Estudiosos discutirão fome e pobreza no mundo
IV Encontro Tensões Mundiais será aberto nesta segunda-feira, às 19 horas, no auditório da Reitoria da UFC promovido pelo Laboratório das Nacionalidades.
Publicado 02/09/2007 16:48 | Editado 04/03/2020 16:37
''A persistência e o agravamento de desigualdades e discriminações que desafiam as tensões mundiais'' são temas a serem abordados e debatidos no IV Encontro Tensões Mundiais, promovido pelo Laboratório das Nacionalidades, que se inicia nesta segunda-feira (3). A conferência de abertura, ''A Pobreza no Mundo'', será proferida pelo professor Pierre Salama, da Universidade de Paris, membro do CNRS (Conselho Nacional de Pesquisas Científicas, na sigla em francês). Pierre Salama é considerado um dos maiores especialistas em pobreza no mundo, especialmente na América Latina.
Os temas pobreza e fome se fazem presentes tanto na conferênciade abertura quanto nas palestras das professoras Mônica Martins (''O Banco Mundial e a Pobreza das Nações) e Elza Braga (''As Estratégicas Contra a Fome'') e tema de debate de sessão (''A Absorção do Conceito de Pobreza pelo Banco Mundial'', a cargo do professor Francisco Adjacir Farias.
Mas a programação inclui temas como ''Percepção Estratégica'', palestra do professor e cientista social Eurico de Lima Figueiredo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seus estudos e pesquisas tem se concentrado, em geral, no campo das relações entre Forças Armadas e Sociedade e, mais recentemente, no campo dos estudos estratégicos da defesa e da segurança. É Coordenador Geral do Projeto Rede Brasil de Defesa, apoiado pela CAPES e pelo Ministério da Defesa.
''Sinais dos Grotões'', assunto a ser desenvolvido pelo professor e antropólogo Otávio Velho, do Museu Nacional. Os grotões (populações das zonas rurais brasileiras), nas últimas eleições, vêm desafiando os tradicionais formadores de opinião. Otávio Velho é professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador sênior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Foi editor científico da revista Ciência Hoje e membro do Conselho Diretor do Projeto Ciência Hoje, de 1997 a 2001.
Conflitos internacionais estão presentes na programação do IV Encontro Tensões Mundiais, com as palestras ''Nacionalismo e Fundamentalismo''), do professores Josênio Parente, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), ''Cadê o Internacionalismo Proletário'', do professor Manuel Domingos, da Universidade Federaldo Ceará; e em sessões de debate, com ''O Novo Nacionalismo Palestino'', a cargo da professora Alana Caetano Freire; ''O Outro Lado do Atlântico: O Brasil Revelado na África, pela professora Daniele E. Mourão; ''Nacionalismo e Unidade Latino-Americanos em José Martí, pela professora Gislania de Freitas Silva.
O encontro discutirá ainda o tema Discursos para a Nação: Educação, Literatura e Movimento Popular.
PROGRAMAÇÃO
03/09 – segunda-feira
19h – Abertura:Auditório Castello Branco – UFC
19h30min – Conferência: ''A Pobreza no Mundo'' – Pierre Salama – Universidade de Paris
04/09 – terça-feira:
9h – Palestras: Auditório Luiz Gonzaga – UFC
''A Percepção Estratégica'' – Eurico L. Figueiredo – UFF
''Sinais dos Grotões'' – Otávio Velho – Museu Nacional
''Nacionalismo e Fundamentalismo'' – Josênio Parente – Uece
14h30min: Palestras:
''O Banco Mundial e a Pobreza das Nações'': Mônica Martins – Uece
''As Estratégias Contra a Fome'': Elza Braga – UFC
''Cadê o Internacionalismo Proletário?'': Manuel Domingos – UFC
05/09 – quarta-feira – 9h: Auditório Luiz Gonzaga – UFC
Sessão 1 – Questões Teóricas na Construção das Nacionalidades
O Surgimento do Soldado da Nação – As Proposições de Maquiavel: Aglailton de Oliveira Magalhães
Entre a Classe e a Nação: O Internacionalismo de Gramsci: Daniel de Oliveira R. Gomes
A Absorção do Conceito de Pobreza pelo Banco Mundial: Francisco Adjacir Farias
Sessão 2 – Discursos para a Nação: Música e Arquitetura
''Minha Gente Sofrida'': Os Brasileiros de Chico Buarque: Fabiane Batista Pinto
A Construção do Brasil sob a Ótica do Estado Novo: Mateus Perdigão
Mensagens Nacionais de Lúcio Costa: Napoleão Ferreira da Silva Neto
Sessão 3 – Construção do Patriotismo pelos Militares
O Culto à Nação no Colégio Militar: Luís Gustavo Guerreiro Moura
