do trio de relatores do processo contra Renan – formado pelos senadores Renato Casagrande (PSB-ES), Marisa Serrano (PSDB-MS) e Almeida Lima (PMDB-SE) – sobre convite feito na semana passada para que eles assumam também a relatoria da segunda representação contra o presidente do Senado.
Renan: “Veja vai pagar na Justiça”
Em artigo no Blog dos Blogs, Renan Calheiros chama de “mentiras, difamações e acusações sem provas” as denúncias contra ele. Para ele trata-se de “jornalismo irresponsável e ilegítimo”. Renan diz, ainda, que a revista “há de pagar na Justiça por cada denúncia inverídica, leviana, apressada, cujo único propósito tem sido me atingir e difamar”.
Veja abaixo a íntegra do texto publicado por Renan Calheiros no Blog dos Blogs:
Mentiras e verdades
Renan Calheiros*
Críticas e cobranças fazem parte do jogo democrático, assim como a mais ampla liberdade de imprensa. Mentiras, difamações e acusações sem provas seguem na contramão da democracia e denunciam um jornalismo irresponsável e ilegítimo.
É o que vem acontecendo há mais de dois meses, com o ataque impiedoso que parte da mídia vem fazendo contra mim e que já se transformou em campanha, movida por interesses escusos e alimentada por meus desafetos políticos regionais – o ex-governador João Lyra e a ex-senadora Heloísa Helena.
Imagine o futuro do Congresso Nacional se cada derrotado político conseguir transformar seu ressentimento em pseudo-escândalo, em representações.
Não esperem de mim que abdique do maior direito democrático, que é o amplo direito de defesa. Não esperem que eu seja sócio passivo de um rito sumário, de um julgamento sem processo legal, sem provas e sem defesa. Não tenho patrimônios clandestinos, nunca recorri a recursos alheios para arcar com despesas pessoais.
A cada pseudo-denúncia, respondi com provas. A cada questionamento, apresentei explicações precisas. Mas ou não houve a decência de desmentir as falsas acusações ou o espaço para tais desmentidos foi irrisório.
A revista “Veja” há de pagar na justiça por cada denúncia inverídica, leviana, apressada, cujo único propósito tem sido me atingir e difamar.
Para citar um exemplo, lembro que a própria Schincariol desmentiu, em documento oficial, as acusações da revista de que eu teria atuado em benefício da empresa, depois de ter interferido numa transação supostamente irregular de compra de uma unidade da companhia no Nordeste.
E é preciso lembrar que a mesma Veja vem enxovalhando a honra de várias pessoas sem comprovar suas falsas denúncias. Onde estão as provas dos dólares de Cuba em caixas de uísque, onde estão as provas do envolvimento das Farcs com o MST, onde estão as provas de que funcionários da Caixa Econômica sofreram tentativas de subornos para assumir culpa em episódio recente, onde está a prova de que o presidente Lula seria o “sujeito oculto” de organizações criminosas? No meu caso, a revista dispensa até o acusador, já que as matérias não possuem nem aspas com alguém a me acusar.
Cabe à Justiça, também, apurar o escândalo da venda da TVA, do Grupo Abril, proprietário de Veja, para a estrangeira Telefônica. Um negócio imoral, de quase 1 bilhão de reais, que fere a soberania nacional e foi articulado à margem da lei pela mesma editora que se apresenta como guardiã da moral e da ética.
Já tive o cuidado de encaminhar a denúncia ao Ministério Público e à Polícia Federal, ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica, ao Ministério das Comunicações, à Comissão de Valores Mobiliários, ao presidente Lula, ao Governo e ao Parlamento espanhol, sede da empresa Telefônica.
Apurar essa negociação fraudulenta, garantir a livre competição e a soberania nacional, isso, sim, interessa à sociedade brasileira. Não um escândalo artificial quanto o que tentam forjar a meu respeito.
A abertura do processo pelo Supremo Tribunal Federal – atendendo a meu pedido, junto ao Ministério Público – é um passo importante para que tenhamos uma investigação séria, profissional. É a oportunidade para deixar bem claro, de uma vez por todas, o que venho repetindo ao longo dos últimos meses: não tenho absolutamente nada a esconder ou a temer.
Minha força é proporcional à minha verdade. E a verdade – que ninguém duvide – é sempre mais poderosa que qualquer mentira.
*Presidente do Senado Federal