O país da música e do socialismo

Inicialmente havia planejado escrever diariamente sobre a experiência de Cuba.  A  idéia original foi a todo dia enviar uma  mensagem com o relato do visto  e  aprendido. No  meu projeto transmitiria as  experiências,

Em primeiro lugar é  importante informar que a Internet, assim como tudo que  se  refere à  telefonia, recebe  subsídios  do governo. A explicação  a  mim  passada é  que  isso  facilita e  democratiza  o  acesso. No entanto  a  rede  mundial de  computadores lá só funciona  até  às  20 horas.  Para  reduzir  custos. Aí  o primeiro problema.  Nunca  consegui chegar  de  volta ao hotel  antes desse  horário.  Há  tanto para ver que chegar cedo torna-se  um dilema. Obviamente optei por conhecer o mais  possível o País.


 


Na   chegada já comentei sobre  o aeroporto.  Realmente  é  pobre.  Nenhuma  ostentação. O  clima na  chegada é severo. Inspeção de bagagens, cães  farejadores de  drogas.  Apresentação de documentos. Mulheres rigorosas na  fiscalização. Policiais cordiais, porém firme e incisivos. Tudo dentro de um espírito de vigilância. Afinal o inimigo está  a 80 Km dali.


 


Chegamos  às 23h.  No pátio externo e na via que  dá  acesso ao terminal de aviões- tranquilidade.  No ônibus até  ao hotel o motorista  vai falando sobre seu País e  fatos  marcantes. Como era  noite  não  vimos o  famoso painel que informa com orgulho que  das  milhares de  crianças  que  dormem  nas  ruas do mundo, nenhuma  delas  é  cubana.


 


Manhã do dia seguinte (22/01/2007). Nosso primeiro  contato com Havana. O hotel oferece um  percurso  pela cidade. Começam as  surpresas e as emoções. Antes de  chegarmos à  Havana Velha passamos  por  diversos  locais  significativos. Embaixadas de países do mundo  inteiro. Até  os  EUA  têm lá um escritório.  Em volta dele ''out-doors'' desafiantes:  ''Senhores imperialistas,  não lhes temos  nenhum medo''  é um dos que mais se  destaca.  Logo adiante o Hotel Nacional de  Havana.  O Motorista nos conta:


–  às  vésperas da revolução a máfia norte americana  se  reuniu nele.  Contrataram Frank Sinatra para ''abrilhantar'' a  noite e  ali teriam  loteado a cidade,  continua  ele:  – A prostituição ficaria  com o 'capo' Fulano.  A exploração da  jogatina com o 'capo' fulano.  A exploração  dos  taxis com  outro dos  'capos' e  assim  por diante, 


– Quando a revolução  vence, Fidel manda  a  máfia  ao ''caralh…'' Os  bandidos fogem para  Miami às  pressas,   deixando valores,  dinheiro, armas,  mansões e  tudo  o que  não puderam carregar  no  afogadilho  do ''salve-se  quem  puder''.  Solta  uma sonora  gargalhada… no que é acompanhado  por todos  os  passageiros.


 


Os donos das  mansões  (burgueses locais ou estrangeiros também fogem). Uns  vão  para  o México outros  para  os  EUA.  Imediatamente  o governo revolucionário entrega  as  casas  para  os  antigos  empregados,  ou  as utiliza como   repartições  públicas de  saúde,  ou  escolas  ou  oficinas  diversas.  São  dignas  de  fazer inveja  a  Hollywood. Hoje pertencem  ao povo.


 


Mais à  frente  chegamos à Havana Velha  (Havana Vieja). Um imenso painel nos da conta : PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE. Ali o  ônibus fica.  Agora  vamos  por  nossa  conta.  Não tem guia.  Somente  o mapa que  o hotel forneceu e  as  informações  que  as  pessoas passam. Aliás o cubano é  muito amável.  Quando digo que sou  brasileiro abrem um sorriso de  contentamento. Adoram o Brasil, as novelas  da Globo. Nosso Carnaval é muito apreciado  por lá. Se pretender falar sobre esse distrito de Havana  creio que ficarei escrevendo por  um mês. Nos  artigos seguintes  pretendo  mostrar  as  fotos e  os  vídeos lá feitos. Construções  de  diversos séculos perfilam ante nós. Edificações  de  1516  até  dias  antes da  Revolução. Um verdadeiro painel da arquitetura colonial  e  pós  colonial.


 


Cidade limpíssima. Não vejo violência.  No primeiro  dia  quase  não  vimos policiais.  Música.  Muita  música.  Nos bares. Nas esquinas e nos  pátios seculares.  Desfiles  pelas ruas.  E como tocam bem. Como cantam bem.  De repente  um violonista começa a tocar  bossa nova.  Olha  pra  mim  e  me  cumprimenta.  No intervalo converso  com ele.  Ama  nossa música. Conhece muito mais  que  eu  sobre nossos compositores.  Fã de  Jobim.


 


Na  próxima  semana continuo o relato…


 


*Iran Caetano é médico e Secretário Estadual do formação e Propaganda do PCdoB-ES.