Messias Pontes – Falta coerência aos “arautos da ética”

A cantilena da direita e da sua mídia conservadora, venal e golpista em defesa da moral e da ética peca apenas por uma coisa : carece de credibilidade. Isto mesmo. Essa gente desrespeita todos os brasileiros quando considera que só ela tem inteligência. E

O que a sociedade brasileira deseja e espera é que toda denúncia de corrupção seja apurada com competência e acima de tudo com isenção, doa a quem doer. Afinal, o dinheiro público tem de ser zelado e empregado em benefício de todos, em especial dos mais carentes. Comissão  parlamentar de inquérito existe para investigar denúncia  de malversação da coisa pública e todo desvio de conduta ética. Porém no Brasil a cpi está sendo vulgarizada e, por isto mesmo, perdendo a credibilidade.


 


Quem acompanha de perto a política brasileira sabe que a corrupção sempre existiu em nosso País, mas sabe também que ela foi institucionalizada no desgoverno tucano-pefelista (1995 a 2002). Quando o Coisa Ruim foi empossado em janeiro de 1995, cuidou logo de enterrar, através de decreto,  a Comissão Especial de Investigação criada por seu antecessor Itamar Franco. A partir de então todo tipo de crime foi praticado e sua apuração impedida pela subserviência de uma maioria parlamentar e principalmente pela omissão e conivência do Ministério Público Federal que tinha no comando a figura nefasta do procurador Geraldo Brindeiro que logo transformou-se no engavetador-geral da República. Este entrou para a história pela lata do lixo.


 


A hipocrisia tucano-pefelista é tamanha que ofende a inteligência dos brasileiros. Eles agora se autodenominam de “aliados da ética” e decidiram tomar medidas de caráter emergencial para “moralizar o Senado”.  Entre essas medidas, não participar mais de sessões presididas por Renan Calheiros enquanto ele for alvo de processos no Conselho de Ética da Casa; trabalhar pelo fim do voto secreto e pela aprovação de projeto de lei instituindo o afastamento automático dos membros da Mesa Diretora e membros de comissões que estejam sendo investigados pelo Conselho de Ética.


 


Se toda essa hipocrisia da direita e da sua mídia conservadora, venal e golpista causa revolta, também causa  profunda tristeza a incompetência da maioria da esquerda, notadamente do PT. Ficar silente diante de tanta hipocrisia é ser conivente com ela. Deixar os “arautos da ética” cantarem de galo é no mínimo covardia. Todos sabem que os que estão agora defendendo o fim do voto secreto foram os mesmos que em março de 2003 votaram contra a proposta de emenda constitucional do senador petista Tião Viana.


 


O discurso do líder tucano Arthur Virgílio foi um verdadeiro libelo em favor do voto secreto. Ele argumentou que o voto secreto é o mais democrático possível porque livra o parlamentar das pressões da sociedade, da família, do poder econômico e da imprensa. Tasso Jereissati, do PSDB; Marco Maciel e José Agripino, do DEMO; e outros “arautos da ética”, também votaram contra a PEC do senador Tião Viana.


 



O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, vai apresentar ao Supremo Tribunal Federal o “tucanoduto” mineiro. São mais de cinco mil páginas contendo nitroglicerina pura que precisam ser divulgadas para conhecimento geral. O relatório da Polícia Federal afirma que “constatou-se a existência de complexa organização criminosa que atuava a partir de uma divisão muito aprofundada de tarefas , dispostas de estruturas  herméticas e hierarquizadas, constituída de maneira metódica e duradoura, com o objetivo claro de obter ganhos os mais elevados possíveis, através de práticas de ilícitos e do exercício de influência na política e econômica local”.


 


Na frente do chamado “mensalão”, o “tucanoduto” é fichinha, já que mais de R$ 100 milhões foram captados através da agência do publicitário Marcos Valério, a SMP&B, porém os tucanos apresentaram à Justiça Eleitoral despesas de somente R$ 8 milhões. O atual governador mineiro, o tucano Aécio Neves, na época candidato a deputado federal, teria recebido R$ 110 mil. Candidatos petistas também são citados no relatório como tendo recebido R$ 880 mil.


 


Para evitar constrangimentos ao presidente Lula, o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guias, na época vice-governador e coordenador da campanha do então governador tucano Eduardo Azeredo, deve pedir afastamento do cargo, até porque é réu confesso, já que reconhece como seus os manuscritos de quatro folhas constantes no documento. Ontem ele negou ter sido coordenador da campanha de Azeredo. Mas deve se afastar até que tudo seja esclarecido.


O que todos esperam é que tudo o que for apurado e provado seja levado ao conhecimento público, e que os culpados sejam exemplarmente punidos, doa a quem doer. Se espera também que a base governista não fique silente, em especial os petistas que precisam sair das cordas e ir para o ataque no centro do ringue.




 


Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/Ce