Itália: Prodi perde confiança do Senado e renuncia
O premiê italiano, Romano Prodi, apresentou nesta quinta-feira (24) sua demissão ao presidente da República, Giorgio Napolitano, depois de ter perdido o apoio do Senado, informaram fontes da imprensa local.
Publicado 24/01/2008 20:43
O chefe de Estado dará início nesta sexta-feira às consultas para a formação de um novo governo, informou a Presidência da República.
Os que comparecerão primeiro ao Palácio Quirinale, sede da Presidência, serão os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, Franco Marini e Fausto Bertinotti, respectivamente. Depois, será a vez de os partidos políticos conversarem com o presidente.
Após receber o pedido de renúncia, Napolitano pediu a Prodi que o governo siga em frente para dar conta dos temas em andamento.
Os possíveis caminhos para o fim da crise de poder são três: a formação de um governo ''técnico'', ou seja, comandado por um político independente; a votação de mais uma moção de confiança a favor de Prodi, o que parece praticamente impossível; ou a convocação de eleições.
A direita, liderada por Silvio Berlusconi, exige eleições antecipadas, enquanto a ''União'' encontra-se dividida, já que os pequenos partidos que formam a coalizão defendem a ida às urnas e o Partido Democrata diz que antes é preciso reformar a lei eleitoral, causadora da atual instabilidade política no país.
Pressões sobre Prodi
Antes da votação, Prodi afirmou que ''pedir o voto de a confiança do Senado não é um ato de obstinação e sim de coerência''. O primeiro-ministro italiano foi muito pressionado para renunciar antes da votação no Senado, inclusive pelo presidente da República.
Entretanto, Prodi preferiu se submeter à decisão dos senadores ''por respeito às instituições e para que o país conheça quem as apóia''.
Em seu discurso, Prodi explicou que a Itália atravessa uma grave crise política e econômica, e que necessita de ''reformas urgentes'' porque ''não se poder dar-se ao luxo de parar''.
O primeiro-ministro foi derrotado por 161 votos a 156. Sua derrota já era dada como certa pela imprensa, que calculava ser muito difícil a conquista da maioria dos votos, principalmente depois da saída do pequeno partido democrata-cristão Udeur, que garantia ao governo a vantagem de um voto na Câmara alta.
Na época, o ex-ministro de Justiça Clemente Mastella, líder e fundador do Udeur, investigado por abuso de poder, confirmou que retirava o apoio ao chefe de governo, há 20 meses no poder.
Histórico de enfrentamentos
Romano Prodi (Scandiano, 9 de agosto de 1939) é político e economista italiano. É líder do partido A Oliveira e da coalizão A União e disputou com Silvio Berlusconi a chefia do governo da Itália nas eleições legislativas de 2006, obtendo a vitória por pequena margem de votos.
Seus estudos iniciaram-se em Reggio Emilia, onde nasceu. É formado em direito pela Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão, tendo produzido conteúdo acadêmico em Milão, Bolonha e na London School of Economics. Também já lecionou como professor visitante na Universidade de Harvard e na Stanford Research Institute.
Romano Prodi entrou para a política no fim da década de 1970, quando Giulio Andreotti o convidou para assumir o Ministério da Indústria. Presidiu o Istituto per la Ricostruzione Industriale em 1982, sendo responsável por um bem sucedido programa de saneamento financeiro. Voltou a ocupar o posto em duas outras ocasiões.
Seu primeiro mandato como primeiro-ministro italiano teve início em 1996, quando presidindo a coalizão A Oliveira (L'Ulivo), formada por centro e esquerda, vence as eleições gerais do país. Seu governo teve, além de políticos de centro e esquerda, participação da Refundação Comunista. Teve como enfoque o saneamento da economia italiana, visto a necessidade do país de adequação orçamentária para ingresso na União Européia. Com a retirada do apoio do Refundação Comunista, em 1998, Prodi deixa o cargo, tomando seu posto Massimo D'Alema.
No ano seguinte à sua destituição, assumiu a presidência da União Européia, permanecendo no cargo até 2004. Foi em seu mandato que a moeda única européia, o euro, entrou em circulação, em 1º de janeiro de 2002.
Após o fim de seu mandato, retorna à política italiana e, em 2005, forma uma nova coalizão de esquerda, A União (L'Unione), onde se encontrava A Oliveira, A Margarida (La Margherita) e outros pequenos partidos de centro-esquerda, do qual é aclamado presidente.
Nas eleições gerais italianas ocorridas em abril de 2006, consegue vitória apertada contra o então primeiro-ministro Silvio Berlusconi mas, apoiado pela lei eleitoral vigente alterada no mandato do mesmo, consegue maioria no parlamento italiano, o que lhe confere maior governabilidade. Silvio Berlusconi não aceitou sua derrota, pedindo recontagem dos votos, mas Prodi assumiu pela segunda vez o posto em 17 de maio de 2006, inaugurando o segundo Governo Prodi.
Em 21 de fevereiro de 2007, o governo Prodi foi derrotado por dois votos em uma proposta governamental proposta para o Senado italiano pelo Ministro de Relações Exteriores Massimo D'Alema. Prodi seguiu, então, para o Palácio do Quirinal, onde entregou sua renúncia ao presidente Giorgio Napolitano, que cancelara uma visita oficial a Bolonha para receber o primeiro-ministro. Napolitano evitou qualquer decisão sobre a renúncia de Prodi até encontrar-se com as forças políticas do país.
O presidente Giorgio Napolitano tomou sua decisão em 24 de fevereiro. Não aceitou a renúncia de Prodi e mandou-o ao Parlamento para tentar obter um voto de confiança dos deputados e senadores. Disse, entretanto, que caso o primeiro-ministro não obtivesse a confiança do Parlamento, ele poderia deixar o cargo.
Em 28 de fevereiro de 2007, o governo de Prodi conseguiu o voto de confiança dos senadores, contando com 162 votos contra 157 da oposição conservadora. Alguns dias depois, em 2 de março, a Câmara dos Deputados, onde o governo conta com grande maioria, deu o voto de confiança, confirmando a continuidade de Prodi no cargo.
Quase um ano depois, Prodi não teve a mesma sorte. Resta saber se a trajetória maracad por diversas voltas por cima
Com informações das agências internacionais e Wikipedia