Gilmar de Carvalho fala sobre novo livro de Oswald Barroso
O pesquisador e professor Gilmar de Carvalho fala sobre o livro Dormir, Talvez Sonhar, de Oswald Barroso, que será lançado neste domingo, dia 17,as 17 horas, no Theatro José de Alencar.
Publicado 16/02/2008 15:48 | Editado 04/03/2020 16:36
“Dormir, Talvez Sonhar ” é um texto sobre a condição humana. Escrito para teatro, em versos que lembram o cordel, trata da paixão de presos políticos nos porões das torturas, debatendo-se entre a vida e a morte. Retrata o conflito de seres em procura de uma saída possível para uma situação insustentável, quando a loucura se mostra a única alternativa viável para a sobrevivência. Num ambiente de violência e sordidez, criaturas humanas refletem sobre suas grandezas e fragilidades, revelando-se capazes de atitudes que vão do mais generoso heroísmo à mais extrema covardia.
Oswald Barroso vale por si, tem luz própria. Tem sido essa presença constante na morrinha de nossa cena cultural. Faz poesia, teatro, etnografia e política, no sentido amplo da palavra. Agora vem com peça nova, que ecoa, na maturidade, “O Reino da Luminura ou a Maldição da Besta Fera”, publicada e encenada como folheto de feira, nos anos 70.
“Dormir, talvez sonhar” traz do cordel a agilidade da fala que não se deixa represar. E do sertão traz reisados, cantigas tradicionais e a sagacidade do ciclo do “diabo logrado”.
Não quero contar como essa história termina, mas elogiar como ela se tece.
Oswald vai buscar nos porões da memória seu ponto de partida.
“Dormir, talvez sonhar” passeia pelas modalidades do repente e tem a severidade de um auto cabralino. Tem a secura sertaneja e incorpora a dimensão do sonho. É denúncia do que não deve ser esquecido, mas mostra a capacidade da superação que ele (e todo o povo brasileiro) teve durante os anos de chumbo. Nunca perder a ternura, mas contar, em voz alta, como farsa o que antes foi tragédia. É instigante antever as possibilidades da montagem e torcer para que ela se dê logo. Não é esse o destino das peças?!