Jana Sá: 36 Anos da Guerrilha do Araguaia

No momento em que o PCdoB completa 86 anos de trajetória na História da política nacional de luta democrática e passa a viver o tempo de uma nova luta pelo socialismo, na busca de maior afirmação partidária e ousadia política, faz-se necessário reconstrui

Nasci e cresci escutando a história de um homem movido pelo desejo de um mundo melhor, justo e sem exploração, pelo desejo da transformação social. Sonho que o conduziu à militância política, a partir de 1966, à luta armada (na Guerrilha do Araguaia, 1970-1975) e à morte (1990), num trágico acidente de carro, nas proximidades do município de Jaçanã, no Rio Grande do Norte. Talvez por isso, a história do meu pai, Glênio Sá, me fascine, pois acredito que a luta política se faz assim, com homens e ideais.



Mas, porquê depois de tanto tempo passada a ação, os seus agentes ainda não são conhecidos. Como explicar esta disritmia entre a informação dos seus atos, a opinião pública e a compreensão histórica. Porquê monopolizar o discurso oficial? Seria uma tentativa de apagar os vestígios que as classes populares e os opositores vão deixando ao longo de suas experiências de resistência e de luta?



Desvendemos, então, como a prática dos ‘vencidos’ participou desta construção. Demonstremos que muitos, como Glênio Sá, insurgiram-se contra a intolerância política que se abateu no país e pagaram um alto preço para que nós pudéssemos hoje desfrutar das liberdades políticas, sociais e individuais, embora a luta por democracia e liberdade seja uma jornada infinita. Aprofundemos o conhecimento da formação do nosso povo. Durante mais de 500 anos, a história oficial procurou obscurecer lutas, menosprezando-as como episódios sem significação que firmariam a passividade como conceito diante da tirania e da desigualdade.



Alguns desses acontecimentos, com o passar do tempo, parecem, até mesmo, estar condenados a assemelharem-se ao nome que se lhes dá. Tal é o caso da Guerrilha do Araguaia, cujo percurso é tão sinuoso quanto o do rio que lhe empresta o nome. Movimento guerrilheiro de contestação política ao Regime Militar, concebido, planejado, organizado e dirigido pelo Partido Comunista do Brasil, entre os nos de 1966 e 1975, no sul do Pará, a Guerrilha do Araguaia completou, no último dia 12, 36 anos, e é hoje evocada sempre que se trata de passar a limpo a história do país e iluminar os porões do Regime Militar.



Aqui, vale destacar a participação de Glênio Sá, o único norte-rio-grandense na guerrilha, estando entre os oito sobreviventes, dos 69 comunistas que participaram do movimento. Aqui, não cabe defini-lo ou adjetivá-lo, simplesmente porque sua história torna-o isento de qualquer atribuição. Contudo faz-se necessário registrar a sua coragem e a invejável confiança no futuro socialista do mundo.



Glênio Sá é o retrato do heroísmo do povo que, anonimamente, faz a história, sem pretensões e muitas vezes sem ter plena consciência de seu valor e da proeza de construir e mudar o mundo. Sua lembrança me traz a mente um velho lema revolucionário, que se referindo aqueles que morreram lutando por um mundo melhor diz: “não enterraram cadáveres, enterraram sementes”. Meu pai é uma dessas sementes, seu sacrifício não foi em vão, tem frutificado na mais esplêndidas das colheitas, a da consciência de milhões de brasileiros sobre a necessidade de somar-se à luta infinita pela democracia.



Jana Sá é jornalista.