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Rosângela Bittar: Bloco de Esquerda resiste ao assédio

Artigo intitulado “Resistência à política fácil” — da jornalista Rosângela Bittar, chefe da Redação em Brasília do jornal Vlor Econômico–, mostra como o PT está assediando de forma agressiva e pouco diplomática os partidos e lideranças do Bloco de Esque

Resistência à política fácil


por Rosângela Bittar*


Está sob ataque a unidade do bloco de partidos à esquerda que integram a aliança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – PCdoB, PDT e PSB -, além de largada à mercê de provas sua capacidade de levar adiante um projeto de afirmação concebido na forma de compromisso político e eleitoral dos três integrantes do chamado “bloquinho”(**). O agente deste risco é o PT, que nunca teve, na formação de alianças eleitorais, o seu forte. A forma aguda da dificuldade ocorre na formação de aliança para as eleições à prefeitura de São Paulo.


Há cerca de dois meses, ocorreu a primeira conversa do deputado Aldo Rebelo (PCdoB), com a ministra Marta Suplicy, já à época internamente no governo tratada como candidata do PT na disputa municipal. Numa reunião dos três partidos, o deputado Ciro Gomes, candidato a presidente da República pelo PSB, lembrou que o bloco não deveria descartar a possibilidade de ter o vice numa chapa com Marta. Logo após esta consideração, Aldo Rebelo teve uma conversa com ela sobre o que estava pensando a respeito da política de alianças para a eleição municipal.


Marta, à época, disse claramente que estava conversando com o PMDB, partido que, assegurou, indicaria seu vice. Mas gostaria de ter o apoio coadjuvante do bloco. Em novo encontro os partidos do bloquinho(**) decidiram que o melhor, neste caso, era ter candidato próprio. Um procedimento ficou acertado: haveria três pré-candidaturas – Aldo Rebelo, do PCdoB, Luiza Erundina, do PSB, e Paulo Pereira da Silva, do PDT. Em cada um desses pólos seriam fortalecidas as candidaturas para que, quando se juntassem, mais à frente, pudessem construir um compromisso em torno de um nome e um projeto consistentes. Do acerto participaram Aldo, Paulinho da Força Sindical e, pelo PSB, Márcio França, que comunicaram os termos às cúpulas partidárias.


Quando houve o fracasso da aliança com o PMDB, o PT concentrou seus esforços junto ao PR. E quando fracassou a investida no PR, voltou-se então o PT para o bloco. O partido fez um contato com Erundina, convidando-a a ser vice da Marta. A abordagem direta criou desconforto no PSB, que reafirmou seu compromisso com a candidatura própria. Depois, foi a vez de Aldo Rebelo ser procurado por emissário do PT, que lhe ofereceu também a vice. Recusou, mantendo-se fiel ao princípio acertado com os aliados. Ao mesmo tempo, outros interlocutores do PT cogitavam, em reunião com o PSB, a possibilidade de ser oferecido a Aldo Rebelo o Ministério da Previdência, que ficará vago com a saída de Luiz Marinho para se candidatar a prefeito. O candidato do PCdoB considerou o momento impróprio para considerar a proposta e manteve a decisão do bloco.


Com a candidatura própria sob intenso questionamento, o PCdoB e o PSB reafirmaram seu compromisso com o projeto, ficando o PDT, agora, sob a pressão mais intensa do PT. As informações que têm saído do PT, porém, segundo as quais a aliança entre Marta e o bloquinho(**) já está decidida, não encontram ainda respaldo na realidade. A candidatura a vice na chapa de Marta Suplicy passou a ser considerada, nas reuniões de vários dirigentes partidários do bloco, uma opção exótica, pois o próprio PT descartou a alternativa desde o início.


Em reuniões sucessivas de cúpula, nos últimos dias, o compromisso e as metas do bloco têm sido reafirmados. O PSB, o PCdoB e o PDT gostariam, obviamente, de ganhar a eleição, mas sabem de suas dificuldades numa campanha tão polarizada como a de São Paulo. Acreditam, porém, que o bloco só passará a ter existência política se disputar. Os partidos têm avaliado, e argumentado com o PT que, se renunciarem à candidatura, estarão renunciando à sua existência como projeto político. E discutem o que, no caso de um projeto como este, pode se definir como sucesso eleitoral.


Para estes partidos médios, o sucesso político, às vezes, pode ser construído pela exposição a sacrifícios. Disputar uma eleição sem estar à sombra de um grande partido, um aliado poderoso, é um desses desafios. O êxito imediato não é, para eles, o que vale agora. Segundo os princípios que vêm surgindo nas discussões, à medida em que o bloco resiste ao assédio, o que importa é acumular forças.


Não há prognósticos sobre até quando o PCdoB, o PSB e o PDT resistirão aos interesses do PT. Pelo projeto em formulação, porém, sabe-se que o bloco quer explorar a possibilidade de dizer, em São Paulo, o que pensa sobre a cidade. E não seria um discurso favorável a quem já a governou. Portanto, de oposição a todos os contendores.


*Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras no jornal Valor Econômico, onde este artigo foi originalmente publicado.


**Na reprodução do artigo acima, foi mantida a grafia do termo “bloquinho” para se referir ao Bloco de Esquerda, mas salientamos que o Vermelho e o próprio Bloco de Esquerda repudiam o uso do termo “bloquinho” por julgá-lo pejorativo.