Publicado 27/08/2007 12:27 | Editado 04/03/2020 17:19
Nos inicio dos anos 60 do século passado, a burguesia aliada a grupos de militares das três forças que eram reacionários, montaram esquemas de pressão, visando o desgaste do Governo Jango. Eles não aceitavam os avanços da mobilização sindical e estudantil, aliados com outros segmentos progressistas, que cobravam do Governo Federal a radicalização nas reformas de base.
A exigência era de promover a reforma agrária, da educação, da saúde, atingindo também o mundo do trabalho. Eram tempos onde a militância se fazia presente. Mas estavam presentes também algumas divergências. Uns queriam as mudanças de imediato, fingindo não ver que a burguesia ainda dominava áreas importantes. Outros, mais comedidos, eram criticados pelas posições mais moderadas. Mas a burguesia estava vigilante. Com assessoria estrangeira, até um padre norte-americano veio ajudar uma parte atrasada da Igreja Católica e juntamente com a classe empresarial, político reacionários e militares de direita, promoveram várias manifestações.
E em 31 de março foi dado o golpe, com a derrubada do Presidente Jango e a instauração da ditadura militar, que só veio a terminar em 1984,, na eleição de José Sarney, ,pelo Congresso Nacional, em eleição direta. Enquanto durou, a ditadura torturou, matou, exilou, enfim, promoveu uma carnificina. Muitos militantes valorosos deram sua vida na luta pela redemocratização do país.
Estamos agora vivendo uma conjuntura que não é igual, mas tem alguma semelhança com aqueles dias de 64. A mais recente demonstração de atraso, de ação rancorosa da burguesia que não aceita perder o comando foi caracterizada no ridículo movimento denominado “cansei”. Uns poucos artistas, alguns empresários e as chamadas “dondocas”, madames que vivem nadando em ouro e jóias juntaram-se à seção paulista da OAB e saíram às ruas, num momento de muita emoção em razão da morte de quase 200 pessoas, no maior desastre da nossa aviação comercial. E os protestos não eram contra a corrupção no governo paulista. Ou contra a TAM.
Mas contra o Governo Lula. E mostrou bem o nível ético dessa gente. Um empresário teve o desplante de declarar publicamente qual o seu conceito em relação ao estado do Piauí. Afirmou simplesmente que se o Estado acabar, não vai fazer falta. E outro empresário determinou que seus empregados participassem das manifestações, sob pena de represálias. A OAB nacional não aprovou a ação em S.Paulo.
Estamos diante de uma situação que merece uma reflexão de quantos tem uma visão revolucionária e socialista. Não dá para ficar com atritos, sem discussão séria e transparente sobre determinados objetivos. E sem a fraternidade que deve orientar o comportamento de quem luta por uma nova sociedade. Não podemos deixar espaços para essa burguesia rançosa. E qualquer ação isolada pode mostrar uma fragilidade e prejudicar o andamento que pretendemos para a nossa luta.
Temos de ter posição, mas não podemos nos julgar os donos da verdade. E temos de respeitar a opinião de quem se dispõe a discutir, a buscar um rumo coerente para o movimento. Não temos tanto tempo assim. E quanto mais demorar a busca das iniciativas, mas riscos estaremos correndo.
Uriel Villas Boas – Coordenação da CSC – Baixada Santista