Formando Soldados da Pátria – A Experiência da Força Expedicionária Brasileira: Sebastião André Alves de Lima Filho
14h: Auditório Luiz Gonzaga – UFC
Sessão 4 – Discursos para a Nação: Educação, Literatura e Movimento Popular
Educação para a Nacionalidade: A Obra de Anísio Teixeira: Camila de Castro P. Costa
Macunaíma e o Povo Brasileiro com Caráter em Formação: Nayara Estevam Marinho
MST: Um Projeto Popular de Nação: Leonardo Lima Vasconcelos Carneiro
O Povo e a Construção da Nação na Obra de Oswald de Andrade: Maria Rosalete Pontes
Sessão 5 – Experiências de Construção das Nações
O Novo Nacionalismo Palestino: Alana Caetano Freire
A Participação Popular no Sonho Bolivariano: Daniele E. Mourão
Nacionalismo e Unidade Latino-Americanos – Gislania de Freitas Silva
''Desigualdades são ameaça''
''Hoje, cerca de 100 países, com uma população de 4,8 bilhões de pessoas, recebem assistência do Banco Mundial.'', diz a professora Mônica Dias, uma das conferencistas do encontro.''Na concepção do Banco Mundial, a pobreza seria um problema típico de nações 'em desenvolvimento´ ou de 'baixa renda´ que necessitam de ajuda externa. A explicação é limitada. Além de fundamentar-se em indicadores quantitativos, privilegia a dominação da periferia pelo centro como o cerne da dinâmica capitalista. Embora haja mais pobres naqueles países submetidos a mecanismos de trocas desiguais no mercado internacional, a pobreza afeta a todas as nações: desprovidos de meios de sobrevivência, amplos contingentes populacionais ameaçam a unidade nacional e a soberania do Estado'', diz Mônica..
''Internacionalismo é ilusão''
O chamado internacionalismo proletário, bandeira de luta dos partidos de esquerda nos séculos XIX e XX, perdeu hoje o sentido, diz o professor Manuel Domingos, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC. Ele fará a palestra ''Cadê o Internacionalismo Proletário?'', no IV Fórum Tensões Mundiais, promovido pelo Observatório das Nacionalidades ''Hoje, esse internacionalismo tem-se arvorado em organizações não-governamentais sem estrutura orgânica, como o Fórum Social Mundial'', acrescentou.
Manuel Domingos é de opinião que a internacionalidade, hoje, se sustenta mais nas bandeiras de preservação ambiental e de opção sexual do que nas de cunho econômico.
''Essa reflexão'', prossegue Manuel Domingos, ''nos leva a crer que a bandeira do internacionalismo proletário foi uma grande ilusão. Nunca funcionou e serviu mais, no século XX, para justificar a intervenção do império soviético. Com o fim da URSS, explodiram os nacionalismos no Leste Europeu.''
Elza Braga: ''Participação da sociedade''
A superação da exclusão social só se dará quando houver intervenção do estado e protagonismo (participação) da sociedade civil. É o que a professora Elza Braga, da Universidade Federal do Ceará, defenderá na palestra ''Estratégias Contra a Fome'', no IV Encontro Tensões Mundiais, promovido pelo Laboratório das Nacionalidades.
''É preciso'', disse Elza Braga, ''que os setores excluídos se organizem e passem a ter um papel pro-ativo como sujeiros sociais, que tenham plena noção da verdadeira cidadania e consciência de que os benefícios do Estado são um direito''.
Ela destaca a importância, no Brasil, do Conselho de Segurança Alimentar, ''um espaço híbrido, formado pelo Governo e pela sociedade civil. ''É preciso que haja essa interação entre a sociedade e o Estado para a concretização das políticas públicas de transferência de renda''.
Observatório faz estudos e edita revista
O Observatório das Nacionalidades é integrado por pesquisadores de várias instituições e áreas de conhecimento. O grupo desenvolve estudos teóricos e empíricos acerca da construção dos estados nacionais, entidades políticas e culturais que estruturam as relações entre os povos, estimulando a produção sistemática de conhecimento, formando jovens pesquisadores, promovendo debates e divulgando sua produção sobre a construção das nações.
Edita a revista bilíngue Tensões Mundiais (português e inglês, na maioria dos artigos, havendo também textos em francês), que já está no volume 2. A publicação traz artigos de renomados cientistas sociais sobre a questão das nacionalidades e dos conflitos internacionais.
Fonte: O POVO