Dilma reclama da imprensa e nega ser candidata em 2010
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, descartou nesta quinta-feira uma possível candidatura sua à Presidência em 2010. “Não sou candidata. Acredito que o PT pode ter candidato próprio, e tem o direito de pleitear isso, ou pode haver uma composição”
Publicado 04/10/2007 16:00
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, negou nesta quinta-feira (4), que seja candidata à sucessão presidencial de 2010. Segundo ela, não interessa ao governo, com apenas dez meses de atividade nesse segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ficar discutindo esse tipo de assunto. “A discussão pode encurtar o mandato, e pessoalmente eu não sou candidata”, disse Dilma, em sabatina promovida nesta manhã pelo jornal Folha de S. Paulo.
Economista, mestre em teoria econômica pela Unicamp e doutoranda em economia monetária e financeira pela mesma universidade, Dilma Roussef, foi ministra das Minas e Energia entre 2003 e junho de 2005. Antes, coordenou a equipe de infra-estrutura do governo de transição instituído por Lula. Em junho de 2005, assumiu o ministério da Casa Civil, substituindo o então ministro José Dirceu, que deixou o cargo para se defender das acusações de envolvimento no chamado “esquema do mensalão”.
A ministra disse que vê como uma espécie de homenagem a lembrança de seu nome para sucessão do presidente Lula, mas voltou a dizer que o momento não é oportuno para esse tipo de discussão. Apesar disso, quando foi questionada sobre o nome de outros prováveis candidatos, como o do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), ela ressaltou: “Sem sombra de dúvidas, ele tem todas as condições de ser candidato à presidência da República, porque já deu contribuições importantes ao País”.
No entanto, ela defendeu uma candidatura do PT. “Não sou candidata. Acredito que o PT pode ter candidato próprio, e tem o direito de pleitear isso, ou pode haver uma composição”, disse Dilma.
A ministra-chefe da Casa Civil também reclamou das relações da imprensa com o governo Lula. “O governo Lula e eu achamos que há um valor fundamental na liberdade da imprensa, mas há, de fato, às vezes, uma posição acrítica, generalizada, difícil de achar um ponto bom [no governo]. Mas isso não leva a nenhuma desconsideração, já que somos pessoas públicas e devemos satisfação”, afirmou.
A ministra da Casa Civil foi sabatinada por quatro jornalistas da Folha: Fernando de Barros e Silva (editor de Brasil), Renata Lo Prete (editora do “Painel”), Valdo Cruz (repórter especial) e Eliane Cantanhêde (colunista do jornal), todos críticos raivosos do governo Lula.
Dilma aproveitou a sabatina para rebater as acusações da oposição de que o governo está loteando importantes cargos em estatais, como a Petrobras, em troca de apoio no Congresso Nacional. “O presidente Lula não estabeleceu nenhuma mesa de barganha”, frisou a ministra.
A ministra lembrou que em um governo de coalizão é necessário haver repartição. “Isso não quer dizer que o PMDB não possa integrar cargos (no governo) porque é um partido da coalizão”, observou.
Choque de gestão
Ainda sobre política, a ministra ironizou um dos chavões mais utilizados pelo tucano Geraldo Alckmin na campanha presidencial do ano passado. “Desconfiem quando se fala em choque de gestão, porque só quem não geriu é que usa esse termo. Isso é uma maquiagem”. Segundo ela, não se faz modificações na máquina do governo sem um processo que inclua, por exemplo, mudanças estruturais. E quando se faz um choque, em um ano, nos anos posteriores o governo é obrigado a voltar a gastar mais. “Uma coisa é o discurso e a outra é a prática”, alfinetou.
Questionada sobre o governo FHC, Dilma disse que a gestão tucana teve alguns pontos positivos. “FHC teve méritos, mas isso não significa que eu concorde com a orientação do governo dele”, comentou. Ela ainda criticou a política de privatização realizada pelos tucanos.
Descriminalização do aborto
Na sabatina, a ministra defendeu a descriminalização do aborto no País. “É um absurdo que não há a descriminalização do aborto no Brasil, pois esta não é uma questão de foro íntimo, mas sim de saúde pública, e precisa ser regulamentada”, frisou.
Um dos momentos de maior descontração da entrevista, foi quando Dilma revelou sua personalidade: “Sou uma mulher dura, rodeada de homens meigos”. E continuou, arrancando risos dos presentes: “Eu nunca ouvi dizer que um homem fosse duro”.
Dilma é a sexta a participar do ciclo de sabatinas da Folha neste ano. Antes dela, o jornal sabatinou o climatologista Carlos Nobre (março), o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer (abril), o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (maio), o ministro da Saúde, José Gomes Temporão (junho) e o economista Delfim Netto (agosto).
Da redação,
com agências