Centenário de Patativa do Assaré – para lembrar o mestre
Em 5 de março de 1909, nascia Patativa do Assaré. Sua neta, Isabel Cristina, recorda o convívio com o avô, que completaria hoje 99 anos. Hoje é o marco oficial do início dos festejos do centenário do poeta.
Publicado 05/03/2008 10:33 | Editado 04/03/2020 16:36
Nos dias em que voltava da escola, a menina Isabel Cristina já sabia que tinha um encontro marcado com seu avô, ao chegar em casa. O poeta Patativa do Assaré solicitava à neta um dedo de prosa. Seja para perguntar sobre o desempenho escolar dela ou para pedir que a menina lesse uma poesia que admirava. ''Meu avô também adorava conversar e contar histórias, queria saber sobre minhas notas e sempre pedia para ler alguma coisa. Cheguei a ler quatro vezes para ele A Saga de Luiz Gonzaga'', lembra Isabel Cristina, agora com 32 anos, e coordenadora da Fundação Memorial Patativa do Assaré, que conserva documentos, objetos pessoais, pesquisas e outros materiais que fizeram parte da vida e da obra do poeta.
O compartilhamento de experiências com a família era apenas uma das facetas de Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, que completaria hoje 99 anos, se não tivesse partido em 8 de julho de 2002. Quem o conheceu de perto, guarda boas recordações. Isabel Cristina afirma que seu avô costumava dar conselhos aos netos. ''Ele pedia que a gente preservasse as amizades. Para ele, o que era mais importante era ser humilde e valorizar os amigos''. Isabel era tão próxima a Patativa, que o ajudava a datilografar correspondências e poesias, como as do livro Aqui Tem Coisa, lançado em 1994, na I Feira Brasileira do Livro de Fortaleza. ''Todas as cartas que chegavam, eu lia para ele, que tinha a preocupação de dar um retorno. Então, ele ditava o que queria responder e eu datilografava''.
Patativa nasceu no dia 5 de março de 1909, na Serra de Santana, situada a 18 quilômetros do município cearense de Assaré. Era o segundo filho dos agricultores Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Se a mãe ainda o acompanhou por longos anos, o pai faleceu quando o poeta ainda tinha oito anos de idade. É da figura paterna que Patativa reservou na memória a voz cantada. Dividia o trabalho na roça com brincadeiras nos galhos das árvores e ouvia histórias dos mais velhos.
Aos 16 anos, Patativa vende uma ovelha para comprar a primeira viola. Do seu cotidiano e do contato com a natureza, conseguia extrair a inspiração para seus versos. Aos poucos, conquistou Assaré, o Brasil e o mundo, com suas rimas e seu canto. Como todo bom avô, gostava de incentivar os filhos e os netos a perpetuar sua habilidade: a arte de fazer poesia. ''Ele adorava dizer que, se a gente tentasse, conseguia. Mas eu nunca tive esse dom. Mas tem uma neta dele, a Antônia Cidrão, que acabou se tornando poeta'', comenta Isabel.
Desde 1º de março, a Prefeitura Municipal de Assaré realiza a Semana Patativa do Assaré, que termina hoje. Nesta semana, uma equipe da Secretaria de Cultura do Estado irá visitar o município para fechar os últimos acertos da programação do centenário do poeta, que irá se estender até 5 de março de 2009. Um dos projetos definidos é a reforma do Memorial Patativa do Assaré, que necessita de reparos na sua estrutura física. A Secult estima investir R$ 215 mil para a recuperação do prédio. ''Só estamos aguardando o arquiteto responsável finalizar o projeto para começar a reforma o mais breve possível'', afirma Isabel.
O primeiro pontapé acena para o começo oficial dos festejos do centenário de Patativa, ao longo do ano. Para o radialista Jesus Leite, as homenagens apontam para a importância de Patativa como poeta que ''conseguiu alcançar todas as classes sociais''. ''A voz de Patativa era contra o desprezo, a indiferença e o preconceito. Suas poesias são ricas em metáforas e apresentam uma beleza que nos conforta. Ele buscava a igualdade social. A poesia de Patativa será lembrada por lutar contra a exploração do maior pelo menor''.
Fonte: O POVO