Sem categoria

Lúcia Stumpf: estudantes não se curvam a José Serra

A UNE, a União Estadual dos Estudantes e outras entidades que organizam a Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Educação realizaram, na tarde desta quarta, um ato político em desagravo à invasão da PM à Faculdade de Direito da USP, ocorrida na madrugada.

Os estudantes, muitos deles dirigentes da UNE, da UEE, do Centro Acadêmico 11 de Agosto e do DCE Livre da USP, realizavam uma ocupação pacífica do páteo da faculdade quando foram surpreendidos pelo Batalhão de Choque e retirados à força do local. Várias lideranças ficaram sob custódia dos policiais e foram liberados apenas de manhã.


 


Nossa luta é justa


 


O ato de hoje tornou-se um repúdio à truculência com que o governador José Serra vem tratando os movimentos sociais. Para Lúcia Stumpf, presidente da UNE, ''o movimento estudantil e o movimento social não vão se curvar a mais uma ação covarde do governador José Serra e nós vamos continuar nas ruas, nós vamos continuar ocupando as universidades do Brasil em defesa de uma educação pública de qualidade para todos até que nossa vitória seja conquistada''. 


 


Lúcia evidenciou o ato arbitrário de autorizar a utilização de força policial dentro do campus universitário. ''Desde os tempos da ditadura militar que a gente não via a tropa de choque entrar nos muros da universidade pública no estado de São Paulo e, ontem, José Serra demonstrou a que veio, de que lado está na sociedade brasileira''. Mas salientou: ''O movimento estudantil e a juventude não se cansam da luta, porque a nossa luta é justa''.


 


A diretora da UEE/SP Jéssica Monteiro considera que ''o governador José Serra já mostrou a que veio quando fez os decretos que feriam a autonomia universitária, quando mandou a tropa de choque desocupar os estudantes da Unesp de Araraquara e quando demitiu os funcionários do Metrô. José Serra não só criminaliza os movimentos sociais, como se julga acima da Constituição. Os movimentos sociais devem se unir para resistir ao autoritarismo do tirano''.


 


Prédio invadido pelo diretor


 


Magno Carvalho, dirigente do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), denunciou que funcionários estavam impedidos de sair do prédio da faculdade de direito, trancado no início da tarde por ordem do diretor, João Grandino Rodas. Como parte do ato, estudantes colocaram faixas no prédio com os dizeres: ''FDUSP invadida pelo diretor''.



 


Traição e covardia


 


O sindicalista ainda revelou que foi rompido acordo firmado entre lideranças estudantis e o diretor da faculdade, o que chamou de ''traição e covardia''. O acordo, segundo ele, previa que não haveria pedido de reintegração de posse nem utilização da PM desde que a ocupação durasse apenas 24 horas e não danificasse o patrimônio. ''Depois de fazer essa negociação, ele chamou a tropa de choque e o documento [ofício à PM] estava na mão do comandante'', finalizou.


 


Serra é o principal responsável


 


O deputado estadual Roberto Felício (PT) destacou a responsabilidade do governador José serra no episódio. ''A tropa de choque não age sem ordem superior. Mesmo o secretário de segurança pública, quando ele age, age com autorização expressa do governador do estado'', diz. ''O principal responsável é o governador José Serra'', conclui o parlamentar.


 


O professor Otaviano Helene, presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP), elogiou a importância das ações feitas na Jornada de Lutas. ''É a luta pelo direito de educação pública de qualidade para todas as pessoas. É uma luta contra a exclusão''.


 


Latifúndio do saber


 


João Paulo, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, uma das entidades organizadoras da Jornada Nacional, destacou que há também concentração na produção e no acesso ao conhecimento. ''Temos que colocar na pauta dos movimentos sociais e do movimento sem terra não só o latifúndio da terra, mas o latifúndio do saber. Quando nós voltarmos aqui, não vamos sair com a tropa de choque, vamos vir pra ficar''.


 


Para Douglas, militante da Educafro, a diferença de tratamento dado aos manifestantes que ocuparam a reitoria da USP por 51 dias e o que foi dado à ocupação da faculdade de direito revela o preconceito ainda existente no país. ''Aquela ocupação, com todos os méritos que teve, foi dirigida nuclearmente por estudantes da universidade. Durou cinquenta e tantos dias, sem nenhuma ação mais dura da repressão. Essa ocupação teve dirigentes do povo pobre camponês, do povo pobre da periferia e do povo negro. Não durou 12 horas'', afirmou.


 


Inteligências perdidas


 


''Quero lembrar para vocês aqui o professor Florestan Fernandes, que era filho de uma doméstica. Mas ele teve oportunidade de estudar e se tornou um dos maiores intelectuais do Brasil'', lembrou Jamil Murad, representante do PCdoB.


 


''O Brasil já perdeu e continua perdendo uma quantidade enorme de inteligências que poderiam estar contribuindo com o desenvolvimento do nosso país e da nossa sociedade'', continuou o dirigente comunista, ressaltando a importância do acesso à universidade aos filhos dos trabalhadores.


 


Unidade


 


Quem foi ao ato pode notar o grau de unidade dos movimentos. Ao lado de entidades que se organizam na Coordenação dos Movimentos Sociais – como UNE e MST -, estavam o Conlutas, o Conlute, a Intersindical, que até pouco tempo atrás resistiam a organizar manifestações unificadas. Tal unidade pode representar um alento ao movimento social, à medida que consegue se unificar para combater um inimigo maior.


 


Juliana Borges, do DCE Livre da USP, destacou que a palavra de ordem do movimento deve ser a unidade. ''O DCE da USP aponta o caminho da unidade com os movimentos sociais para que possamos ocupar a universidade quantas vezes for necessário''.


 


Fernando Borgonovi, pelo Vermelho-SP