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Conam foi espionada durante e após o regime militar

Na década de 1980, mesmo à beira da morte, a ditadura militar não poupou esforços para vigiar ações, lideranças e entidades do movimento comunitário. O temor das Forças Armadas e da Polícia Federal (PF) era tanto que a espionagem continuou mesmo com o fim

Um desses documentos, de 12 de outubro de 1988, tem como título “Entidades de Moradores”. Descreve a ascensão do movimento comunitário e conta como as principais entidades eram organizadas. Segundo o relatório, “a Conam, na época de sua criação, não tinha representatividade junto às camadas populares que se propunha representar e caracterizava-se como uma organização de frente do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro, ligado ao PMDB)”.


 


Se esse texto, equivocado, não leva em conta a composição suprapartidária da entidade, um contraponto é o informe 2079 (18 de dezembro de 1984), elaborado pelo Centro de Informações da PF. O assunto é o 2º Congresso da Conam. Relata “sérios distúrbios, inclusive com agressões físicas” no segundo dia do encontro. A razão principal, de acordo com o texto, foi a iniciativa do presidente Almir de Barros em transformar “um movimento reivindicatório de moradores em um ato de apoio a Tancredo Neves. Como havia muitos malufistas presentes, o choque foi inevitável”.


 


Outro relatório sobre o segundo congresso denuncia, em 4 de janeiro de 1985, a ameaça comunista. Diz que, na luta comunitária, “as policromias das ideologias alienígenas” prevalecem sobre “os reais e legítimos anseios dos moradores”. Teor parecido tem o um Relatório Periódico Mensal do Ministério do Exército de dezembro de 1984: “As Organizações Subversivas (OS), em particular o PCB, o PC do B e o MR-8, demonstraram (no congresso) um ensaio de convivência pacífica”, especula-se. “O esforço e a determinação das OS em ocupar, de fato, a direção da Conam mostram a nítida intenção das esquerdas de prosseguir em suas ações de manipulação de massas.”


 


Já um documento, arquivado em 17 de abril de 1986, aponta uma Conam em suposta crise. Como exemplos disso, cita a não-filiação de algumas entidades de peso (“um 'racha' de importantes conseqüências”) e o desinteresse do “clero progressista” (“porque não conseguiu manter a hegemonia do movimento”). O mais curioso é a conclusão do relatório: “As divergências entre as facções subversivas, que disputam a sua liderança, e a atuação no campo político tendem a dificultar a sobrevivência da Conam”. Uma previsão que, passados mais de 20 anos, soa como piada.


 


Fonte: revista Habitar (edição especial – Conam, 25 anos)