Batista Jr. e o PIB de 5,4%: estamos crescendo demais?
O nosso “complexo de vira-lata” tem múltiplas facetas. Uma delas, adquirida nos últimos 20 anos, é o medo de crescer. Sempre que a economia brasileira mostra um pouco de vigor, ergue-se, sinistro, um coro de vozes falando em “excesso de demanda”, “reto
Publicado 13/09/2007 12:56
O IBGE divulgou ontem as Contas Nacionais do segundo trimestre de 2007. Não há dúvida de que a economia está pegando um certo ritmo. O crescimento foi significativo, embora tenha ficado um pouco abaixo do esperado. O PIB cresceu 5,4% em relação ao segundo trimestre do ano passado. A expansão do primeiro semestre foi de 4,9% em comparação com igual período de 2006.
O crescimento está baseado fundamentalmente na demanda interna, e o destaque foi a expansão do investimento fixo: 13,8% em relação ao segundo trimestre de 2006. O setor mais dinâmico foi a indústria, que cresceu 6,8%. A agropecuária praticamente não cresceu, mas o setor de serviços registrou aumento de 4,8%.
A turma da bufunfa não pode se queixar. Entre os subsetores do setor serviços, o segmento que está “bombando” é o de intermediação financeira e seguros -crescimento de 9,6%. O Brasil continua sendo o paraíso dos bancos e demais instituições financeiras.
Não obstante, os porta-vozes da bufunfa financeira, pelos menos alguns deles, parecem razoavelmente inquietos. Talvez por um reflexo pavloviano, temem que o crescimento econômico possa desembocar em aceleração da inflação.
Há razões para esse medo? É muito duvidoso. Ressalva trivial: é claro que o governo e o Banco Central nunca podem descuidar da inflação. Se eu fosse cunhar uma frase digna de um porta-voz da bufunfa, eu diria (parafraseando uma outra máxima trivializada pela repetição): “O preço da estabilidade é a eterna vigilância”.
A aceleração não é excepcional.
O país se recupera de longo período de
crescimento quase sempre medíocre
Entretanto, a estabilidade não deve se converter em estagnação. Ou seja, o que queremos é a estabilidade da moeda nacional, mas não a estabilidade dos níveis de produção e de emprego (e desculpe, leitor, a homenagem ao Conselheiro Acácio).
A aceleração do crescimento não parece trazer grande risco para o controle da inflação. Ela não tem nada de excepcional. O Brasil está se recuperando de um longo período de crescimento econômico quase sempre medíocre, inferior à média mundial e bastante inferior ao de quase todos os principais emergentes (com exceção do México, outro país que tem se notabilizado por combinar estabilidade e estagnação). Ainda temos margens substanciais de capacidade produtiva não utilizada. As taxas de desemprego e subemprego cederam, mas continuam elevadas. A maior parte da expansão da demanda interna está sendo acomodada por aumentos de importação (permitida pela situação folgada das contas externas) e por ampliação das quantidades produzidas domesticamente. Temos, ao mesmo tempo, aumento do grau de utilização da capacidade preexistente e aumento do estoque de capital, em razão dos novos investimentos produtivos.
As recentes pressões sobre os índices de preços se devem, em parte, a problemas localizados de oferta, ainda que a expansão da demanda também possa ter contribuído. As expectativas de inflação para 2007 e 2008 aumentaram um pouco, mas continuam bem comportadas. Além disso, a economia brasileira vem resistindo bem às turbulências financeiras internacionais desde agosto.
No primeiro semestre deste ano, pela primeira vez em muito tempo, a economia brasileira conseguiu crescer a uma taxa próxima à da economia mundial. Mas ainda estamos crescendo menos do que quase todos os principais emergentes (o México novamente é a exceção).
O Brasil apenas começou a tomar um certo impulso. Não vamos abortá-lo por medo da inflação.
* Economista, diretor-executivo no FMI, onde representa nove países latino-americanos; fonte: Folha de S.Paulo