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A. Sérgio Barroso: A questão nacional – tensões estratégicas

Em artigo pioneiro e carregado de signos ideológicos, Aldo Rebelo, alagoano, deputado federal por São Paulo (PCdoB), alertou: perigoso, o conflito entre arrozeiros, indígenas, ONGs, que se arrasta na reserva de Raposa do Sol, em Roraima, tem como pano

Sim, compartilham do litígio não só índios ditos “não-aculturados” e capitalistas predadores: protagonizam essa crise os pequenos agricultores, caboclos, pecuaristas, comerciantes e mesmo o Exército, impedido em sua obrigação constitucional de vigiar extensas faixas de fronteira com a Guiana e a Venezuela – não podem adentrar a reserva!



Escreveu Rebelo: “ocorre em Roraima a desavença que o dirigente chinês Mao Tsé-tung chamou de “contradições no seio do povo” (A nação é uma só, O Estado de S.Paulo, 10/4/2008). De fato, além de zona de fronteira, convergem as problemáticas ambiental, indígena, da modernização econômica e a própria defesa do território. Ora, a essência – e não a aparência – é que o índio macuxi é tão brasileiro quanto o colono gaúcho: “Eles integram uma só Nação diversificada”, arrematou ele.



Mas as coisas nada têm de assim tão claras. Recentemente, grupos políticos nefastos, tendências antropológicas arrivistas disfarçadas de defensores dos índios, insistem em pleitear “autonomia” deles em relação ao Estado; passou-se ao proselitismo da existência de “povos indígenas”, de “nações indígenas” e a exigir-se uma tal “autodeterminação indígena”. É como se as tribos fossem nacionalidades independentes em territórios emancipados – advertiu o ilustre viçosense Aldo.



Vamos um pouco mais adiante. Em primeiro lugar, é necessário que se preste bastante atenção no seguinte fenômeno: a chamada globalização neoliberal vem provocando crescente transpassar territorial e fronteiriço no sentido de mercado, terra e trabalho (imigrante legal ou ilegal, ou não) passarem a seguir os fluxos do capital e do emprego globais.



Em segundo lugar, há a estranha coincidência entre interesses alienígenas e os novos porta-vozes dos tais projetos “autonomistas”. Por exemplo: Alexei Barrionuevo, correspondente no Brasil do The New York Times, relembrou, logo após a demissão da ex-ministra Marina da Silva, do Meio Ambiente, a profissão de fé imperialista do ex-presidente dos EUA, Al Gore, de 1989 (“ao contrário do que pensam os brasileiros, a Amazônia não é deles, mas de todos nós”), sobre o saqueio da Amazônia.



Anteriormente foi a vez de influentes diários ingleses atacarem a idéia de nossa soberania sobre a região. The Guardian, por exemplo, saudou a decisão da Guiana privatizar suas florestas. Já o Daily Telegraph noticiou o projeto do ministro britânico do ambiente de apoiar a compra de terras na Amazônia. Após a demissão de Marina, veio o editorial do The Independent, acintosamente, sobre nossa soberania: “Mas isto não é um problema do país”; e mais adiante: “Essa parte do Brasil é importante demais para deixar aos brasileiros” (ver: Toda a mídia, Coluna de Nelson de Sá, Folha de S. Paulo, 19/5/2008).



Nesse quadro, note-se a seqüência: a) a ação bélica da Colômbia contra a guerrilha FARC, em violação do território equatoriano – e incursões na Venezuela; b) o forjar violento do referendo separatista (4/5/2008) pelo “Estatuto Autonômico”, em Santa Cruz, Bolívia, operado pela oligarquia subalterna aos EUA; c) anúncio da “4ª Frota” naval dos EUA para a América Latina, na antevéspera da perda de base militar de Manta (Equador); d) os EUA admitiram violação (espiã) do espaço aéreo venezuelano (Valor Econômico, 20/5/2008).



Cizânia, fragmentação, uma estratégia deles!



*Artigo para O Jornal (AL), a ser publicado em 21/5/2008