Ações sociais e ambientais: Fortaleza urbanizada de modo inteligente

* Belino Sales


 


Fortaleza apresenta, desde a década de 1930, um incremento populacional para além de sua capacidade infra-estrutural e de mercado de trabalho. Incisivamente a partir da década de 1970, esse incremento foi acelerado

Essa realidade evidente para todos que vivem e produzem a cidade representa, há muito tempo, um alerta sobre a real capacidade suporte da cidade e falta de aptidão de gestores públicos em planejar e executar ações de ordenamento que possibilitem a melhoria da qualidade de vida da população.


 


 


Observa-se, então, que a consolidação da paisagem urbana de Fortaleza não se atentou para a importância da preservação e conservação da paisagem natural. E é aí que se destaca um complexo sistema de drenagem, composto por rios, riachos, lagoas e pequenos açudes integrados às planícies fluviais, flúvio-lacustres, flúvio-marinhas, etc. O uso e ocupação da capital do Estado materializam suas contradições, constituindo-se, assim, em uma cidade desigual, espacialmente injusta e ambientalmente comprometida.


 


 


Desse modo, são produzidas as inúmeras “áreas de riscos”, assim denominadas principalmente pela opinião pública, por conta das múltiplas vulnerabilidades que comprometem o bem-estar dos grupos sociais ocupantes de tais áreas. A exemplo da questão descrita, podem ser citadas as ocupações dispostas ao longo da planície fluvial do Rio Cocó, riachos e lagoas associadas, onde inúmeras famílias estão suscetíveis às enchentes, alagamentos, proliferação de doenças veiculadas pelas águas poluídas, dentre outros. 


 


 


Contudo, vislumbrando a realidade de Fortaleza, com olhares nunca antes vistos, a atual gestão municipal demonstra o entendimento dessa complexidade através de ações de planejamento e programas estruturais que incorporam a relação sócio-ambiental. Como os em realização nas lagoas da Zeza e da Vila Cazumba, incorporados à vertente de inclusão social, potencial paisagístico das planícies fluviais e flúvio-lacustres do Rio Cocó, especificamente em seus aspectos de beleza cênica, promovendo a paisagem natural como um bem coletivo.


 


 


Nos últimos meses, Fortaleza observou a redução das áreas de riscos, fato inédito, com a entrega de moradias populares através da Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza – Habitafor para as comunidades Santa Edwirges e Maria Moura. Estão em etapa de execução os empreendimentos da Comunidade Rosalina, Comunidade da Lagoa da Zeza e Vila Cazumba, Dunas das Goiabeiras, Comunidade Maravilha, dentre outras. As ações representam respostas práticas não só da demanda por moradias abordadas nas políticas habitacionais de interesse social, mas também referentes à recuperação do ambiente natural de áreas degradadas.


 


 


Os programas e projetos citados deixam claro que a ordenação do território de Fortaleza pode aliar-se à necessidade de estabelecer equipamentos construtivos infra-estruturais com características que são peculiaridades à paisagem natural. Políticas competentes são capazes de promover ações efetivas na cidade sem que haja degradação do meio ambiente, como são os casos observados atualmente no Rio Cocó, onde se instalam empreendimentos comerciais à busca de lucros incessantes, isso à custa de tudo e de todos que vivem e produzem nossa Fortaleza que precisa ser bela e consciente.


 


 


Belino Sales é geógrafo, assistente técnico da Habitafor