Fidel Castro: “mudança! Mas nos Estados Unidos”
“Estou de acordo, mudança! Mas nos Estados Unidos. Cuba mudou faz tempo e seguirá seu rumo dialético. Nosso povo exclama, Não voltará jamais ao passado!”, destaca o líder da Revolução cubana em um artigo divulgado no sábado (23), intitulado “O que escrevi
Publicado 24/02/2008 17:11
“Martí, rompendo o segredo de sua luta silenciosa, denunciou o império voraz e expansionista já descoberto e descrito por sua genial inteligência, mais de um século após a declaração revolucionária da independência das 13 colônias”, afirma.
Acrescenta que a anexação aos Estados Unidos é o que no fundo pensa o adversário quando fala de mudança em Cuba.
Leia abaixo na íntegra:
Reflexões do companheiro Fidel
O que escrevi na terça-feira 19
Nessa terça-feira não teve notícia internacional fresca. Minha modesta mensagem ao povo, na segunda-feira 18 de fevereiro, não teve dificuldade para ser divulgada com amplitude. Desde as 11 da manhã comecei a receber notícias concretas. Na noite anterior tinha dormido como nunca. Tinha a consciência tranqüila e tinha prometido-me umas férias. Os dias de tensão, esperando a proximidade do 24 de fevereiro, deixaram-me exausto.
Não direi hoje uma palavra de pessoas íntimas em Cuba e no mundo que de mil formas diferentes expressaram suas emoções. Recebi igualmente um elevado número de opiniões recolhidas na rua com métodos confiáveis, as quais quase sem exceção, e de forma espontânea, verteram seus mais profundos sentimentos de solidariedade. Em algum dia abordarei o tema.
Neste instante dedico-me ao adversário. Desfrutei observando a posição embaraçosa de todos os candidatos a Presidente dos Estados Unidos. Viram-se obrigados um por um a proclamar suas imediatas exigências a Cuba para não arriscar um só eleitor. Nem que eu fosse Prêmio Pulitzer os interrogando na CNN sobre os mais delicados assuntos políticos e inclusive pessoais, de Las Vegas, onde reina a lógica da casualidade das roletas de jogo e onde há que assistir humildemente se alguém aspira a Presidente.
Meio século de bloqueio parecia-lhes pouco aos prediletos. Mudança, mudança, mudança!, gritavam em uníssono.
Estou de acordo, mudança!, mas nos Estados Unidos. Cuba mudou há tempo e seguirá seu rumo dialético. Não regressar jamais ao passado!, exclama nosso povo.
Anexação, anexação, anexação, responde o adversário; é o que no fundo pensa quando fala de mudança.
Martí, rompendo o segredo de sua luta silenciosa, denunciou o império voraz e expansionista já descoberto e descrito por sua genial inteligência, mais de um século após a declaração revolucionária de independência das 13 colônias.
Não é o mesmo o fim de uma etapa que o início do fim de um sistema insustentável.
De imediato as minguadas potências européias aliadas a esse sistema proclamam as mesmas exigências. A seu julgamento tinha chegado a hora de dançar com a música da democracia e da liberdade que, desde os tempos de Torquemada, jamais realmente conheceram. A colonização e a neocolonização de continentes inteiros, de onde extraem energia, matéria-prima e mão-de-obra baratas, os desqualificam moralmente.
Um ilustríssimo personagem espanhol, outrora ministro da Cultura e impecável socialista, hoje e há tempo porta-voz das armas e da guerra, é a síntese da ilogicidade pura. Kosovo e a declaração unilateral de independência golpeia-os neste instante como impertinente pesadelo.
No Iraque e Afeganistão seguem morrendo homens de carne e osso com uniformes dos Estados Unidos e da OTAN. A lembrança da URSS, desintegrada em parte pela aventura intervencionista no segundo dos dois países, persegue aos europeus como uma sombra.
Bush pai postula McCain como seu candidato, enquanto Bush filho, num país da África —origem do homem ontem e continente mártir hoje— onde ninguém conhece o que faz ali, disse que minha mensagem era o início do caminho da liberdade de Cuba, isto é, a anexação decretada por seu governo em volumoso e enorme texto.
No dia anterior, pela televisão internacional, era mostrado um grupo de bombardeiros de última geração realizando manobras espetaculares, com garantia total de que bombas de qualquer tipo podem ser lançadas sem que os radares detectem as naves portadoras e nem seja considerado crime de guerra.
Um protesto de importantes países relacionava-se com a idéia imperial de aprovar uma arma, com o pretexto de evitar a possível queda sobre o território de outro país de um satélite espião, dos muitos artefatos que com fins militares os Estados Unidos colocou na órbita do planeta.
Pensava deixar de escrever uma reflexão pelo menos em 10 dias, mas não tinha direito a guardar silêncio por tanto tempo. Tem que abrir fogo ideológico sobre eles.
Escrevi isto às 3 e 35 da tarde de terça-feira. Ontem revisei-o e quinta-feira pela tarde o entregarei. Roguei encarecidamente que minhas reflexões sejam publicadas na página 2 ou qualquer outra de nossos jornais, nunca em primeiro plano, e fazer sínteses singelas nos demais meios se forem extensas.
Estou centrado agora no esforço por fazer constar meu voto unido em favor da Presidência da Assembléia Nacional e do novo Conselho de Estado, e como o fazer. Agradeço aos leitores por sua paciente espera.
Fidel Castro Ruz
Fevereiro 21 de 2008 6 e 34 p.m.
Fonte: Prensa Latina