Globo faz de tudo para promover seu candidato
Nos últimos dias as organizações Globo vêm mostrando todo o seu desprezo por qualquer limite ético quando estão em jogo seus interesses políticos. Mais uma vez caí a máscara da suposta isenção jornalística. Em dez dias (do dia 2/3 até 12/3), o deputado
Publicado 14/03/2008 21:01 | Editado 04/03/2020 17:05
Nenhum outro candidato foi ouvido ou teve espaço sequer remotamente parecido. Esse comportamento panfletário da família Marinho, além de violar qualquer isonomia que um órgão alegadamente imparcial deveria ter, também pode estar ferindo a lei.
O que diz a lei
Como não alimentamos nenhuma ilusão sobre o caráter antidemocrático da rede de comunicação que apoiou a ditadura militar, vamos também analisar a questão sob o ponto de vista legal. A lei 9.504/97 estabelece que, em relação aos jornais, ''não caracterizará propaganda eleitoral a divulgação de opinião favorável, a candidato, a partido político ou a coligação pela imprensa escrita''.
Em relação ao rádio e à TV a lei estabelece que só a partir do dia 1º de julho será proibida a divulgação de opinião favorável ou contrária a candidato, partido político e coligação. É também a partir desta data que as rádios e TVs são proibidas de ''dar tratamento privilegiado a candidato, partido político ou coligação''. No entanto, a mesmo lei adverte, em relação aos jornais, que “os abusos e os excessos, assim como as demais formas de uso indevido do meio de comunicação, serão apurados e punidos''. O artigo 22 da lei complementar nº 64, diz: ''Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político (grifo nosso)''.
Mas o mais importante é a postura do TSE sobre propaganda eleitoral antecipada. Em matéria publicada no Jornal do Commercio, do dia 19 de fevereiro, o presidente do TRE-RJ, desembargador Roberto Wider, fez duras advertências sobre a ilegalidade da propaganda antecipada. Diz a matéria: “Para este ano, o TRE-RJ mudará a reação à chamada ''promoção pessoal'' – artifício que futuros candidatos usam para divulgar sua imagem junto a eleitores fora do prazo legal (…) Nessa categoria, estão cartazes de felicitações por datas como Natal e Carnaval, mensagens de suposta utilidade pública ou até mesmo apoio de terceiros ao potencial candidato''. O juiz responsável pela coordenação-geral da fiscalização e propaganda eleitoral no estado, Luiz Márcio, é claro: ''A Lei 9.504 diz que a data para início da propaganda é 6 de julho, antes disso, é irregular”. Ora, se é verdade que não é vedada a publicação de opinião favorável, é verdade também que a lei é clara ao proibir propaganda eleitoral, antes do dia 6 de julho, seja em panfleto, em cartaz, no rádio, jornal ou televisão. E não é outra coisa o que a Globo faz. Basta uma simples leitura dos textos publicados sobre o deputado federal do PV. No dia 07 O Globo colocou duas grandes fotos do seu candidato em páginas diferentes. Algumas matérias simplesmente repetem o que foi dito na matéria do dia anterior, apenas para voltar a falar do candidato da família Marinho. Na segunda-feira (10), publicam a manchete ''Otávio Leite desiste de disputa e apóia Gabeira'', e complementam: ''Tucano foi convencido por FH e Aécio''. No dia seguinte nada do que já não tenha sido informado: ''No Rio, PSDB e PPS decidem apoiar Gabeira e fazem hoje ato por aliança''. Mais uma vez somos informados de que o deputado Otávio Leite enviou carta ao diretório comunicando a desistência…..
Títulos como ''Gabeira vem aí'', ''Gabeira diz que vai conter favelização'', ''Candidato cita Brizola ao falar de educação'', mostram que o que a Globo faz não é jornalismo, é apologia, ou seja, propaganda. Isso para não falar do espaço exclusivo que o pré-candidato teve nos telejornais RJ TV NOITE, do dia 11 de março (http://rjtv.globo.com/Jornalismo/RJTV/0,,MUL347003-9099,00.html), e no BOM DIA RIO (http://rjtv.globo.com/Jornalismo/RJTV/0,,MUL347229-9101,00.html), do dia 12/03.
As razões da Globo
Diversas personalidades do mundo político e jornalistas especulam sobre os motivos da postura da Globo. Luiz Carlos Azenha, ex-repórter da emissora, e portanto conhecedor do ''modus operandi'' da empresa, acha que Globo e Gabeira já firmaram alguns compromissos: ''A Globo já tem candidato a prefeito no Rio de Janeiro: Fernando Gabeira. Não sei ainda exatamente quais os compromissos que o deputado federal do PV assumiu com a emissora. Conhecendo a Globo, sei que a empresa não é de embarcar em uma campanha eleitoral sem antes deixar bem claro quais são as vantagens políticas e econômicas que obterá''.
Já Leandro Mazzini, do Jornal do Brasil (Informe JB), disse em sua coluna, com o título ''O candidato da Globo'', que na verdade a emissora tenta conter o representante de sua principal concorrente pela audiência: ''A direção da TV Globo do Rio recebeu do Ibope números quentes que provam a ascensão desenfreada de Marcelo Crivella na disputa pela prefeitura. O Senador é ligado à Igreja Universal e à Rede Record. A cúpula da Rede Globo decidiu investir na candidatura de Fernando Gabeira pela frente PV-PPS-PSDB''.
Já Cesar Maia (DEM), que se vê de uma hora para outra abandonado por sua antiga e fiel aliada, faz um lamento patético em seu ex-blog, apelando para uma fantasiosa imparcialidade da Globo em eleições anteriores: ''A TV Globo inaugurou eleições atrás, um procedimento típico da BBC do Reino Unido. A partir de 5 de julho os candidatos tinham um tempo exatamente igual para responder diariamente às perguntas. Mas ontem o RJ-TV resolveu mudar o estilo e dar um tempo para um pré-candidato expor até programa de governo. Os demais ficaram com a lei do ministro Armando Falcão do período autoritário: fotos e nada mais. Começou muito mal a TV Globo a cobertura da campanha de 2008. Todos esperam que volte a fazer a cobertura 'BBCniana' de outras eleições. Isso não ajuda a democracia nem a imagem da emissora''.
É proibido falar de Jandira
Se com o senador Marcelo Crivella o que parece predominar, em relação à Globo, são as contradições comerciais, com Jandira Feghali, candidata da esquerda mais bem situada nas pesquisas, o que prevalece é mesmo a contradição ideológica. Parece haver uma regra nas redações da família Marinho: é proibido falar de Jandira. Isso ficou claro no dia 12, quando o jornal O Globo noticiou a entrega pela Câmara dos Deputados do Diploma Mulher Cidadã Bertha Lutz. O jornalão, que na mesma edição seguia sua rotina de exaltar seu candidato, abordou a entrega do prêmio cometendo um ''erro'' de deixar envergonhado jornal de laboratório de estudantes de jornalismo: omitiu o nome das homenageadas. É claro! Uma das homenageadas era Jandira Feghali.
*Jornalistas