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11/9: Seis anos depois, o erro infinito da Guerra ao Terror

Nada mais tragicamente irônico podia se imaginar na véspera deste sexto aniversário do 11 de Setembro: o dia reservou três notícias que exprimem plenamente o paradoxo da War on Terror (Guerra ao Terror) que desde os ataques ameaça o mundo e seu f

Não falo das dezenas de não-notícias, da mídia do mainstream e do senso comum, nem das dezenas de cotidianos episódios de morte, tragédias, civis assassinados em todos os fronts dessa guerra que se quer global e permanente, criando um deserto em torno das centrais de poder beligerantes. Falo sim de notícias políticas, algumas destinadas à especulação midiática, mas nas quais com trabalho se distingue a realidade, por trás do véu da propaganda.



O ressurgimento de Bin Laden



A primeira notícia é sem dúvida o retorno de Osama Bin Laden, ou seja, O Inimigo. Segundo retorno em quatro dias: depois da “lição americana” lançada via internet na sexta-feira passada pelo transfigurado e redivivo xeque do terror, foi anunciado para hoje (11) o timbre da Al Qaeda na mais ocidental lembrança do horror.



Completa-se desta forma o retorno de Osama Bin Laden, ainda que seja no espaço virtual da comunicação política ou nos veículos de mídia. Completa-se também o seu sentido, exatamente como era esperado pera parte confrontante: um espectro permanente, igual a si próprio no aniversário de seu delito. Em suma, o Inimigo Eterno da Guerra Infinita.



Pode-se concluir que a dupla reaparição só dará mais alento à trágica pantomima, também ela igual a si própria, que é o discurso único de George Walker Bush. Eu outras palavras: sei que serei mandado embora, sei que sou um pato manco, sei que dois terços dos meus próprios concidadãos hoje odeiam a minha guerra, mas continuarei a agir até o último instante para “terminar o serviço”. Tarefa, por sinal, já consignada explicitamente pela Casa Branca ao “próximo presidente”.
Assim, o fiasco continua a reproduzir-se, com o único intento de perpetuar-se no futuro, incidindo sobre as relações globais até onde for possível.



Portanto, é evidente que o xeque saudita sente-se o vencedor e como tal se pronuncia. Age assim porque o mecanismo que coprotagoniza enquanto Inimigo promete perdurar pelo menos por outros tantos anos. E porque, com base nos efeitos produzidos por este mesmo mecanismo, toda solução de continuidade imaginável no futuro terá grande dificuldade para triunfar, marginalizando rápida e linearmente a força acumulada por tudo que foi encarnado nestes seis anos pelo nome de Al Qaeda.



O depoimento do general Petraeus



O general Petraeus (comandante das tropas dos EUA no Iraque) entoou também ontem o contracanto que prova a eficácia dessa previsão da mensagem de Osama: o novo personagem da América em guerra no Iraque, principal front da War on Terror, apesar do fato de ter sido produzido abusivamente pela diplomacia de proveta de Colin Powell.



O general Petraeus, ontem no Congresso, só fez confirmar o quadro: nada de retirada; mesmo um repatriamento “prematuro” das tropas seria “uma catástrofe”. E projetou para o futuro do ano que vem o paradoxo realizado pela superpotência na Mesopotâmia: combater um inimigo que ali se instalou devido à sua própria opção de invadir e ocupar, com suas próprias mentiras como motivo.



A tirania de Saddam nada tinha com a Al Qaeda; depois de ter enforcado àquele, hoje se vê às voltas com seus homens para devolver ao lado sunita o pêndulo do poder teleguiado, pois sem isso são os xiitas, e aí o braço-de-ferro é com o Irã, mas em um duplo front, pois se terá dado ao emirado binladeriano um novo exército de “mártires”.



Não há nesta mecânica perversa nenhuma perspectiva que não seja de conflito e degenerativa. Voltar-se para os sunitas, no presente, na verdade não significa mais que reeditar a aliança com a extenuada frente dos regimes “moderados” do Oriente Médio, am primeiro lugar as monarquias do petróleo. Porém faze-lo será não apenas a construção de uma nova perspectiva catastrófica, o confronto com a potência xiita de Teerã, mas também a difusão de um virus jihadista que progrediu justamente na bacia sunita e que ainda poderá se reforçar mais que qualquer outra coisa no caso de um reavizinhamento dos xeques com Washington.



Afora tudo isso, há a expansão do bacilo da guerra, intrínseca à própria teorização de que o Oriente Médio vai “se democratizar”. Uma desestabilização que já causou conturbações na África, a partir da Somália, e mais além; mas que possui o seu motor mais potente a leste, na Ásia Central, onde se situa a verdadeira falha sísmica di sistema histórico em curso, a reorganização do equilíbrio global de poder produzida pelo gigantesco crescimento chinês.



O banimento de Sharif no Paquistão



Foi no Afeganistão que a War on Terror começou e é ali que ela exibe sua natureza, ao mesmo tempo falsa e destruidora. A terceira notícia política de ontem na verdade de Islamabad, Paquistão, com a prisão e imediato banimento do ex-primeiro ministro Sharif. O Paquistão, alter ego da empresa afegã dos EUA, encontra-se nos patamares históricos mínimos de democracia. O ocorrido, nas vésperas do fim do mandato do general-presidente Musharraf – que durante seis anos foi o aliado e simultaneamente o álibi dos EUA –, dirigindo o país face à onda integrista enquanto pactuava com ela, combatendo a Al Qaeda enquanto esta reproduzia seu comando no próprio Paquistão.



É o Paquistão que corre o risco de explodir, junto com Musharraf e o último, desesperado momento de seu regime. E isso teria reflexos incalculáveis em amplitude política e temporal.



O rompimento de qualquer vínculo com essa caravana de caos e morte armada por Bush Jr. nunca será demasiado rápido. Ele é condição para se poder contribuir realmente para com a superação de todos os seus caudilhos, a começar por Bin Laden.



* Fonte: http://www.liberazione.it/; intertítulos do Vermelho