Projeção de Ciro Gomes cresce e surpreende o próprio PT
A grande mídia, com destaque para as revistas semanais Veja e Época, abre a semana realçando a projeção cada vez mais intensa do deputado federal Ciro Gomes (PSB-PE). Apontado como um dos nomes mais competitivos para as eleições presiden
Publicado 09/09/2007 22:35
Época arrisca: foi a ascensão de Ciro que precipitou, dentro do terceiro congresso do PT, a decisão de definir que o partido terá candidato próprio a sucessão de Lula. O parlamenta, dizem analistas, está diante do desafio de administrar, com cautela, os ventos políticos que começam a levantar uma possível candidatura.
Ele sabe que as chances de chegar ao Planalto numa terceira tentativa dependem de sua capacidade para harmonizar uma revoada de aliados — o que torna o desafio mais difícil. Em menos de uma semana, no entanto, três episódios fizeram subir um balão que, pelos planos de vôo, só deveria decolar num horizonte mais próximo das eleições de 2010:
– Na sexta-feira 31, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) divulgou a lista dos “dez mais influentes” do Congresso, na opinião dos próprios parlamentares. Embora seja um deputado estreante, o nome de Ciro estava lá.
– No sábado 1º, o presidente Lula, falando ao congresso do PT, disse que o partido deveria considerar a possibilidade de apoiar um candidato de um partido aliado. A título de exemplo, citou apenas um nome: Ciro Gomes.
– Na segunda-feira 3, o Bloco de Esquerda — que reúne PSB, PDT, PCdoB, PMN, PHS e PRB — selou um pacto para as eleições municipais do ano que vem. O ponto alto do encontro foi a defesa de uma candidatura única do grupo em 2010.
Qualquer político deveria festejar uma coincidência de notícias positivas desse porte. Dono de um vasto contencioso com adversários, entre os quais não raramente incluiu a imprensa, a primeira reação de Ciro aos ventos de 2010 é radical. “Isso é só para me queimar”, dizia o deputado na quarta-feira. Mas ressalvava: “Quem já foi candidato duas vezes não pode simplesmente dizer que não é mais, especialmente se disputou contra o ícone chamado Lula”.
Em 1998, Ciro foi candidato ao Planalto pelo PPS e ficou em terceiro lugar na eleição, atrás de Lula e do vencedor, Fernando Henrique Cardoso. Em 2002, novamente candidato pelo PPS, ficou em quarto lugar no primeiro turno, atrás de Lula, José Serra (PSDB) e Anthony Garotinho (então no PSB).
O tempo da disputa
O que nenhum político costuma aceitar é ver seu nome exposto a uma distância tão grande da campanha eleitoral, quando ainda não teceu sua rede de apoios. “Abrir esse tipo de debate, num governo que tem apenas oito meses, é de uma absoluta inconveniência política e de uma enorme irresponsabilidade com o país”, afirmou à Época.
O balão Ciro Gomes vai ganhando visibilidade, em primeiro lugar, pela pulverização de nomes com densidade eleitoral no PT ou na constelação de 11 partidos aliados ao governo. Uma pesquisa feita pelo instituto Ipsos em agosto mostra que, entre os possíveis candidatos da base aliada, Ciro é o que teria melhores chances a três anos da eleição. De mil pessoas entrevistadas, 32% demonstraram preferência pelo candidato do PSB, quase o triplo dos 12% da ex-prefeita Marta Suplicy. Bem abaixo vêm os ministros Tarso Genro e Dilma Rousseff.
O Ipsos testou também Ciro contra possíveis candidatos da oposição. Ele perde para José Serra (27% a 39%), fica em empate técnico com Alckmin (29% em relação a 33% do tucano) e ganharia de Aécio Neves (39% em comparação a 15 %). Ciro prefere destacar o cenário adverso apontado pela pesquisa. “A oposição é potencialmente favorita para a sucessão”, diz. “Será favorita, de fato, se na data das eleições não pudermos apresentar à população um êxito incontestável do governo Lula.”
Ele enxerga terríveis obstáculos ao “êxito” do governo, caso os aliados se dividam e percam batalhas no Congresso, como a da prorrogação da CPMF. Trata-se de uma votação crucial para Lula. Se a renovação não for aprovada até dezembro, o governo perderá uma receita anual de R$ 38 bilhões. “Se a oposição quiser dar um tiro no peito do presidente Lula, a oportunidade é esta: se a aprovação da CPMF atrasar um dia, adeus arrecadação, adeus investimentos, adeus obras.”
Para Ciro, a equação presidencial é bem mais simples no PSDB, porque se resume a um acerto entre os governadores José Serra e Aécio Neves. No campo do governo, Ciro vê muitas possibilidades, entre as quais inclui o ministro da Defesa, Nelson Jobim, como potencial candidato do PMDB.
Economia, o impasse
Ciro chegou à Câmara com 750 mil votos – a maior votação proporcional entre os deputados – e a promessa de se comportar como deputado-aprendiz, com planos até de escrever um livro de crônicas nas horas vagas. Não demorou para mostrar suas armas e comandou, com Aldo Rebelo (PCdoB-SP), a formação do Bloco de Esquerda — uma bancada de 77 deputados, quatro a menos que a do PT. Ciro explica que o bloco não é uma frente anti-PT, como a mídia faz parecer.
O passado de Ciro, um político que chegou ao governo do Ceará com apenas 34 anos de idade, em 1991, desperta muitas dúvidas sobre como agiria um presidente Ciro Gomes, especialmente em questões econômicas. Em suas duas tentativas de chegar ao Planalto, ele teve gurus tão distintos quanto o filósofo de Harvard Roberto Mangabeira Unger, de linhagem intervencionista, e o economista de Princeton José Alexandre Scheinkman, francamente liberal.
Em junho de 2002, o candidato Ciro chegou a encabeçar as pesquisas no Brasil, mas apavorou os mercados em inglês, falando em “asset liability management”, algo que, em bom português, seria um calote ao menos parcial da dívida do governo.
Ele elogia a equipe de Lula por ter liquidado antecipadamente a dívida externa. Para enfrentar a dívida interna, a receita de Ciro é aumentar a arrecadação e manter a CPMF. Quando rompeu com Fernando Henrique, em 1995, Ciro foi um crítico feroz das privatizações, mas hoje torce o nariz para a proposta de reestatizar a Vale do Rio Doce, defendida no congresso do PT. “Alguém pensou em como indenizaríamos a Vale?”, pergunta.
Há quatro meses, segundo a Veja, Ciro passou a viajar para todas as regiões do Brasil em encontros estaduais, numa agenda que ocupa todos os finais de semana do ex-ministro do governo Lula. Em São Paulo, por exemplo, ele tem passado pelo menos duas vezes por mês. A Minas, vai todos os meses.