Bancários, Tem, Dá e Pode
A campanha nacional de negociação dos bancários de 2007 está em pleno vapor. Esse ano tem como lema, ''Gente vale mais''. Como era de se esperar os banqueiros, representados pela FEBRABAN (Federação Brasileira dos Bancos), continuam a adotar uma postura a
Publicado 25/09/2007 12:54 | Editado 04/03/2020 16:43
Por Iran Milanez**
Não poderíamos esperar coisa diferente vindo dos representantes do grande capital. Estranho mesmo foi a postura do nosso presidente da república, que num infeliz discurso para uma plenária de grandes empresários e representantes do setor financeiro nacional disse a seguinte frase: ''..eu sonho com o dia em que as empresas, bancos e a imprensa possam ganhar um pouco mais no Brasil…'' Essa foi uma demonstração, no mínimo, de falta de respeito com a
classe trabalhadora brasileira. Quanto será esse ''um pouco mais'' a que se ele se refere?
Só para pegarmos os exemplos dos bancos, o Bradesco passou de um lucro semestral de R$ 1,824 bilhões em 2004, para R$ 4,016 bilhões. 2007, um aumento superior a 120%.* No lado oposto dessa orgia financeira o governo sangra R$ 150 bilhões por ano para pagamentos de juros da dívida pública. Isso somente com pagamento de juros. É o conhecido ''bolsa-agiota''.*
Somados aos ganhos com o setor privado, os bancos tem por ano lucro de 317 bilhões de reais, o que representa, ''somente'', 20% do PIB Nacional. Ou seja, um quarto de tudo que o Brasil produz fica na mão de alguns poucos agiotas. Se pegarmos os oitos maiores bancos brasileiros e formamos uma nação, essa nação já nasce com o segundo maior PIB da América Latina.*
Para termos dimensão do tamanho dessa distorção, podemos fazer um paralelo ao bolsa-família. Com a soma dos lucros do primeiro semestre (seis meses apenas!) do Bradesco e do Itaú, é possível o pagamento desse benefício para cerca de 6 milhões de brasileiros durante um ano inteiro.*
Enquanto isso alguns analistas apontam grandes dificuldades para que o Brasil consiga sustentar uma taxa de crescimento de 5% ao ano, já que não há recurso disponível para investimento em infra-estrutura básica (haja visto a situação dos nossos aeroportos, rodovias, portos e etc).
Esse número (5%) está entre as menores taxas de crescimento entre os chamados países emergentes. É considerada a mínima necessária para que o país consiga absorver toda mão-de-obra recém chegada ao mercado de trabalho (ou seja, esse ano, na melhor das hipóteses, ficamos no zero-a-zero em relação ao emprego). É preciso investimento urgente!
Apesar de todos esses problemas ainda temos esperanças. Atualmente o país vive uma situação muito mais favorável para a luta da classe trabalhadora, ano a ano a qualidade dos debates em torno de negociações coletivas vem aumentando.
Até 2002, a maioria dos acordos visavam a manutenção dos empregos, ou seja, em nome do combate ao desemprego os patrões retiraram direitos históricos conquistados pelos trabalhadores ao longo de anos de luta.
Nos últimos anos temos visto uma inversão, ainda que modesta. Grande parte dos acordos tem conseguido reajustes no mínimo equiparados aos da inflação. Mesmo assim ainda existe uma dívida histórica a ser resgatada, direitos que foram perdidos durante a implantação de uma política neoliberal, de governos como o de FHC, e que não podem simplesmente ser ignorados, devem fazer parte da agenda da luta da classe trabalhadora.
Banestianos merecem respeito
Enfrentamos no cenário capixaba as mesmas dificuldades dos bancários em nível nacional. Tomando como exemplo dos banestianos (trabalhadores do Banco do Estado do ES), temos perdas acumuladas que chegam a mais de 45%. O lema da nossa campanha esse ano é ''Tem, dá e pode'', numa clara referência à uma nota do presidente a todo corpo funcional
do Banestes que reproduzia um texto, que entre outras coisas, dizia o seguinte: ''Toda vez que alguém lhe disse não tem, não dá, ou não pode, desconfie e confira. Pergunte novamente, insista e você verá que muitas vezes tem, dá e pode''.
