Na Costa Rica, 150 mil protestam contra tratado com os EUA
Os opositores do Tratado de Livre Comércio (TLC) para a América Central entre Costa Rica e Estados Unidos encerraram no último domingo (30/9) sua campanha prévia para o referendo do dia 7 de outubro com uma das maiores concentrações da história recente do
Publicado 04/10/2007 13:39
O Movimento Patriótico contra o tratado tomou de ponta a ponta o Paseo Colón, a mais longa e larga avenida da capital, em uma manifestação de cheia de entusiasmo, na qual participaram dezenas de milhares de cidadãos em um país de quatro milhões de habitantes.
Cerca de 150 mil pessoas, de acordo com os organizadores, caminharam pelo Paseo Colón desde as primeiras horas da manhã para dizerem “não” a um acordo firmado em janeiro de 2004 que mantém dividida uma das mais velhas democracias da América Latina.
Os manifestantes exibiam grandes faixas com palavras de ordem contrárias ao tratado e ao presidente Oscar Arias, ou portavam bandeiras azuis, brancas e vermelhas da Costa Rica, bonés ou camisetas com lemas centrados no “não”.
Predominavam as camisetas com as cores da bandeira estampadas em um coração, símbolo da luta contra o tratado que, precedido por um N, formava a palavra “não”. Outros manifestantes estavam vestidos como esqueletos e assinalaram que o acordo causará grandes perdas laborais.
Corações contra milhões
Apesar do calor, muitos participantes usavam máscaras do presidente estadunidense, George W. Bush, e repartiam cédulas falsas de dólar em protesto contra as políticas comerciais de Washington. “Corações contra milhões (de dólares) dos favoráveis ao “sim”, é isso que significa esse símbolo”, expressou Nuri Sánchez, universitária de 21 anos.
Já Benigno Arce, agricultor de 54 anos, declarou: “venho de La Fortuna de San Carlos – 140 quilômetros da capital – para dizer: 'esta pátria não se compra nem se vende'. No próximo domingo vamos sepultar com votos este maldito tratado”.
Jovens e adultos, crianças e idosos eram vistos em todos os pontos do Paseo Colón, uma artéria que nenhum partido político, nas campanhas eleitorais, havia podido abarrotar em toda sua extensão. A manifestação foi realizada no 147º aniversário do fusilamento do ex-presidente Juanito Mora, que liderou, em 1856 e 1857, a Guerra Nacional contra o invasor e escravista estadunidense William Walker.
“Muitos dizem que um médico francês retirou o coração do cadáver de Mora para conservá-lo. Durante todo esse tempo, todos vêm se perguntando onde está esse coração, em que museu, mas eu digo que ele está hoje aqui”, disse o coodernador do Movimento Patriótico contra o tratado e reitor do estatal Instituto Tecnológico, Eugenio Trejos. “Da mesma maneira que os traidores da pátria fusilaram Mora em 1860, nós prometemos que fusilaremos nas urnas, fusilaremos com votos, os que pretendem vender o país com este tratado”, declarou, em um improvisado discurso.
Única a não aderir
A Costa Rica é a única nação centro-americana que não ratificou ainda o acordo com os EUA, do qual participam também Guatemala, El Salvador, Honduras e República Dominicana. A polarização provocada pelo tratado obrigou o Tribunal Supremo de Eleições (TSE) a convocar, em maio passado, um referendo, como forma de evitar uma confrontação social, que ainda se mantém latente, segundo os analistas.
Se o “não” ganhar no domingo, a Costa Rica se converterá na primeira nação do planeta a rechaçar nas urnas um tratado com os EUA. “Não queremos este TLC; é um TLC que violenta a soberania, podemos negociar outro, mas não este”, assinalou Trejos à AFP.
Trejos foi ovacionado em seu discurso, do mesmo modo que o bispo emérito de San Isidro del General, o mosenhor Ignacio Trejos, que afirmou que se trata “de uma luta entre o bem e o mal , entre os que vendem a pátria e os que a defendemos, entre Deus e Satanás.
Fonte: La Jornada