Homenagem a Conselheiro

Nas escolas, emissoras de rádio e espaços culturais de sua terra natal, Quixeramobim, o beato revolucionário, apontado por estudiosos como mártir da mais sangrenta passagem da história brasileira, o massacre das tropas da República no sertão da Bahia, será homenageado com debates, palestras, vídeos e apresentações culturais promovidas simultaneamente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Natural de Quixeramobim (Iphanaq) e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.

 

 

O Iphanaq celebra o aniversário de Antônio Conselheiro destacando a importância do acesso à água para a população do semi-árido. O presidente do Instituto, professor Neto Camorim, explica que esse é o propósito do “Conselheiro Vivo”. O grupo retoma o evento numa perspectiva mais ampla desde que passou a comemorar a data, em 1996. Propõe-se em discutir a vida de Conselheiro, ligando-a aos povos do Sertão, pensando questões importantes, como a transposição do Rio São Francisco. “O objetivo é relacionar o tema das águas com o líder de Canudos, considerando a trajetória histórica no semi-árido e o atual contexto que aponta para o futuro da população”, explica Camorim.

 

 

Conforme o diretor administrativo do Instituto, professor Ailton Brasil, as ações da ONG, fundada em 2005, se constituem como movimento social na área da cultura, atuando como frente fiscalizadora e propositiva. Nesse sentido, pensam a cultura para além dos eventos, destacando o interesse no registro e produção de bens culturais no campo da memória que sirvam de pesquisa histórica. Atuam no campo do planejamento urbano. Passaram a integrar recentemente o Fórum Estadual de Planejamento Urbano. Também iniciaram trabalho de pesquisa para execução do Projeto Cinemavida, com exibição de filmes em que os expectadores debatem sobre a própria realidade.

 

 

O propósito do Iphanaq se estende sertão adentro por meio de uma programação especial promovida pela Secretaria de Cultura de Quixeramobim. As atividades nas escolas da zona rural tiveram início há oito dias, com a exibição de vídeos sobre Antônio Conselheiro. A secretária Terezinha Oliveira avalia a iniciativa como uma alternativa de massificar o conhecimento sobre a trajetória do líder místico e carismático entre seus conterrâneos, objetivando o reconhecimento de seu valor na história nacional. Ela ressalta que o ponto alto da comemoração na zona rural acontece hoje no distrito de Oiticica, a 40km do Centro da cidade, com o encontro de diversas comunidades.

 

 

Além da mobilização nas vilas rurais, encerradas com celebrações eucarísticas, centenas de jovens assistem vídeos no teatro do Memorial dedicado a Conselheiro, no Centro de Quixeramobim. Mas hoje, ao meio-dia, a atenção de todos estará voltada para “Conselheiro e a solidariedade dos povos do São Francisco”. O tema será abordado nas emissoras de rádio da cidade com a participação de Regina Dias, agrônoma da Frente Cearense “Por uma outra cultura das águas”, e Frederico Castro Neves, doutor em História Social pela UFC. As discussões se estendem ao Liceu e Colégio Assis Bezerra. Poesias e música na ponte metálica fecham a agenda.

 

 

Encerramento

 

 

Mas o encerramento oficial da Semana do Conselheiro ocorre amanhã. O professor e doutor em História Altemar Muniz, coordenador do Curso de História da Faculdade de Educação Ciências e Letras do Sertão Central (Feclesc), e o professor Manoel Carlos ministram palestra sobre a saga vivida pelo líder e sua importância histórica. O encontro é às 20 horas, no auditório do Memorial Antônio Conselheiro.

 

 

Líder ficou famoso por suas pregações

 

 

Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu na Vila do Campo Maior, hoje Quixeramobim, aos 13 de março de 1830. Anos mais tarde, flagrou sua atraente esposa, Brasilina Laurentina de Lima, filha de um tio, em traição conjugal com um sargento de polícia em sua residência, na Vila do Ipu Grande, onde havia passado a morar após o casamento. E, envergonhado e abatido, seguiu para os sertões do Cariri, onde iniciou sua vida de peregrinação pelo Nordeste.

 

 

Posteriormente, nos idos de 1876, já famoso por suas pregações religiosas, idolatrado como homem santo, é preso nos sertões da Bahia. Sua ação evangelizadora revoltava o clero e os donos de fazendas, que não viam com bons olhos tantos desocupados e penitentes a seguí-lo pelos sertões. É solto e continua a liderar a marcha de peregrinos flagelados que ganha mais adeptos no ano seguinte, com uma das mais calamitosas secas da história do Nordeste brasileiro.

 

 

Em 1893, o Conselheiro, como passou a ser reconhecido por seus seguidores, decide se fixar numa fazenda abandonada, Belo Monte, no sertão da Bahia. Passou a receber as vítimas da seca de braços abertos. Havia comida e água para todos. Trabalhavam unidos pela manutenção do acampamento que historicamente recebeu o título de Arraial de Canudos. Três anos depois, os seguidores de Antônio Conselheiro travam batalha com uma expedição militar, vencendo a luta.

 

 

No ano seguinte, 1897, as investidas das tropas militares contra os Conselheiristas persistiram. Derrotados novamente pelo beato e seus leais guerreiros santos, uma quarta expedição retornou a Canudos. Dessa vez o exército da República fez um cerco implacável e não poupou nem os que se rendiam. Conselheiro foi ferido por estilhaços de granada. Aos 22 de outubro de 1897 morria o herói dos flagelados da seca. Canudos foi totalmente destruído. Seus seguidores dizimados. Hoje, o campo sagrado está debaixo d´água. Foi inundado pelo Açude de Cocorobó.

 

 

Mais informações:
Instituto do Patrimônio Histórico e Natural de Quixeramobim – Iphanaq – (88) 3441.3002
Secult – Quixeramobim
(88) 3444. 4522