Sem categoria

Argentina: Antes de eleição, Kirchner se reaproxima do FMI

Quase dois anos depois de quitar sua dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Argentina está se reaproximando deste organismo multilateral que se tornou o inimigo público número 1 do país. Para regularizar seus débitos com o Clube de Paris, no

Kirchner não quer deixar essa importante pendência para sua esposa, mas bate o pé em que não aceita um novo acordo que implique um monitoramento do FMI sobre a política econômica do país. Os argentinos vêem o FMI como o grande responsável pela crise financeira de 2002, por ter dado aval a políticas dos governos anteriores que acabaram levando o país à maxidesvalorizaçao e à moratória da dívida externa, além de ter arrastado um quarto da população para o desemprego e metade para abaixo da linha da pobreza.



Hoje, seis anos após a moratória e há três anos da reestruturação, a Argentina acumula dívida externa de US$ 60 bilhões, sem contar US$ 20 bilhões que deve a credores privados (fundos de investimentos e pequenos investidores privados) que não aderiram à proposta de reestruturação de 2004.



As gestões para que o governo argentino retome a conversa com o FMI se intensificaram na semana passada, quando o subsecretário de Estado americano para a América Latina, Tom Shannon, disse que, para ter apoio do governo americano à renegociação de sua dívida com o Clube de Paris, a Argentina deveria ter algum “entendimento” de nível político com o fundo, não necessariamente um acordo formal.



“Os Estados Unidos compreendem a importância que tem este assunto para a Argentina e consideram que uma resposta positiva no Clube de Paris dependerá da habilidade da Argentina e do FMI de chegarem a algum tipo de entendimento”, comentou Shannon, segundo a imprensa local.



Papel dos EUA



“A Argentina não deve mais nada ao FMI, mas tem que pagar o Clube de Paris”, disse o analista de relações internacionais Jorge Castro. Para ele, o que os EUA estão pedindo é apenas uma aproximação, que poderia resolver-se com uma simples nota de comunicação do atual estado da economia. Castro pondera que a troca de comando no FMI ajuda a aplainar o caminho para uma reaproximação. O francês Dominique Strauss-Kahn, novo diretor-gerente do fundo, que toma o lugar do espanhol Rodrigo de Rato, tem origens socialistas e foi bem aceito pelos países da América Latina. Na sexta-feira, o Ministério da Economia argentino divulgou uma nota de apoio à indicação de Kahn.



“É importante que a Argentina consiga chegar a um acordo com o Clube de Paris, para destravar o acesso ao financiamento das agências oficiais dos países ricos”, completa Alberto Musalem, diretor do Centro para a Estabilidade Financeira (CEF), um “think thank” dedicado a temas financeiros e bancários.



Segundo ele, o dinheiro destas agências oficiais (como o JBIC do Japão e o Eximbank americano) é a melhor fonte de recursos disponível no mundo para financiar a importação de equipamentos ou a atividade de empresas multinacionais em projetos de investimentos no país. “Essas agências financiam o importador de bens e serviços com recursos de longo prazo e baixo custo”, diz Musalem.



Pressão sobre Kirchner



Os países-membros do Clube de Paris já se manifestaram no sentido de que só aceitam se sentar para conversar com o governo argentino se houver acordo com o FMI. Houve apenas uma exceção, a Espanha, que aceitou renegociar seus créditos, de quase US$ 1 bilhão, fora das condições do Clube.



Segundo especialistas, exigir um acordo com o Fundo é uma tradição do Clube de Paris e nunca houve uma exceção: todos os países que desejam renegociar suas dívidas com este organismo devem se submeter ao fundo. Isso porque o Clube não tem estrutura para auditar as contas do devedor e fazer o acompanhamento dos pagamentos, por isso usa a estrutura do FMI.



A mensagem de Shannon veio logo depois de uma viagem do casal Kirchner a Nova York, quando o presidente argentino criticou os Estados Unidos por não ter dado suficiente apoio à Argentina na fase mais crítica da crise. “Não nos sentimos acompanhados pelos Estados Unidos”, disse Kirchner durante um painel organizado pela fundação Clinton Global Initiative, do ex-presidente americano Bill Clinton. Por outro lado, durante seu discurso na Assembléia Geral da ONU, Kirchner criticou o Irã, num sinal em direção à comunidade judia, mas que o perfilou com os EUA, que hoje consideram o Irã um de seus maiores inimigos.



Fonte: Valor Econômico