Não deixaremos que saiam de nossas memórias os direitos a que um dia os trabalhadores abriram mão para que no momento certo fossem resgatados. Esse momento chegou. O Banestes se nega a negociar, se diz representado pelo FEBRABAN, não assinou o acordo coletivo de 2006, retirando ainda mais direitos. Diz que passou a se pautar pela
Convenção Coletiva de Trabalho Aditiva RJ/ES, mais uma mentira. A cláusula segunda dessa convenção prevê o pagamento de uma gratificação de 25% a todos os funcionários. Entretanto o banco se utilizou de uma manobra para incorporar essa gratificação ao salários dos funcionários
com mais anos de casa, para esconder dos novos funcionários,
contratados a partir de 2004, esse direito legítimo. Felizmente foi derrotado pelo sindicato numa ação ajuízada na Justiça do Trabalho.
Ignorar o canal de negociação é uma afronta aos banestianos
Lutamos de maneira permanente pela assinatura da PEC estadual que dará uma maior garantia de que o Banestes (Banco do Estado do Espírito Santo) continuará a cumprir sua função social, e manterá seu caráter público, essa foi umas das promessas de campanha do então candidato ao governo Paulo Hartung (PMDB), uma das maiores traições à categoria e à população capixaba. A nova história capixaba necessita de inclusão social, hoje temos um baixíssímo IDH (Indíce de Desenvolvimento Humano) e um índice GINI bem elevado (esse indíce representa a distorção entre os ricos e pobres). O
orçamento do estado claramente se volta para o benefício único da classe empresarial, enquanto que o social (educação, saúde, segurança, transporte público e etc) mingua escassos
recursos, percentuais mínimos previstos constitucionalmente. Essa continuará sendo a tática do governo para seu planejamento estratégico ES 2025?
Se o Banestes se propõe a ser o banco dessa nova história, deve em primeiro lugar respeitar seus funcionários e a população capixaba. Não podemos aceitar que se curve a lógica de mercado, não aceitamos modelos de gestão que se dizem mais eficientes e que visam o lucro o qualquer custo, e que na prática somente servem reproduzir o mecanismo perverso do sistema de expropriação do trabalho e escamoteamento da população. Por isso, mais crédito social é necessário, crescimento sem inclusão social não é desenvolvimento.
Não aceitamos essa política de duas caras, enquanto o discurso é de agradecimento aos banestianos pela reconstrução do banco, que em 2002 se encontrava em vias de falência, o que vemos na realidade é o total desrespeito. Lutaremos pela isonomia salarial, fundamental para os novos funcionários, que hoje recebem uns dos salários mais baixos do mercado. Alguns deles se mantem com graves dificuldades financeiras. Ainda temos problemas de assédio moral e a política de metas, que somados a outros problemas relacionados a saúde do trabalhador, tornaram os bancos os maiores pagadores de seguros de acidente de trabalho do INSS, aumento o grau de risco destas instituições. Temos o absurdo das taxas abusivas, que hoje representam mais da metade do faturamento dos bancos e que continuam crescendo de maneira descomunal. Como se não bastasse, os bancos, que desde de 1995 já demitiram mais de 600 mil bancários, figuram entre os primeiros lugares em reclamações nos Procon's em todo o país.
Temos que derrotar essa lógica perversa
O nosso inimigo é forte, mas a conscientização da classe e a
mobilização são fatores muito mais fortes, e serão fatores
determinantes para o sucesso da nossa negociação salarial.
Vários direitos que hoje possuímos, foram conquistados a base da luta de milhares de trabalhadores. A manutenção e ampliação desses direitos passa pela permanente continuidade dessa luta.
Vamos a luta!
**Iran Milanez é graduado em Ciência da Computação.
(*)Ver artigo publicado no Vermelho: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=23279