Vital Nolasco explica por que o PCdoB quer uma sede própria
Por Pedro Oliveira
Após a realização em grande estilo do último jantar para coleta de fundos para a construção de uma sede própria para o Partido Comunista do Brasil, na capital mineira, o secretário de finanças do PCdoB, Vital N
Publicado 13/08/2007 16:41
Por quê é mesmo que o PCdoB quer ter uma sede própria nesta altura dos 85 anos de atividade contínua do partido mais antigo do Brasil?
A questão é que nesta trajetória histórica, até 1984, o Partido Comunista havia tido apenas brevíssimos períodos de vida legal. Foram apenas dois anos de legalidade se juntarmos todos os períodos até antes de redemocratização. De 1985 para cá, estamos vivendo a maior fase de legalidade jamais presenciada pela militância comunista. São 27 anos de reconhecimento legal de um partido que sempre lutou pelas liberdades democráticas, pelos direitos dos trabalhadores e pela soberania da nação…Foi a organização política brasileira que teve o maior número de mártires na luta contra a ditadura militar de 1964 a 1984.
E a campanha anticomunista que se desencadeou para liquidar com o partido no meio do povo?
Seria ingenuidade de nossa parte se fôssemos desconsiderar este aspecto. Tenho uma experiência pessoal muito viva nesta questão quando militava no movimento sindical das fábricas da zona sul de São Paulo. Trabalhava nesta época dos últimos anos da década de 70 e início dos anos 80 na fábrica Metal Leve, na linha de produção. Tinha um companheiro operário também como eu, que havia se destacado como um dos mais ativos vendedores do jornal Tribuna da Luta Operária. Além de vender em média cerca de 50 exemplares por edição, este camarada recolhia o dinheiro dos que compravam o jornal e sistematicamente o repassava para a redação do jornal. Pela sua perseverança, resolvi recrutá-lo para o Partido Comunista.
E qual foi a resposta dele?
Ele me chamou de lado e até meio constrangido disse que talvez fosse melhor ficar assim mesmo, não precisava fazer parte do Partido. Então insisti e ele então me perguntou na lata: -“Vem cá Vital, essa histórica de que comunista come crianças, é verdade? E que eles não costumam respeitar as mulheres dos outros?”. Procurei desfazer estes preconceitos apresentando o exemplo de vários militantes comunistas que ele conhecia, dedicados à luta, com suas famílias e filhos…e o meu próprio estilo de vida que ele conhecia muito bem…Foi então somente depois dessa reflexão que o camarada se filiou, e ele até hoje está ligado ao partido mesmo depois de ter se aposentado na fábrica…
E como foi a atividade de finanças em Belo Horizonte, na semana passada?
Em Minas Gerais fizemos uma atividade de finanças em favor da construção da sede própria do partido muito exitosa. O restaurante estava lotado com muitos amigos e personalidades do mundo político e do movimento social em Belo Horizonte. Houve um caso concreto que presenciei. Um empresário mineiro que comprou o convite e foi à festa sozinho. Fui lá perto dele e perguntei porque ele tinha vindo só, poderia ter trazido a família e outros amigos. Ele argumentou dizendo que outros colegas haviam comprado também o convite, mas ficaram receosos de vir até o jantar. Isto tudo para mostrar que ainda existe um preconceito subjacente na sociedade brasileira.
Mas hoje em dia o PCdoB é bem mais conhecido, tem várias responsabilidades de governo e no movimento social…
Com certeza, os comunistas se revelaram não apenas idealistas e sonhadores, mas construtores e gestores na esfera governamental. O PCdoB dirige o Ministério do Esporte que teve grande projeção agora na realização do PAN no Rio de Janeiro. Esta foi uma tarefa vitoriosa que teve a marca dos comunistas. O ministério foi na verdade reconstruído pelos comunistas. O que existia antes era o Ministério do Esporte e do Turismo, mais turismo do que esporte na prática. Temos no Brasil atual uma política pública para o esporte com grande projeção social. Vários programas como o Segundo Tempo são exemplos de integração social no Brasil. E não é somente na esfera do esporte que os comunistas têm dado a sua contribuição.
O partido participa do Conselho Político do governo Lula, junto com os 11 partidos aliados da aliança de sustentação no âmbito do Congresso Nacional…
E participa também no Ministério da Cultura com a atividade pioneira dos pontos de cultura, participa igualmente do Ministério de Ciência e Tecnologia, do Ministério das Cidades, dirige a Agência Nacional de Petróleo, ao lado de outros conselheiros, e de inúmeras outras iniciativas institucionais relativas à soberania da nação. É exatamente por essa participação ampla que o Partido é considerado por todas as forças políticas brasileiras e respeitado por sua dedicação e forma de conduta. Por isso é que estamos organizando com sucesso até agora os jantares de coleta de recursos para a construção de nossa sede própria. Queremos uma sede própria como os outros partidos no Brasil que têm raízes profundas em nossa história, somos uma partido perene e não meramente conjuntural. Nossa missão é participar ativamente do processo de transformação social do Brasil, em uma sociedade fraterna, solidária, avançada, socialmente justa, socialista.