Mumía Abu-Jamal: Soldados mortos… sonhos mortos
Atraídos ao exército pela redução dos empregos nas fábricas, pela falência do sistema educativo e pela promessa de ter dinheiro para pagar a Universidade, este, assim chamado “exército voluntário”, está armadilhado em um prisma de medo, esperança e destin
Publicado 26/09/2007 20:57
Se há algo que os soldados não precisam saber é que “A Guerra É um Inferno”.
Para muitos, o exército é a última esperança, a melhor oportunidade para terminar a educação, uma forma de deixar para trás a triste, desesperante realidade da vida de todos os dias nos Estados Unidos. Medo, porque muitos jovens sofreram um profundo e desolador susto quando viram os aviões explodirem nas torres gêmeas em Manhattan; esperança, porque, dada a desesperança endêmica em muitas comunidades rurais e urbanas, havia a grande ilusão de que uma ação militar ajudaria a reestabelecer o sentimento de segurança que havia se evaporado totalmente no 11 de setembro; e destino, essa força cega que governa os tortuosos caminhos da vida. Desgraçadamente, os que detém o poder em Washington tinham outras idéias.
Embebedados pela vitória e pelo poder, um quadro de neoconservadores arremeteu com seus sonhos imperiais de dominação a mais longínqua que as suas imaginações pudessem sonhar. Naturalmente, ocorre que quiseram abarcar muito. O resultado é um estado de desastre universal, cujo final só podemos muito cautelosamente conceber. Quem são os soldados que foram treinados, que aprenderam a matar e que foram enviados aos campos de batalha? Na “Operação Liberdade Permanente” (Ou, na realidade, “Ocupação Permanente”?), há 37 mil soldados com uniformes americanos, mas que não são cidadãos dos Estados Unidos. Eles têm a esperança de viver o suficiente para beneficiar-se de um programa que lhes permitiria obter imediatamente a cidadania americana, sem ter de esperar os cinco anos regulamentares.
Trina e sete mil soldados que não são cidadãos dos Estados Unidos! Isto é parte do debate sobre imigração que não escutamos nos vociferantes corredores do Congresso americano. O melhor lugar que o exército dos Estados Unidos tem para recrutar soldados está em Tijuana, no México. Quando você escuta os nomes dos que acabaram de morrer na guerra, é muito provável que entre eles existam mais de um que não era cidadão estadunidense. Seus nomes hispânicos demonstram sua ancestralidade mexicana ou porto-riquenha.
Eles não são a idealização do cartaz de papelão que o Pentágono tratou de vender no caso de Pat Tillman. Homem musculoso, já que era atleta profissional, que se alistou no exército nos dias gloriosos que se seguiram ao 11 de setembro, os que o mandaram ao Cemitério Nacional de Arlington não foram os da al-Qaida, nem os do Talibã, tampouco os “terroristas” que “odeiam nossas liberdades”. Os que mataram Pat Tillman eram americanos que estavam disparando contra o inimigo.
Tillman, como a mairia de nós, foi muito mais complexo que os jornais e as cadeias de notícias quiseram sugerir. Um de seus autores favoritos era o linguüista do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT) e crítico da guerra, Noam Chomsky. Tillman também detestou o que viu e viveu no Oriente Médio. Se estivesse vivo hoje, provavelmente estaria na vanguardA das demonstrações contra a guerra.
Roma, quando estava em seus últimos anos, prometia uma forma baixa de cidadania aos bárbaros em suas fronteiras que desejassem ir à guerra em favor do Império. Ao cidadão romano médio, era prometido pão e circo. Como Roma, o Império American promete uma forma baixa de cidadania às pessoas além das fronteiras, enquanto guerras se proliferam ao redor delas e a xenofobia alcança níveis letais. Não prometem pão e circo, mas o American Idol e a oportunidade de aparecer em um programa da Televisão Real.
Fonte: La Haina.org