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Bolívia: a nova batalha política que está por vir

Em uma jogada política que o retrata como o grande líder popular que é, Evo Morales decidiu ratificar a lei que convoca o referendo revogatório para os cargos de presidente, vice-presidente e governadores, a ser realizado em 10 de agosto. Com isso, abr

Com isso fica mais clara a disputa de forças no país andino e, por conseguinte, propicia o reagrupamento e galvanização dos majoritários destacamentos populares favoráveis ao processo de mudanças, que deverão tencionar todas as suas forças em busca de uma grande vitória política na consulta.



A lei, enviada pelo próprio Evo ao Congresso em dezembro de 2007, tentava canalizar pela via pacífica do voto a aguda e crescente confrontação povo-imperialismo/oligarquia que ameaçava degenerar em violência de grande magnitude. Foi rapidamente aprovada na Câmara dos Deputados, mas o Senado, com maioria opositora, a engavetou. Curiosamente, o mesmo órgão legislativo ressuscitou-a e aprovou-a na semana passada, horas depois do adverso resultado obtido pelo ilegal e manipulado referendo separatista de Santa Cruz.



Em virtude de uma lei eleitoral concebida para manter o domínio oigárquico, o Senado está tomado pelo Podemos, partido ultraneoliberal encabeçado por Jorge Tuto Quiroga, ligado ao ditador Hugo Bánzer, protagonista da entrega dos recursos da Bolívia e, logo, dos planos para derrotar Evo. Tuto foi cúmplice das demandas “autonômicas” de seus pares oligárquicos que lutam, na verdade, pela separação das zonas mais ricas do país. É muito difícil imaginar desse personagem uma ação como a de ressuscitar o referendo sem contar com a luz verde de Washington, por meio de seu embaixador Philip Goldberg, que, por grande casualidade, foi o ator principal do desmembramento da Iugoslávia.



O presidente e sua equipe, treinados na batalha contra o separatismo disfarçado de autonomia, haviam descartado o referendo como solução nesse momento, o que talvez levasse o imperialismo e a oligarquia a uma leitura errônea sobre a conveniência de trazê-lo novamente à tona. Não há dúvida, implica em um esforço adicional enorme para um governo que não descansou um instante para trabalhar para um povo no país mais pobre da América Latina.



Em pouco mais de dois anos e sob permanentes ataques, avançou no resgate do Estado dos recursos energéticos, das comunicações, da defesa da soberania nacional e popular, na educação, na saúde, no reconhecimento dos povos indígenas como atores políticos de primeira linha e bancou a nova Constituição, consagrando essas conquistas como direitos e elevado a Bolívia a uma referência de dignidade e autêntica democracia no mundo.



Mas na conjuntura atual, um referendo dessa espécie pode ser transformado em uma consulta sobre o rumo revolucionário do país, que fará crescer dentro e fora da Bolívia o apoio a Evo e ao processo de mudanças. Por outro lado, ao menos nesse momento, dividiu a oligarquia, pois os governadores separatistas temem ou dão por certo, em alguns casos, o rechaço dos eleitores. Por sua vez, poucos põem em dúvida a ratificação do presidente e seu vice em um terreno onde são insuperáveis.



Não é provável que o imperialismo tenha desistido da idéia separatista – somente a arquivou em sua escalada subversiva multidirecional.  Em todo caso, fica para Evo e seu povo outra grande batalha que necessitam vencer de modo incontestável.