Argentina: Ex-centro de tortura é transformado em museu
O prédio da Escola de Mecânica da Armada (Esma), símbolo dos crimes contra a humanidade cometidos pela ditadura militar argentina (1976-1983), foi entregue nesta quarta-feira (3) a uma comissão do governo, que instalará um Museu da Memória, palestras e mo
Publicado 04/10/2007 11:30
O ministro da Justiça, Alberto Iribarne, o secretário de Direitos Humanos da Nação, Eduardo Luis Duhalde, seu golega de governo da cidade de Buenos Aires, Omar Abboud, a ministra da Defesa, Nilda Garré e o chefe das Forças Armadas, Jorge Godoy, assinaram a ata de entrega do prédio, de 16 hectares.
Cinco mil pessoas aproximadamente foram presas ilegalmente na Esma, onde sofreram torturas e realizaram trabalho escravo até serem “transportadas” em “vôos da morte”, de onde eram jogadas vivas nas águas do Rio da Prata.
“O mais importante dessa entrega é o cumprimento da promessa feita pelo presidente Néstor Kirchner em 2004, de converter esse prédio em um espaço de memória, de 'nunca mais ao terrorismo de Estado' e de promoção dos direitos humanos”, afirmou Duhalde.
Importância da memória
O secretário de Direitos Humanos da Nação destacou a importância dessa decisão como “apoio à Justiça” e “reparação simbólica dos padecimentos das vítimas e seus familiares”, que durante 30 anos “lutaram contra a impunidade”.
Ele acrescentou que esse ato confirma que o impulso do governo à “política de memória, verdade e justiça é irreversível” e que “continuará sendo aprofundado nos próximos anos”.
Pessoalmente, Duhalde disse que “nossa cabeça está nos amigos e companheiros e em todos que foram vítimas de tortura e extermínio neste lugar. Hoje o prédio da Esma deixou de ser um lugar de seqüestro, tortura, extermínio, partos e apropriação ilegal de bebês, para se tornar um lugar de reparação”, afirmou.
“Essa manhã se concretizou algo inimaginável até pouco tempo: que os militares se retiraram por completo da Esma”, acrescentou e destacou que “agora começa outra etapa, com a iminente abertura ao público das instalações em novembro e o debate sobre as atividades a serem realizadas nos vários edifícios”.
Relatos
Por enquanto foi destacado um “dos lugares em que estiveram os desaparecidos e foram instaladas várias mostras, uma delas sobre a violência repressiva e as lutas populares na Argentina de 1900 adiante”, acrescentou.
Lila lembrou ainda que o “trabalho escravo dos seqüestrados foi, em alguns casos, o que permitiu salvar suas vidas”.
“Havia, por exemplo, um grupo de seqüestrados forçados a trabalhar em um centro de documentação clandestino, entre eles Victor Basterra”, explicou.
Basterra, seqüestrado em 1979 e libertado no final de 1983, declarou em várias oportunidades que, como tinha experiência de trabalho em impressões gráficas, obrigaram-no a trabalhar na elaboração de documentos falsos para militares e para outras pessoas.
“Para mim, em meio ao horror cotidiano, de tudo isso que estamos lembrando, o maior risco não era o da morte, era o da loucura”, acrescentou Lila.
Fonte: Ansa Latina