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Mercado deu meio passo para trás, diz Nobel de Economia

Prêmio Nobel de Economia do ano passado, Edmund Phelps desmistifica o impacto da crise imobiliária norte-americana na economia mundial e mesmo nos mercados financeiros. Para Phelps, a atual turbulência passará em poucos meses e depois ficará restrita ao s

Será essa a mensagem que o Nobel de Economia dará nesta quinta-feira (23) a uma platéia de mais de 800 pessoas, reunidas em Campos do Jordão pela BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), para discutir os avanços dos mercados e a natureza da atual crise financeira.



Leia abaixo trechos da entrevista concedida por Phelps à Folha de S.Paulo:



O que o senhor vai dizer amanhã [hoje] sobre a crise para uma platéia internacional de mais de 800 pessoas seriamente preocupadas com a extensão e a duração da atual turbulência nos mercados?
Vou dizer que os mercados, especialmente o de crédito, perderam a noção dos preços das dívidas. O que custava US$ 100 [de dívida] já não vale mais isso, e poucos sabem quanto vale agora. Vou dizer também que haverá respostas de dentro e de fora do mercado para corrigir eventuais excessos. Talvez vejamos uma maior regulação do setor de crédito, até com a criação de novas instituições para lidar com isso. Haverá progressos humanos e maior capacidade de regulação para corrigir esta crise. Também vou dizer que 90% desse problema terá sido resolvido em poucos meses. O maior problema ficará restrito ao mercado de crédito, que vai absorver a maior parte das perdas e mudar a forma como concede empréstimos. Diria até que haverá um sucesso considerável na economia real em absorver a crise e seguir seu caminho anterior a ela.



Quanto tempo mais teremos de incertezas?
Os mercados já estão reagindo bem melhor. Tivemos [ontem] um novo dia positivo. O quarto seguido no Brasil. As coisas vão se assentando. Tivemos progressos em lidar com crises nos mercados de ações. Apenas dois meses atrás, a Bolsa de Nova York estava na maior pontuação. Estávamos no ápice de um boom mundial. O cenário mais provável é que vamos dar um meio passo para atrás do [ápice em] que estávamos antes da crise.



Qual o impacto da crise para o Brasil e os emergentes?
É muito cedo para dizer o tamanho do estrago para os mercados emergentes. O que posso dizer é que eles estão mais aptos para lidar com a crise. O Brasil vai sentir o impacto por alguns meses.



O Fed [BC dos EUA] e os bancos centrais vão baixar os juros?
Acho que os juros vão ficar mais baixos por algum tempo. Os bancos centrais vão deixar de lado sua preocupação de longo prazo com a inflação para lidar com as necessidades do mercado de curto prazo. Seria uma loucura o Banco Central Europeu aumentar os juros no próximo mês. Espero que não façam isso, pois vão parecer estúpidos. Não ficaria surpreso de ver juros menores nos próximos meses. Mas os bancos centrais não são as únicas forças determinantes dos juros e com poder para atuar na crise dos mercados.



Qual o papel do Fed durante a crise?
Não estou certo de que o Fed é o agente governamental para se endereçar a fraquezas estruturais do mercado de crédito. O Fed tem um mandato de operar no mercado de títulos do governo para manter a inflação em controle. O que eles deveriam fazer para lidar com problemas estruturais no mercado de crédito? Não estou certo de que seriam eles os agentes de supervisão desses mercados.



Quem cuidaria disso?
Deveria ser uma agência supervisora do crédito. Também espero que o Congresso americano não faça uma legislação para o setor com rapidez. Há questões que merecem uma reflexão de um a dois anos antes de se pensar em uma regulamentação.



Os mercados aprenderam com as últimas crises?
[risos] Pelo que estamos vendo agora… De jeito nenhum.



Fonte: Folha de S.Paulo