Sem categoria

Rússia e China repudiam ameaças de ministro francês ao Irã

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, recomendou  o Ocidente nesta terça-feira (18), sobre o uso da força e a adoção de ações unilaterais contra Teerã usando como pretexto o programa nuclear mantido pela república islâmica. A

“Estamos convencidos de que nenhum problema moderno tem solução pela via militar, e isso inclui o programa nuclear iraniano”, declarou Lavrov em Moscou depois de conversar com o chanceler francês, Bernard Kouchner.



“Estamos muito preocupados com os cada vez mais freqüentes relatos referentes a uma ação militar contra o Irã estar sendo seriamente considerada”, disse, referindo-se aos comentários de Kouchner no último fim de semana. O chanceler disse, no domingo que, se o Irã continuar seu programa nuclear, os Estados ocidentais deveriam se preparar “para o pior, que é a guerra”..


 
Ainda segundo ele, líderes europeus estariam analisando a possibilidade de aplicar sanções a Teerã. Lavrov criticou a idéia de sanções unilaterais contra o Irã, seja por parte dos Estados Unidos ou da União Européia (UE).



“Se aceitarmos trabalhar em conjunto e isso estiver representado numa decisão coletiva no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas, então qual seria a finalidade de sanções unilaterais?”, questionou.



Baradei pede calma



Kouchner tentou escapar do puxão de orelha, dizendo que considera as negociações necessárias para evitar a possibilidade de guerra. Em comentários na edição desta terça-feira do jornal francês Le Monde, Kouchner tentou explicar as declarações, que foram minimizadas pelo Irã e levaram a um apelo por calma pelo chefe da agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU), Mohamed el Baradei.



“Não quero que se diga que eu sou incentivador de guerras. Minha mensagem foi uma mensagem de paz, de seriedade e de determinação”, alegou, segundo o jornal, na viagem rumo a Moscou.



“A pior situação é a guerra. Para se evitar isso, a atitude da França é negociar, negociar, negociar, sem medo de ser rejeitada, e trabalhar com nossos amigos europeus em cima de sanções com credibilidade”, tentou recuar o ministro.



Resolução pacífica



A China também deu um puxão de orelhas em Kouchner. Sobre as declarações, a porta-voz da chancelaria chinesa, Jiang Yu, disse que Pequim não aprova o “recurso fácil de ameaçar com o uso da força nos assuntos internacionais”. Ela reiterou ainda que o governo chinês defende a continuidade das negociações para conseguir uma resolução pacífica ao conflito.



“Acreditamos que a melhor opção é pacificamente resolver a questão nuclear iraniana através de negociações diplomáticas, que são o interesse da comunidade internacional”, disse a porta-voz da Chancelaria chinesa.



Sarkozy mostra a sua cara



Para José Reinaldo Carvalho, secretario de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil, “O governo neo-direitista de Nicolás Sarkozy mostra a sua cara em política externa”.



“Trata-se de uma viragem de grandes proporções na posição internacional da França. Revela sem disfarces a opção atlantista e o alinhamento com o imperialismo norte-americano. As declarações do ex-socialista Kouchner, hoje ministro do Exterior, constituem uma demonstração eloqüente das ameaças á paz e à segurança do Oriente Médio contidas na orientação dessa nova direita”, analisa o dirigente.



“Infelizmente, em alguns círculos mal informados da esquerda brasileira o recente discurso do presidente francês apresentando as linhas gerais da política exterior recebeu manifestações de simpatia. Os fatos, entretanto, põem a nu a demagogia e realçam os riscos de uma parceria com uma Europa neoliberal,  militarizada e alinhada com a política de guerra dos Estados Unidos”, conclui.



Leviandade da mídia



Por sua vez, o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, minimizou as declarações de Kouchner. “Essas declarações divulgadas pelos meios de comunicação são diferentes das verdadeiras declarações (de Kouchner) e não as levamos a sério”, segundo informou a agência de notícias Irna.



As declarações de Ahmadinejad, feitas após comparecer ao Parlamento para apresentar um relatório do programa de desenvolvimento de seu governo, foram uma resposta a declaração de domingo de Kouchner.



Casa Branca diz não



Em resposta às declarações feitas no domingo pelo presidente iraniano — nas quais propôs a realização de um debate público nas Nações Unidas e um “plebiscito global” para decidir quem tem razão —, a porta-voz da Casa Branca Dana Perino afirmou na segunda-feira que “não acredita que o presidente americano, George W.Bush, debata com Ahmadinejad” na próxima Assembléia Geral da ONU, no dia 25 de setembro.