Por ora, Brasil está longe da revolução do cinema pela web
Fazer o download de um filme no Brasil não é nada fácil. Cerca de 95% dos assinantes da internet banda larga, segundo dados da consultoria IDC, dispõem de velocidade de no máximo 2 megabits por segundo (Mbps). O ideal seria dispor de 12 Mbps.
Publicado 22/01/2008 16:31
“Estamos muito longe da realidade da Apple”, diz Marcelo Bermudez, diretor de marketing da Universal Pictures Brasil, uma das companhias parceiras na entrada da Apple nesse negócio de aluguel de filmes. E o que a Apple deseja?
Steve Jobs, o fundador e presidente da empresa, quer fazer com o cinema o mesmo que conseguiu fazer com o mercado da música: uma completa revolução. E o meio para alcançar essa façanha se chama AppleTV. O aparelho permite que filmes sejam baixados da internet e vistos diretamente na televisão, em alta resolução.
Com o lançamento, na semana passada, do novo modelo do AppleTV, a empresa de Jobs pretende alcançar o mesmo efeito do iPod – o mais vendido tocador de MP3 do mundo. O iPod, como sabemos, praticamente assinou a pena de morte dos CDs. Por essa lógica, as vendas de DVDs também estariam condenadas. Mas, pelo menos no Brasil, essa equação está longe da realidade.
Apesar da limitação, a Universal Pictures Brasil promete oferecer seu portfólio de filmes via web ainda neste ano. Hoje, só é possível comprar filmes nas lojas virtuais pelo preço de custo de um DVD – em torno de R$ 35. Fora isso, o consumidor precisa ter paciência para esperar, em alguns casos, até sete horas para baixar o filme comprado.
“Caminho natural”
Além da Universal, também trabalha nessa mesma direção o portal Eonde, dedicado a entretenimento e criado com tal finalidade em meados do ano passado. Os sócios do portal querem manter uma gôndola virtual com mais de 3 mil títulos. Acreditam que, até o meio do ano, comecem a alugar filmes.
Para a indústria cinematográfica, a possibilidade de comercialização on-line em geral ainda engatinha. O sistema de aluguel estreou nos mercados americano e europeu em 2006. Hoje, representa cerca de 5% da receita do negócio de distribuição de filmes. “A distribuição eletrônica de conteúdo, seja para venda, seja para aluguel, é um caminho natural”, diz Bermudez.
Já Fabio Golmia, diretor do Eonde, acredita que “a maior vantagem da plataforma on-line atualmente é oferecer controles e sistemas capazes de inibir a pirataria”. Essa trajetória ganhou importância graças ao avanço das tecnologias de controles de download.
“Os estúdios internacionais não tinham interesse de abrir conteúdo para locação por aqui, porque ganhavam com DVDs”, avalia Golmia. “A recente venda das locadoras Blockbuster para a Americanas passou a restringir os canais de comercialização e fez o interesse deles despertar.”
Novas alternativas
A opção on-line deverá deslanchar, na opinião Patrick Saretta, diretor da Casablanca, distribuidora brasileira de filmes, por uma razão bastante simples: “Será uma tentativa de interromper o desastre do encolhimento que vitimou o setor no último ano, quando as vendas caíram entre 30% e 40% por causa da pirataria. Afinal, até mesmo videolocadoras fazem cópias irregulares de filmes.”
No Brasil, após estrear no cinema, um filme leva até um ano e meio para chegar à televisão aberta. No meio desse processo, havia um bom lucro com a venda do DVD para consumo em casa. A pirataria minou esse segmento. Tanto que o diretor da Warner, Carlos Sanchez, faz uma defesa ardorosa do que chama de meio eletrônico.
“Queremos dar opções legítimas e de alta qualidade para o consumidor, não importa o meio”, diz Sanchez, que visita o Brasil nas próximas semanas. “Sempre que aparecem novas alternativas o mercado cresce. Foi assim quando surgiu o VHS e depois o DVD. O que temos de evitar e combater é o crescimento do mercado ilegal.”
No momento, os grandes distribuidores estudam possibilidades para acelerar o processo. Há desde parcerias com lojas virtuais até a venda nos próprios sites dos estúdios. Há ainda estudos de viabilização dessa distribuição on-line por meio de outras tecnologias”, diz Saretta. “Queremos oferecer uma alternativa barata e rápida. Ninguém quer ficar sete horas para baixar um filme.”
Da Redação, com informações da Agência Estado