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Demos e tucanos se estranham na disputa paulistana

Em um jantar ontem à noite, a cúpula do DEM e o governador paulista, José Serra (PSDB), tornaram praticamente irreversível a candidatura à reeleição do prefeito da capital, Gilberto Kassab. Com a presença de Serra, o encontro de apoio do DEM ao prefeit

Serra ficou cerca de uma hora. Na saída, disse:   Nenhuma palavra foi dita aqui sobre prefeitura. Trocamos figurinhas sobre questões administrativas. Falamos sobre a importância do projeto que está no Senado estabelecendo a inversão do processo da concorrência. Eu não falei nada sobre a conjuntura política, só ouvi. Estão falando sobre muita coisa por aí.   Serra comentou que em todas as reuniões feitas pelo DEM faz em São Paulo ele é convidado e sempre aparece.



A presença de Serra na reunião   foi um gesto de elegância e de reconhecimento da parceria com o nosso partido  , afirmou o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM).



Hoje, a reunião do conselho político do DEM, presidido pelo próprio Kassab, reforçará o fato como consumado. Formalmente, o encontro, em São Paulo, não será para discutir a eleição municipal.



O DEM passa a admitir o cenário de disputar a eleição contra o tucano e ainda aposta na possibilidade de Alckmin aceitar a proposta de transferir seu projeto eleitoral para a sucessão estadual em 2010. Para pressionar os tucanos, os dirigentes do DEM chegam a insinuar que podem romper a aliança nacional em 2010, não apoiando o candidato do PSDB a presidente.   O DEM só serve para apoiar e não para ser apoiado? Isto é inaceitável. Mais uma vez o Alckmin vai comprometer a trajetória política do José Serra, que terá sua candidatura presidencial afetada  , disse o ex-deputado Luiz Carlos Santos, integrante do conselho, em uma referência a 2006.



Na ocasião, Serra era o preferido da cúpula do então PFL e do PSDB. Mas o, à época, governador Geraldo Alckmin também apresentou-se como candidato, e buscou o apoio dos setores tucanos que se sentiam excluídos do centro das decisões. Ficou com a candidatura presidencial e Serra foi disputar a sucessão estadual. 



Integrante da Executiva Nacional do partido, o ex-deputado Saulo Queiroz afirmou que a negociação com os tucanos prossegue, mas sem a possibilidade de apoio do DEM a Alckmin na mesa.   Kassab só não seria candidato se enfrentasse problemas administrativos graves, o que não é o caso. Estamos na expectativa de um acordo com o PSDB. Tem que abrir espaço para que não sejamos apenas peões de boiadeiro. Nem capatazes da fazenda somos. Se não for possível, seguiremos nosso rumo sozinhos  , disse. Um encontro entre Alckmin e o ex-presidente do DEM, o ex-governador catarinense Jorge Bornhausen, está programado para os próximos dias. 



O prefeito evita comentar o assunto.   As eleições municipais não estão na pauta dessa reunião  , afirmou Kassab ao chegar ao encontro da noite de ontem. Segundo Kassab, a sucessão paulistana será discutida pela direção nacional da sigla, mas sem impor condicionantes em relação à futura eleição presidencial.   O quadro nacional não se mistura com o municipal  , disse. 



Ontem, aliados de Geraldo Alckmin também organizaram um jantar, na casa do deputado Bruno Covas, para discutir a possível candidatura do ex-governador e a aliança com o DEM. Sete deputados estaduais, além do dono da casa, participaram. Segundo Bruno Covas, foram convidados só dez dos 21 tucanos da bancada. 



Bruno, neto de Mário Covas, morto em 2001, defendeu a candidatura do PSDB como forma de ajudar o partido a retomar o governo federal dentro de dois anos.   O projeto 2010 passa em ter como vitrine maior a prefeitura da capital  , disse. Para o tucano, a aliança com Kassab só seria possível se o DEM apoiasse Alckmin.   No momento em que definirmos nossa candidatura vamos esperar o apoio  , disse. 



O deputado Pedro Tobias, antes de entrar, ironizou a aliança:   O DEM ficou três anos na prefeitura porque deixamos. Está bom demais para eles. Agora ficam exigindo muito  . Convidado para o jantar, o deputado estadual João Carlos Caramez pediu cautela ao correligionários. Ex-secretário de governo de Mario Covas, o deputado reclamou que   grupos do PSDB começaram a fomentar   a candidatura de Alckmin no   momento errado  .   É importante que haja discussão de todo o partido, não só de grupos isolados  , considerou.



O tom dos interlocutores de Alckmin, entretanto, foi mais agressivo. Segundo dizem, Serra estaria sendo advertido que a insistência no apoio a Kassab e a falta de apoio claro a um candidato tucano em São Paulo poderia comprometer a candidatura do governador paulista à Presidência, em 2010. A disputa pela prefeitura paulistana tem caráter nacional, dizem aliados, e essa advertência tem vindo também de correligionários de fora de de São Paulo. 



Nesta terça-feira, a discórdia no ninho tucano chegou ao gabinete do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. FHC teve uma reunião com Alckmin justamente para discutir a participação do PSDB na sucessão municipal.



O ex-presidente não quis revelar o teor da conversa com Alckmin, mas admitiu que falaram sobre as eleições de outubro. “Foi uma conversa entre pessoas que se entendem bem. Falamos de tudo, eleições inclusive”, afirmou o ex-presidente após o encontro com o ex-governador no iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso), em São Paulo.


Em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo” publicada no último dia 13, FHC defendeu como estratégia a manutenção da aliança DEM-PSDB nas eleições municipais e que Alckmin pudesse disputar o governo estadual, o que liberaria o governador José Serra para disputar a Presidência em 2010.



Com agências da Folha Online