Solidariedade a Quartim de Moraes contra agressão da direita
A intelectualidade progressista brasileira se indignou quando soube dos virulentos ataques do direitista Olavo de Carvalho contra o professor da Unicamp e dirigente comunista João Quartim de Moraes. Em artigos, publicados no Jornal do Brasil e
Publicado 20/08/2007 15:23
Um dos motivos que levaram Olavo a escrever aqueles artigos foi a longa entrevista dada por Quartim à revista Princípios – e reproduzida no Vermelho – na qual tratava do tema “a esquerda militar no Brasil”. Nela havia realçado a existência de um setor progressista no interior das Forças Armadas que vinha desde o Império e que foi derrotado com o golpe militar de 1964, mas aventava a possibilidade de estabelecimento de novos vínculos entre setores das Forças Armadas e a esquerda brasileira em torno de um programa nacional e democrático.
Afirmou ele: “O movimento socialista, notadamente os comunistas, exercerão influência junto aos militares de espírito verdadeiramente patriótico se defenderem e, sobretudo, levarem adiante, uma plataforma que assuma as grandes aspirações históricas das forças progressistas brasileiras: as reformas sociais avançadas que ponham fim à miséria de nosso povo, o desenvolvimento das forças produtivas de nosso país, a afirmação da soberania nacional através de uma política externa independente e voltada para a integração sul-americana”. Isso, no entanto, não significava abrir mão da exigência de esclarecimentos dos crimes cometidos durante o regime militar.
Diante dos mínimos sinais de que possa haver tal diálogo democrático entre a esquerda e os militares na atualidade, Olavo vocifera contra “a afoiteza obscena com que certos militares brasileiros, em nome das boas relações com os assassinos de seus colegas de farda, se curvam docilmente”. “Os militares que (…) esperam livrar as Forças Armadas da máquina de difamação esquerdista fazendo delas colaboradoras voluntárias e servis do movimento revolucionário chavista, podem tirar o cavalo da chuva”. Continua raivoso: “A mensagem é clara: puxem o saco vermelho quanto queiram, os homens de farda continuarão sendo chamados de torturadores fascistas, servos do imperialismo e filhotes da ditadura”. O objetivo dos artigos é manter aceso o ódio anticomunista no seio das Forças Armadas.
Olavo arremete também contra uma das principais realizações acadêmicas e intelectuais do professor Quartim de Moraes, que foi a criação do Centro de Estudos Marxistas da Unicamp (Cemarx). Sobre isso escreve Olavo: “Quartim, professor da Unicamp, é o pai espiritual e fundador do tal ‘Núcleo de Estudos Marxistas’ (sic), ao qual não se pode negar o mérito de ter elevado essa Universidade ao nível acadêmico de uma escolinha do MST”. Afirma ainda que Poulantzas, Istvan Meszaros, Caio Prado Júnior, Che Guevara, Nelson Werneck Sodré – autores estudados pelo Cemarx – seriam verdadeiros microféfalos comparados com os limiares da direita.
A resposta da intelectualidade e setores democráticos e socialistas veio na forma de notas de solidariedade e de um abaixo-assinado divulgado pela internet. Mesmo ainda sem grande divulgação, em menos de 24 horas, mais de 200 pessoas colocaram sua assinatura eletrônica no documento. Entre os signatários estão Jacob Gorender, Emir Sader, Juca Kfouri, Paulo Arantes, Fausto Castilho, Wilson Cano, Caio Navarro, Armando Boito, Maria, Francisco Carlos Teixeira, Ronaldo Chilcote, Anita Prestes, Márcio Naves, Cláudio Batalha, Muniz Ferreira, Isabel Loureiro, Virgínia Fontes, Sidney Chalhoub, Marcelo Badaró, Jorge Miglioli, Lígia Osório, Ester Vaisman, Álvaro Bianchi, Ivana Jinkings, Antônio Carlos Mazzeo, Marcelo Ridente, Bernardo Ricupero, Pedro Paulo Funari, José Claudinei Lombardi, , Marcos Del Roio, José Carlos Ruy, Altamiro Borges, Silvio Costa, Diorge Konrad entre outros.
Leia, abaixo, a integra do Manifesto de Solidariedade ao professor João Quartim de Moraes:
“Nós, abaixo-assinados, empenhados na construção e consolidação de uma cultura política democrática, de cujos valores fazem parte a legitimidade da divergência teórica e ideológica, a civilidade no terreno da polêmica e a liberdade de opinião e de expressão, manifestamos irrestrita solidariedade a João Quartim de Moraes, professor titular de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), face às acusações injuriosas e mentirosas contra ele dirigidas pelo sr. Olavo de Carvalho na coluna de que dispõe no Jornal do Brasil e no Diário do Comércio.
Contumaz desafeto de acadêmicos e intelectuais que pensam diferentemente dele, particularmente daqueles que têm firmes convicções democráticas, progressistas ou socialistas, o sr. O. de Carvalho, em três artigos (difundidos também em vários blogs) investe enfurecido contra uma entrevista de João Quartim de Moraes na revista Princípios, a propósito da publicação da segunda edição de A esquerda militar no Brasil, vol. I (Expressão Popular).
Sem apresentar argumentos e razões para contestar as idéias e as concepções publicamente defendidas pelo professor de Filosofia da Unicamp, o qual, desde sempre esteve comprometido com a defesa e aprofundamento da democracia e a transformação da sociedade brasileira, o sr. O. de Carvalho, fiel às práticas obscurantistas prevalecentes na ditadura militar, recorre apenas e tão somente à agressão pessoal, ao insulto rasteiro e à calúnia desabrida. Não podemos senão repudiar, de forma categórica e veemente, seus métodos truculentos, inseparáveis de seu extremismo reacionário.”
Aqueles que quiserem ler e assinar e conhecer os signatários até o presente momento basta clicar o link: http://www.petitiononline.com/1848mc/petition.html
* Historiador e secretário-geral do IMG.