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Comparar Iraque a Vietnã causa enxurrada de críticas a Bush

“Os vietnamitas lutaram por uma causa correta durante a guerra travada contra os ocupantes americanos, mas preferem focar no presente”, disse nesta quinta-feira (23) um porta-voz do governo do país, rebatendo discurso do presidente americano, George W. Bu

“A guerra deixa seqüelas que ainda são visíveis hoje, assim como nossas lembranças”, disse Le Dung, porta-voz da chancelaria, durante seu encontro quinzenal com a mídia.



“Mas, sendo uma nação com uma tradição que valoriza a paz, estamos determinados a não esquecer o passado, mas a valorizar o presente e esperar uma melhor relação com os Estados Unidos”, disse.



Pior erro da História



A declaração que motivou a resposta vietnamita foi feita pelo presidente americano na última terça-feira (21) no Estado do Missouri, quando Bush disse que uma retirada do Iraque pode “desencadear uma convulsão como a que ocorreu no Sudeste Asiático” depois da derrota das tropas americanas do Vietnã.



Em uma das passagens do discurso, Bush alegou que “um legado inegável do Vietnã é o de que o preço pela saída dos Estados Unidos foi pago por milhões de cidadãos inocentes.”



A frase serviria para o presidente americano supor que no Iraque havia um “perigo adicional”, caso houvesse uma retirada americana, como significado de “vitória para a rede extremista al-Qaida”, tendo o efeito de “estimular” seus líderes e “atrair” novos militantes.



O líder do Senado, Harry Reid, recusou a comparação entre os dois conflitos e disse que a decisão de invadir o Iraque foi um dos piores erros da história americana.



“Hoje nossos soldados permanecem presos no meio de uma guerra civil, e a estratégia do presidente continua fracassando, sem conseguir fornecer a solução política necessária para a estabilidade do Iraque”, disse Reid.



“O prazo para uma mudança de curso no Iraque já expirou há tempo, e o Congresso vai continuar a lutar por essa mudança nas próximas semanas.”



“Irresponsável e ignorante”



O senador John Kerry, um veterano da Guerra do Vietnã que perdeu as eleições para Bush em 2004, classificou o discurso de Bush de “irresponsável e ignorante”.



Kerry disse que não estava surpreso ao ver Bush tentar “simplificar as diferenças e negligenciar as trágicas semelhanças” entre os dois conflitos.



“Se o presidente quiser aprender as lições deixadas pela Guerra do Vietnã ele deve mudar de curso. E mudar imediatamente”, disse Kerry.



Invocar o Vietnã foi intepretado por analistas ocidentais como um gesto desesperado de Bush para tentar neutralizar a cada vez maior opinião contrária à ocupação do Iraque e justificar a contínua presença militar americana na região.



No auge do envolvimento imperialista dos EUA no sudeste asiático havia mais de 500 mil soldados. A derrota em 1973 foi humilhante e resultou na libertação do país dois anos mais tarde. 



Bush quer que acreditem que existe similaridade entre as duas ocupações. Para ele “o inequívoco legado” da derrota americana quando o país se retira do Vietnã teriam sido os “milhões de mortos” e refugiados na região.



Os EUA, segundo dados publicados pelo governo do Vietnã, causaram a morte de mais de 3 milhões de vietnamitas. Mortes que ainda são computadas, devido ao efeito fatal do agente desfolhante laranja usado pelos ocupantes no país asiático.



Bush não lutou no Vietnã



Historiadores de prestígio foram à carga contra Bush por traçar como exemplo o genocídio praticado no Camboja pelo Khmer Vermelho depois da retirada americana. Robert Dallek disse que a questão “não foi a retirada americana, mas a sua invasão, ou seja, o Khmer Vermelho de Pol Pot talvez não tivesse chegado ao poder sem a desestabilização engendrada pela presença dos EUA”.



Para Anthony Cordesman, do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, em Washington, e um dos mais influentes analistas da crise iraquiana dentro da grande mídia, disse que Bush deu uma lição de história que envergonharia aluno de primeiro ano de faculdade.



Lawrence Korb, veterano do Vietnã, ex-subsecretário de Defesa do governo Reagan e ex-conservador, foi mais além e demonstrou as intenções reais do presidente dos EUA. Ele afirmou que, caso Bush tivesse lutado no Vietnã, ele teria sido mais cauteloso sobre as expectativas no Iraque. Korb arrematou que se “nós tivéssemos permanecido no atoleiro do Vietnã, onde não havia solução militar, nós não teríamos vencido a Guerra Fria”.