Sem categoria

Tabaré aproveita popularidade para reformar sistema de saúde

Apoiado em um forte crescimento da economia e elevados índices de aprovação, o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, está encaminhando ao Congresso uma das mais ambiciosas reformas de seu governo, a do sistema de saúde. O cerne da reforma é criar um sist

Todos os trabalhadores pagam para sustentar o sistema público, que só é gratuito para quem apresenta atestado de pobreza. O sistema privado só está acessível aos trabalhadores formais e não permite inclusão dos filhos e outros dependentes, para os quais os responsáveis têm que pagar à parte.



Pelo novo sistema – que poderá entrar em vigor no ano que vem – todos serão atendidos pela rede pública, inclusive os filhos menores de 18 anos, e não mais será necessário comprovar pobreza. Mas cada trabalhador terá que pagar 6% de seu salário mensal para financiar a rede de saúde, o que é o dobro do que se paga atualmente.



“A intenção da reforma é boa, mas tem o problema de como financiá-la”, comentou o cientista político Daniel Bouquet, do Instituto de Ciência Política da Universidade da República do Uruguai. Ao completar seu terceiro ano de mandato, essa reforma é um dos grandes desafios do governo Vázquez, na opinião de Bouquet. “O desenho da reforma já está concluído e está sendo implantada em partes. Uma lei já foi aprovada, mas há divisões dentro do governo sobre o tema”, afirmou.



Possíveis entraves



As chances de aprovação no Congresso são boas, já que a frente de partidos que apóia o governo tem ampla maioria. Mas Vázquez estará submetendo sua força e liderança políticas a outro grande teste junto ao eleitorado, depois de ter aprovado reformas altamente polêmicas como a reintrodução do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF), que havia sido abolido há quase 40 anos do país.



O IRPF começou a ser pago em agosto e os uruguaios ainda tentam entender a nova realidade. Não foi feita nenhuma medição sobre a reação pública e entre as críticas mais sérias, por enquanto, está uma denúncia do sindicato das empregadas domésticas de que, desde que começou a ser recolhido o Imposto de Renda, houve cerca de 150 demissões, justificadas pelos patrões em função do novo imposto.



Nestes três anos, Vázquez cumpriu duas promessas de campanha que resultaram em mudanças expressivas no país, na opinião do diretor da seção uruguaia da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso), Carlos Moreira.



Uma delas foi a implantação de um Plano Nacional de Atenção à Emergência Social (Panes, uma espécie de bolsa-família) e a outra foi o fortalecimento dos sindicatos. O Panes começou atendendo a cerca de 500 mil famílias e agora está sendo triplicado. No campo trabalhista, o governo aprovou uma lei que impede demissões de empregados por razões sindicais e outra que obriga as empresas que contratarem serviços terceirizados a serem solidárias nos litígios entre estas e seus trabalhadores.



Popularidade



As medidas diminuíram muito a aprovação do governo que, segundo Bouquet, ronda em torno de 40%. Mas quase não mexeram com a imagem de Vázquez que ostenta os mesmos 50% de aprovação do ano passado. “As pesquisas mostram que a aprovação do presidente continua alta, mas há um desencanto com o governo”, diz Carlos Moreira. “A figura do presidente está preservada”, conclui ele.



Fonte: Valor Econômico