Saudades do Mestre Lua
O Nordeste, principalmente Juazeiro e Exu, lembram, hoje, os 95 anos de Luiz Gonzaga. Mestre Lua faleceu em 1989, tinha uma carreira consolidada e deixou uma legião se seguidores. Luiz Gonzaga sempre cantou por toda a vida o Nordeste brasileiro. Se v
Publicado 13/12/2007 12:46 | Editado 04/03/2020 16:36
A voz sertaneja de Luiz Gonzaga ainda ecoa nas quebradas do sertão nordestino. O som de sua sanfona é reproduzido por centenas de sanfoneiros que tentam seguir os passos deixados pelo “Rei do Baião” por este Brasil afora. Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, em Exu, no estado de Pernambuco, na fazenda Caiçara e morreu no dia 2 de agosto de 1989, vítima de parada cardio-respiratória, em conseqüência de câncer nos ossos. Dezoito anos depois de sua morte, a sua herança musical está ameaçada por uma onda de forró eletrônico que entra pelo sertão adentro, passando por cima de tradições, usos e costumes que Gonzaga defendeu ao longo de 50 anos de chão, como um Dom Quixote Vaqueiro, derrubando preconceitos no solo árido da musicalidade nacional.
Hoje, quando se comemora 95 anos do nascimento do velho Lua, renascem as esperanças de que o forró pé-de-serra, continuará fascinando a sensibilidade musical de uma nova geração que não conheceu o seu ídolo. É o caso, por exemplo, do grupo de forró “Seguidores do Rei”, formado por jovens de 12 a 18 anos de idade da cidade que nasceram e cresceram praticamente no terreiro do Parque “Aza” Branca. A programação comemorativa aos 95 anos de nascimento de Luiz Gonzaga será aberta hoje, dia 13, com um grande forró embaixo de um Juazeiro, que reunirá todos os sanfoneiros da região, no Parque “Aza” Branca. Para amanhã está prevista a apresentação dos “Seguidores do Rei”, Epitácio Pessoa, Alcimar Monteiro e Banda Primeiro Beijo. No dia 15 tem Dejesus Sanfoneiro, Joquinha Gonzaga, Nádia Maia e Banda Arreio de Ouro. A festa será encerrada no dia 16 com a celebração de uma missa, às 11 horas , seguida de forró, embaixo do Juazeiro, com a presença de Joãozinho do Exu, Flávio Leandro, Joquinha Gonzaga e Cutuba. No Cariri, as homenagens a Gonzagão começaram ontem com a apresentação de um grupo de sanfoneiros no pé do busto do Rei, no Parque de Exposições do Crato.
´Asa Branca´
A movimentação no Parque “Aza” Branca começou desde a semana passada. No domingo, O Parque recebeu a visita de um grupo de 75 estudantes do Centro Educacional Moreira de Souza de Juazeiro do Norte. Eles estão elaborando um projeto que tem como objetivo, segundo a professora Isabel Cristina Moura, coordenadora do evento, “reviver a história de Luiz Gonzaga para que as novas gerações não sejam alienadas dos verdadeiros valores musicais”. Isabel diz que “é uma alternativa contra este forró eletrônico que, segundo afirma, está invadindo a mídia”. O projeto será encerrado no dia 21 com o chamado Forró do Gonzagão na quadra da escola.
As mais fortes lembranças de Luiz Gonzaga estão em Exu, sua terra natal. Preocupado em deixar o seu legado preservado, em benefício das gerações futuras, Luiz Gonzaga idealizou e construiu o seu próprio museu, o Museu do Gonzagão, onde está exposto todo o seu acervo cultural e artístico: gibão e chapéu de couro, sanfonas, discos, troféus, fotografias, livros, jornais e condecorações, O parque Asa Branca tem uma área de aproximadamente 15 mil metros quadrados com o Museu do Gonzagão, com mais de 500 peças e 80 leitos para receber turistas.
As lembranças do Pernambucano do Século passado estão em todas as ruas da Exu. No bar da esquina, no posto de gasolina e nos restaurantes e lanchonetes. A casa onde o sanfoneiro nasceu, no sitio Caiçara, ao lado da casa de Bárbara de Alencar, foi demolida. Em seu lugar foi erguido um marco, indicando o local da casa onde Januário criou os filhos: A casa do “Tibungo”, que está na iminência de cair, ao lado da igreja de São João do Carneirinho construída pelo Barão do Exu, no sitio Caiçara. A casa se tornou histórica porque foi ali que o velho Januário recebeu o filho famoso, quando Gonzaga, pela primeira vez, voltava ao Exu, depois de fazer sucesso no Sul do Pais. A volta do filho ilustre a Exu é cantada em prosa em versos na música “Respeita Januário”.
Na gravação, Luiz Gonzaga conta que chegou a casa de madrugada e pediu um copo com água. Ouviu o barulho do copo dentro do pote, tibungo. Daí a morada da família Gonzaga ser chamada de “Casa do Tibungo”. O episódio é lembrado pelo agricultor Antonio Eugênio de Souza, primo de Luiz Gonzaga , que ainda hoje mora ao lado da casa do tibungo. Eugênio recorda que naquela dia foi uma festa . “Veio gente de toda a redondeza para ver e ouvir Luiz Gonzaga tocando”. Eugênio fala pouco. Ele está consternado com a morte de um irmão, cujo corpo foi encontrado dentro do mato, na semana passada. O assassinato lembra a morte de outro primo seu , Raimundo Jacó, “Raimundo meu primo, como dizia Luiz Gonzaga, na música “A Morte do Vaqueiro” que serviu de tema para a Missa do Vaqueiro que é celebrada todos os anos no município e Serrita, Pernambuco”.“Seu Luiz era um homem, bom alegre, que tratava muito bem os empregados,” recorda a dona de casa Maria da Penha Praxedes, que trabalhou como doméstica no casarão do Parque Aza Branca. Penha lembra que ele ajudou a muita gente. Distribuiu dinheiro e alimentos com as pessoas. “Eu mesmo, fui ajudada por ele”, complementa.
Fonte: Diário do Nordeste