Especialistas contestam governador que 'demitiu' o gerúndio
A decisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), de limitar o uso do gerúndio, foi considerada por lingüistas portugueses como unicamente política. Arruda alegou que o gerúndio é “forma verbal associada à ineficiência”. Os lingüista
Publicado 03/10/2007 17:31
Por decreto, publicado no diário oficial do distrito nesta segunda-feira, o governador “demite” o gerúndio de todos os órgãos do governo. Disse também que perdeu a paciência com alguns assessores que estão sempre “fazendo, providenciando, estudando, preparando, encaminhando” – mas nunca concluem um trabalho ou estabelecem um prazo para a sua finalização.
Para José Mário Costa, jornalista e responsável pelo site Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, a medida adotada só pode ser vista como “simbólica” e com “piada”. Já a professora e lingüista Regina Rocha, também do Ciberdúvidas, considera que o decreto só é válido num contexto político. “O gerúndio é uma forma verbal que sugere duração e prolongamento da ação – e é uma 'construção que vem do português antigo'”, explicou.
Os dois especialistas recordam que em Portugal o gerúndio caiu em desuso, utilizando-se, em seu lugar, o infinitivo: em vez de “estou fazendo”, usa-se no país europeu a construção “estou a fazer”. Regina Rocha esclareceu que a própria fonética dos verbos conjugados no gerúndio transmite a idéia de prolongamento, dado que têm mais sílabas.
Sobre a idéia do governador brasileiro, José Mário Costa defendeu a existência de orientações do ponto de vista ortográfico a serem seguidas – principalmente por entidades públicas, jornais e emissoras de rádio e TV.
O jornalista deu como exemplo o erro comum de abreviar os números ordinais. Costa disse que se escreve muitas vezes primeiro com um numérico (1) e um (o) em expoente, quando deveria ser um numérico (1) seguido de um ponto (.) e só depois o (o) em expoente. As abreviaturas são sempre seguidas de um ponto, afirmou.