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Carta Capital: Oscar Maroni e seus relatos do cárcere

Preso há mais de um mês, Maroni, dono da boate Bahamas, faz da cela, no distrito policial no qual está preso, uma sala de entrevistas. Por Eliane Scardovelli e Rodrigo Martins, para a revista CartaCapital.

Ele estudou em colégio de padres e foi coroinha. Nas missas, grudava a hóstia no céu da boca, o que imaginava ser um pecado mortal. Impedido de brincar com amigos antes de terminar a lição, fugia do quarto pela janela. Ao descobrir a travessura, a mãe, Maria de Lourdes, despia o garoto de 9 anos para constrangê-lo a não sair pelas ruas de Jundiaí, interior de São Paulo. A estratégia, acredita, deu certo. Três anos depois, o jovem partiu com os pais para a capital. Completou os estudos, graduou-se em psicologia, casou-se, teve filhos e montou uma pequena rede de boates relax for men.



Com o sucesso dos negócios, em especial o do clube Bahamas (hoje, fechado), Oscar Maroni Filho, 56 anos, fez fama e fortuna. Desfilava pela cidade de Jaguar. Em uma fazenda em Araçatuba (SP) passou a criar bois e cavalos. Investiu na construção de um hotel de luxo e na publicação de versões brasileiras das revistas eróticas Hustler e Penthouse. A superexposição gerou lucros, mas levantou suspeitas sobre as atividades do empresário. “Bonito ou feio, o que faço é lícito”, repete como um mantra.



A afirmação não convence o Ministério Público do Estado de São Paulo. Pela oitava vez, Maroni é denunciado por facilitar a prostituição e manter um bordel. Nos processos anteriores, saiu ileso dos tribunais. Desta vez, a acusação da promotoria inclui os crimes de tráfico de mulheres e formação de quadrilha. Quanto às denúncias de suborno à polícia, diz que uma ex-funcionária, demitida por justa causa, acusou-o por vingança. “Ela deve ter visto eu dar 3 mil reais para dois policiais que treinavam meu cachorro e fantasiou.”



Preso desde 14 de agosto, divide uma cela de 16 metros quadrados com cinco homens. “Sinto-me um garanhão aprisionado.” A cadeia é quase um escritório do empresário, de onde concede entrevistas coletivas, com direito a distribuição de bananas. Teatral, aparece diante dos jornalistas com metade da barba feita. “Você quer ver o bandido ou o empresário?”, pergunta, ao virar o rosto de um lado para o outro. A namorada, Maíra Bertolli, de 23 anos, parece não se importar com o visual. Arranca um voluptuoso beijo do amado ao deixar a carceragem.



Maroni recebe CartaCapital de calça jeans e camisa preta justa. “Aproveita que o delegado não está para me fotografar”, recomenda, ao tirar a camisa e exibir o peitoral. Atropela as perguntas com um longo discurso sobre as liberdades individuais, o nazismo, a resistência dos negros contra o apartheid. “Até escrevi o nome de Mandela na parede da minha cela.” Ridiculariza as acusações ao mostrar cópias de antigas setenças judiciais, todas favoráveis. “Tenho o direito de usar a imprensa para me defender”, afirma, convencido de que todo o episódio lhe pode ser útil.



Recentemente, o empresário ganhou destaque na mídia internacional. Na edição de 5 de setembro, sob o título “Sexo e segurança no ar se misturam na política brasileira”, o diário norte-americano The Wall Street Journal publicou uma reportagem na primeira página sobre a relação do empresário com a crise aérea. Isso porque a prefeitura considera o hotel de Maroni um obstáculo aos pousos e decolagens no Aeroporto de Congonhas. “O curioso é que todas as outras acusações surgiram após o Kassab falar besteira e lacrar o hotel”, diz.



Enaltecida nos velhos tempos, a imagem do “rei da noite paulistana” agora causa desconforto aos familiares. Mas todas as loucuras alardeadas pelo bon vivant são, de fato, verdadeiras?



“Nããão!”, antecipa a mãe, Maria de Lourdes, de 81 anos. “Li numa revista que ele já andou com 1.500 mulheres. Não é verdade.” A ex-mulher Marisa, contesta o argumento maternal: “É difícil para uma mãe acreditar. Esse é o motivo da nossa separação. Não sou mulher de harém”, comenta, sem demonstrar rancor.



Marisa e Maroni iniciaram o namoro no curso de psicologia da Faculdade Objetivo (hoje, Universidade Paulista). Lá, montaram uma lanchonete, com o auxílio de João Carlos Di Gênio, dono da instituição de ensino, conhecido pelas festas animadas que oferece a políticos. “Ele não cobrava aluguel. Se devo algo na vida a alguém, esse alguém é o Di Gênio”, comenta o dono do Bahamas.



Quando os administradores do prédio solicitaram a área da lanchonete para construir uma saída de emergência, Maroni passou a clinicar. A idéia de investir em boates surgiu após tratar um paciente com ejaculação precoce. “Recomendei que ele procurasse uma prostituta”, conta. O problema é que o psicólogo não conhecia uma “casa de bom gosto” para prescrever.



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