CPI flagra irregularidades no cemitério de Taguatinga
O que seria apenas a primeira visita ‘in loco’ dos deputados membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cemitérios virou caso de polícia na manhã desta quarta-feira.
Publicado 03/04/2008 14:01 | Editado 04/03/2020 16:42
Os distritais encontraram uma série de irregularidades no cemitério de Taguatinga, como túmulos quebrados e pichados, e até um suposto forno clandestino, onde foram localizados restos de caixões queimados. Ao flagrarem as ilegalidades, os parlamentares pediram a presença da polícia.
O delegado de plantão da 17ª DP (Taguatinga), Fábio Rodrigues, isolou a área para que o Instituto de Criminalística fizesse a perícia no local. O que mais chamou atenção foram as manilhas localizadas em um dos cantos do cemitério, onde são depositados de forma irregular lixo e entulho, que depois são incinerados. O gerente da unidade, Hamilton Xavier, disse desconhecer que os caixões são jogados no local. Segundo ele, todas as urnas removidas do cemitério são levadas de caminhão para o Jardim Metropolitano, em Valparaíso.
Irregularidades
O delegado disse que há indícios de violação de sepultura, o que configura crime. O presidente da CPI, deputado Rogério Ulysses (PSB), considera grave as denúncias recebidas na Câmara. Entre elas, a de que a administração do cemitério estaria retirando ossos de túmulos para reutilizar as covas.“Notamos irregularidades, que se comprovadas, podem se tornar ilegalidades”, alertou Ulysses.
A distrital Érika Kokay (PT) ficou indignada com o estado de abandono do cemitério. Há túmulos violados, outros sem identificação, calçadas mal conservadas e muito mato, além de cupins e lodo. A parlamentar confirmou que existe a suspeita de que ossos são depositados em covas desativadas. “Se isso for confirmado, vamos pedir para o contrato ser suspenso imediatamente”, avisou a deputada, se referindo ao acordo mantido entre o Governo do Distrito Federal e a Campo da Esperança LTDA., concessionária que administra os seis cemitérios do DF.
Já o deputado José Antônio Reguffe (PDT) considera extremamente grave a denúncia de que há queima de caixões no local. Ele, porém, pede cautela. “A responsabilidade pública não permite acusação antes de qualquer comprovação”, ponderou. Os três deputados aguardarão a conclusão da perícia, que pode levar até 30 dias, para saber se serão encontradas ossadas dentro do suposto forno clandestino.
Segurança
Como os próprios agentes da Polícia Civil confirmam, a 17ª DP recebe constantemente denúncias de furto peças dos túmulos do cemitério de Taguatinga. O gerente Hamilton Xavier avisa que só há dois seguranças por turno no local. O furto de objetos também acontece com freqüência no cemitério Campo da Esperança, no Plano Piloto. O delegado Fábio Rodrigues lembra que quando trabalhava na 1ª DP (Asa Sul) chegou a registrar, em um mesmo dia, oito ocorrências de roubo de crucifixos de bronze.
Preços elevados
Levantamento feito pelo gabinete do deputado Reguffe constatou que para se enterrar um familiar no DF são gastos, no mínimo, R$ 1.368, entre despesas com funerária e o pagamento pelo arrendamento de um espaço para sepultamento . O cemitério de Taguatinga realiza mensalmente uma média de 250 a 300 sepultamentos. No local, cerca de 100 mil corpos já foram enterrados.
Ao final da visita, os três deputados que estiveram no cemitério adiantaram que pretendem visitar o quanto antes os demais cemitérios do DF. A idéia, segundo Rogério Ulysses é evitar uma possível “maquiagem” nos locais. “O valor (recebido pela concessionária dos cemitérios) é alto e a empresa não está cumprindo com suas responsabilidades de manutenção, limpeza e segurança”, afirma o parlamentar.
A CPI dos Cemitérios, que se reuniu pela primeira vez na última quarta-feira (26), pretende trabalhar inicialmente com três linhas de investigação: o sumiço de ossadas, os elevados preços praticados pela Campo da Esperança Ltda. e a legalidade do processo de licitação que definiu a escolha da empresa para administrar os cemitérios do DF.
Campo da Esperança
Por meio de nota divulgada à imprensa, a Campo da Esperança Ltda. destaca que está à disposição dos parlamentares para prestar esclarecimentos que considerem necessários. Quanto a possível queima de caixões dentro do cemitério de Taguatinga, a concessionária destaca esclarece que “a empresa não autoriza a queima de materiais no cemitério” e, ainda, que não autoriza a queima de materiais no local.
Outra queixa dos deputados é de que a parte antiga do cemitério está abandonada. Na defesa, a empresa justifica que a manutenção da área antiga é feita com a mesma freqüência da nova. “A Campo da Esperança é responsável pela manutenção da área comum, ou seja, a área entre os túmulos. Os acessórios e o revestimento individuais são de propriedade e responsabilidade da família que construiu a sepultura. A empresa não pode realizar alterações nesses túmulos, sob pena de o ato ser considerado vandalismo”.
Fonte: Correioweb