Saúde Itinerante
Grupo de médicos no Acre revoluciona os conceitos da saúde e dá lições de solidariedade no meio da floresta amazônica.
Publicado 07/04/2008 12:47 | Editado 04/03/2020 16:10
Um grupo de profissionais da saúde no Acre vem quebrando o velho conceito de classe elitizada e dá uma lição de solidariedade e respeito com a vida humana. Eles são médicos, enfermeiros, técnicos e assistentes sociais, que saem do conforto de seus consultórios na cidade e enfrentam a chuva, a lama, as densas matas e os perigos das curvas dos rios para levar atendimento às comunidades que vivem isoladas no meio da floresta amazônica. Eles vão a lugares onde, na maioria das vezes, o acesso só é possível de barco ou de avião.
Na bagagem esses profissionais não levam apenas os apetrechos de trabalho e os medicamentos que são distribuídos entre os pacientes, mas também a determinação, o carinho e a esperança que são partilhados com cada um em cada consulta. A equipe faz parte do Programa Saúde Itinerante, mantido há oito anos pela Secretaria de Estado de Saúde com recursos do Ministério da Saúde. A idéia de levar atendimento médico à população que vive em locais isolados no Estado foi criada pelo senador Tião Viana, que também é médico infectologista e fez parte das primeiras missões no interior do Acre. O programa se tornou uma referência para outros Estados brasileiros que usam o modelo em suas políticas de inclusão social.
Conheça agora a história dos homens e mulheres dessa equipe. Saiba o que fazem e o que pensam a respeito da valorização da vida. Descubra o que muda no seu dia-a-dia a partir do contato com as pessoas simples das colônias e seringais. As narrações a seguir são registros da viagem realizada na última semana de março à Reserva Extrativista Cazumbá Iracema, no interior do município de Sena Madureira, distante 144 quilômetros de Rio Branco, capital do Acre.
Primeiro atendimento
Para chegar ao Cazumbá só foi possível depois de seis horas de batelão subindo o Rio Caeté. Os médicos saíram de Rio Branco às 6h30 de sexta-feira, 28 de março. A chegada ao destino da equipe só aconteceu dez horas depois. As dificuldades com a chuva, a lama e caminhada na floresta até a sede da reserva não tiraram o ânimo de nenhum dos membros do grupo, que se deparou com a primeira emergência da missão logo no desembarque.
No barranco lamacento do Caeté, Dalzenir de Sá, 23, esperava o desembarque dos médicos com o filho Antônio Miranda da Silva, de nove meses, nos braços. O menino tinha a cabeça caída em seu colo e ardia em febre havia 24 horas. Acompanhada do marido, Vanderler Souza da Silva, e de dois outros filhos de cinco e quatro anos, ela foi amparada pelos profissionais até a sede da reserva, onde foram iniciados os primeiros procedimentos de socorro à criança.
Os pediatras constataram que se tratava de um caso grave. Além da febre alta, o pequeno Antônio apresentava tosse, cansaço e não conseguia mais mamar no peito. No primeiro momento os médicos confirmaram que o menino estava com broncopneumonia, anemia e desidratação. Depois de fazer a reposição rápida com soro e tomarem as medidas básicas para estabilizá-la, eles decidiram que ela seria levada o mais rápido possível para o hospital de Sena Madureira.
Enquanto os demais membros da equipe permaneceram na reserva montando os aparelhos que seriam usados no atendimento à comunidade na manhã seguinte, a incumbência de acompanhar a mãe e a criança até o hospital de Sena Madureira foi assumida pelo clínico-geral Raphael Lemos da Silva Araújo, 34. Ele retornou ainda coberto da lama da viagem da ida, já que não houvera tido tempo para descansar ou tomar banho.