Nassif: Selic definirá o nó central da política econômica
Artigo publicado nesta sexta-feira (31) pelo jornalista Luis Nassif analisa a importância que o Banco Central brasileiro terá para definir o rumo da economia brasileira, após a recente crise financeira, ao definir quais serão as próximas variações da taxa
Publicado 31/08/2007 12:16
“Fosse um país racional, o Banco Central trataria de atuar sobre os spreads bancários (parte decorrente da tributação, parte de exageros), e, com isso, teria uma estrutura de taxas de juros que responderia a qualquer soluço da Selic”, diz Nassif.
Leia abaixo a íntegra do texto:
A crise a taxa Selic
O nó central da política econômica será a definição da taxa Selic pelo Banco Central. É um dos grandes impasses para definir os próximos anos da economia brasileira.
Teoricamente, pelo sistema de metas de inflação, o Banco Central teria como único foco a inflação. Em economias normais, taxas mais altas reduzem a atividade econômica, reduzem os investimentos em ativos reais, produzindo deflação ou redução no ritmo de elevação dos preços.
Na prática, o que tem ocorrido é um outro jogo. O BC mantém as taxas de juros muitos elevadas, atrai capitais de risco que, somados aos dólares adicionais do saldo comercial, pressionam o dólar. Com a apreciação do real, há uma redução nos preços dos produtos comercializáveis (aqueles importados ou exportados), cujos valores são expressos em dólares.
É um efeito por vias tortas. Por vias retas o efeito é mínimo porque há um vastíssimo diferencial entre a taxa Selic e as taxas na ponta – cobradas das pequenas e médias empresas e do consumidor, através das taxas de financiamento.
Fosse um país racional, o Banco Central trataria de atuar sobre os spreads bancários (parte decorrente da tributação, parte de exageros), e, com isso, teria uma estrutura de taxas de juros que responderia a qualquer soluço da Selic.
Em vez do bisturi, recorre ao serrote da apreciação cambial, com todas as contra-indicações conhecidas – esmagamento da atividade exportadora, invasão de importados e tudo o mais. Joga-se fora um projeto de nação pelo uso burro e acrítico de uma ferramenta não aculturada.
Em todo esse período, o BC fingiu que não acompanhou as possibilidades de arbitragem entre taxas de juros. Há duas formas de arbitragem. Quando sente que uma moeda (o real) pode se valorizar, e que os juros são muito elevados, o investidor toma crédito em moedas estabilizadas (como o yen) e vem aplicar em reais, ganhando nos juros e na apreciação da moeda.
A segunda forma de arbitragem é na composição das carteiras de muitos fundos. De acordo com as avaliações das agências de risco, o fundo reserve uma parte da carteira para títulos de países emergentes. Tem duas alternativas de aplicação: ou em títulos da dívida soberana brasileira negociados no mercado internacional; ou trazendo dólares para aplicar em títulos públicos e valores mobiliários no Brasil.
Lá fora os títulos rendem taxas internacionais mais taxa de risco Brasil. Quando as taxas internas superam em muito esses valores, aumenta o fluxo de dólares para aplicação aqui dentro, acelerando ainda mais a apreciação do real.
Depois que a crise internacional permitiu alguma desvalorização do real, e como não há pressões visíveis nos preços (a não ser aumentos pontuais em algumas commodities agrícolas) o correto seria o BC manter a regra, focar nos preços, e manter a queda da taxa Selic em meio ponto.
Haveria saída de dólares da economia. É possível que a desvalorização cambial fosse um pouco maior. Mas abriria espaço para tirar a economia definitivamente da armadilha da apreciação cambial.
Infelizmente, falta coragem ao BC.
Fonte: Blog do Nassif